Há alguns anos tive um dos piores dias da minha vida; deixei minha terra natal ao lado de minha mãe em busca de algo incerto; e deu errado.

Meu chão desabou naquele dia e apesar dos esforços sobre-humanos, nunca consegui me livrar da frustração que aquele episódio me trouxe. Passei anos remoendo a dor e sendo escrava de uma existência sem sentido, sempre procurando culpados pela minha própria miséria. E assim como eu, milhares de pessoas ao redor do mundo nesse exato momento estão perdidas de si mesmas tentando desesperadamente encontrar um propósito para viver e um culpado pelas suas dores.

Às vezes parece tão simples olhar para o outro, apontar seus defeitos e problemas e dar uma solução mágica para todos eles; é fácil dizer o que o outro tem de feio, ruim e imperfeito; é fácil mostrar ao outro o melhor caminho a seguir, a melhor atitude a tomar e o melhor desfecho para os seus problemas. De conselheiros o mundo está cheio e todos nós, em algum momento, nos orgulhamos de termos os melhores conselhos e soluções e ainda nos sentimos grandes psicólogos por sentar e ouvir o que o amigo tem a dizer.

Mas e quando, de repente, a vida prega uma peça e tudo aquilo que você sabia a seu próprio respeito cai por terra da maneira mais avassaladora possível, e você passa a ver claramente que todos aqueles defeitos que apontava no outro são na verdade aqueles que você abomina em você mesmo? E aí, como lidar com a dor de despertar a autoconsciência?

Sempre li que autoconhecimento é fundamental e que amor próprio é o ingrediente essencial de uma vida feliz, mas nunca parei para prestar atenção em mim mesma e perceber que até então eu havia construído ao meu redor um castelo de ilusões a meu próprio respeito e acreditado nele como se fosse uma princesa de desenho animado vivendo o seu final não tão feliz, até que a vida resolveu me dar pancadas atrás de pancadas para que eu pudesse perceber que tudo aquilo era o que eu queria ser, e não o que eu realmente era.

Doeu, não nego, assim como já doeu em muita gente e ainda vai doer para mais um tanto, porém quando olho para trás não consigo entender como consegui passar tanto tempo naquele castelo frágil sem ser derrubada pelas minhas falsas crenças. Na verdade, fui derrubada muitas vezes, mas sempre foi mais fácil culpar aqueles ao meu redor pela minha queda a culpar a mim mesma, a única responsável pela minha vida e sentimentos.

Pessoas vêm e vão, algumas demoram mais, outras passam correndo, entretanto sempre vai haver alguém que vai te machucar, te fazer sangrar e chorar, assim como sempre vai haver alguém que vai aparecer do nada para secar as suas lágrimas e te carregar no colo até que você seja capaz de caminhar sozinho novamente.

Aqueles a quem atribuímos nossas dores e decepções serão a forma de nos obrigar a olhar para dentro de nós mesmos e aceitar que também erramos, somos cheios de defeitos e machucamos os outros; e aqueles que caminham ao nosso lado, dando seu amor, carinho e tempo vão ser sempre a forma que a vida tem de nos lembrar que mesmo diante das maiores dificuldades, sempre haverá um resquício de luz no céu escuro. Cabe a nós apenas abrir nossos corações e aceitar, da maneira que for, essas lições e sair de cada luta mais fortes e determinados.








Brasileira de nascimento, japonesa de antepassados e criação. Descobri que escrever é um pedaço da minha alma assim que fui alfabetizada. Nasci para cuidar de almas feridas e dividir os pesos da vida com aqueles que me encontram no meio do caminho. Entre idas, vindas, um amor e uma canção, cartas são escritas e espalhadas por aí como sementes para florescer.Nas redes sociais: @carolmisokane