Em 1990, os psicólogos Peter Salovey e John Mayer escreveram um artigo pioneiro sobre inteligência emocional (IE), definindo isto como “o subconjunto de inteligência social que envolve a capacidade de monitorar sentimentos e emoções pessoais e dos outros, discriminar entre eles, e usar essa informação para guiar pensamentos e ações”.
Mais tarde, ainda na década de 90, Daniel Goleman, escritor e psicólogo de Harvard, popularizou o conceito de inteligência emocional por meio de uma série de livros sobre o tema.
Desde então, as pesquisas sobre inteligência emocional avançaram muito, e o termo se tornou onipresente em todo o mundo.
Inteligência emocional refere-se à excepcional habilidade humana de utilizar conhecimentos sobre sentimentos e emoções para administrar relações sociais, em um âmbito externo, e intrínsecas, a nível pessoal. Está relacionada, entre outros aspectos, à empatia, conscientização, flexibilidade, construção de relacionamentos, influência, motivação e ao autoconhecimento.
Em geral, uma pessoa é inteligente emocionalmente se consegue traduzir em comportamentos claros aquilo que vê, ouve e sente. Há variados níveis de inteligência emocional, assim como existem diferentes tipos de inteligência (como propôs o psicólogo Howard Gardner).
Embora seja bom e mesmo necessário ter consciência emocional, a menos que isso se traduza em comportamentos, é bastante inútil. Indivíduos emocionalmente inteligentes estão preparados para transformar pensamento consciente em ação.
Apesar de algumas pessoas serem naturalmente melhores em determinados comportamentos emocionais do que outras, algumas pesquisas demonstram claramente que competências comportamentais relacionadas à inteligência emocional podem ser aprendidas por qualquer um.
“Plasticidade” é o termo que neurologistas usam para descrever a capacidade do cérebro de mudar. Nosso cérebro aprende e faz novas conexões na medida em que aprendemos novas habilidades, como aquelas relacionadas à inteligência emocional.
Não há dúvidas de que a inteligência emocional é crucial para alguém ser bem-sucedido na vida. Em seu livro Inteligência Emocional: A Teoria Revolucionária Que Redefine o Que é Ser Inteligente, Daniel Goleman prova que a consciência das emoções é fator essencial para o desenvolvimento da inteligência do indivíduo.
Partindo de exemplos e casos cotidianos, o autor mostra como a incapacidade de lidar com as próprias emoções – e negligenciar as emoções dos outros – pode minar a experiência escolar, acabar com carreiras promissoras e destruir vidas.
Segundo Goleman, a vitória e o fracasso não são determinados por algum tipo de loteria genética: muitos dos circuitos cerebrais humanos são maleáveis e podem ser trabalhados. Portanto, temperamento não é destino.
No livro, Goleman associa o modelo de inteligência emocional com os testes de QI. De acordo com ele, o modelo de testes de QI é ultrapassado, e o futuro está melhor reservado para aqueles que sabem compreender integralmente suas emoções, bem como as dos outros.
“A inteligência emocional prevalece sobre o QI apenas naquelas áreas tenras nas quais o intelecto é relativamente menos relevante para o sucesso. Autocontrole emocional e empatia podem ser habilidades mais valiosas do que aptidões meramente cognitivas.”
Goleman lembra que a pontuação de QI prognostica muito bem se alguém pode arcar com os desafios cognitivos que uma determinada posição social ou profissional nos oferece, mas o QI cai por terra quando a questão é identificar quem, em meio a um grupo de pessoas talentosas e candidatas a uma profissão intelectualmente exigente, será o líder, por exemplo. O autor afirma:
“Os líderes eficazes são emocionalmente inteligentes. Eles podem monitorar seus humores através de autoconsciência, mudá-las para melhor através da autogestão, compreender o seu impacto através da empatia, e agir de forma que aumentam o humor dos outros, através de gestão do relacionamento.”
Em uma reunião escolar da qual Goleman participou, ele descobriu que o homem mais bem-sucedido – tendo sido considerado por todos dessa forma – não foi o aluno mais inteligente ou o mais trabalhador da escola, mas aquele que sabia como fazer os outros se sentirem mais relaxados e confortáveis perto dele.
Em casa, pode-se perceber isso, quando os relacionamentos harmoniosos são alimentados principalmente por quem busca fazer os outros membros da família ficarem à vontade e felizes. No local de trabalho, também é possível notar esse fenômeno: nem sempre os melhores trabalhadores recebem aumentos e promoções, mas os profissionais com as melhores habilidades sociais e políticas.
Uma outra área em que a inteligência emocional se aplica é o amor romântico e relacionamentos pessoais. Pessoas inteligentes podem fazer coisas muito idiotas, mesmo que estejam cientes da estupidez de seu comportamento em relação à pessoa que amam. Mas elas pouco se importam com isso.
Além de estar associada ao sucesso profissional e relacionamentos afetivos, a inteligência emocional é um fator imprescindível à saúde. A falta de controle de sentimentos destrutivos, principalmente, parece ser um forte indicador de doenças mentais e problemas psicológicos. Aqueles que conseguem gerenciar suas vidas emocionais com mais serenidade e autoconsciência, afirma Goleman, parecem ter uma vantagem clara e considerável na saúde.
Pessoas que não conseguem controlar suas emoções ou então não compreendem a variação de seus estados emocionais podem se ver seriamente debilitadas dentro das esferas de convivência humana.
Porque a inteligência emocional é tão importante para relacionamentos interpessoais, bom desempenho escolar e profissional, desenvolver essas habilidades se torna um diferencial valioso.
Em Ética a Nicômaco, Aristóteles escreveu sobre virtude, caráter e justiça, e discutiu, também, a nossa capacidade de equilibrar razão e emoção. Nossas paixões, quando bem exercidas, têm sabedoria e nos impelem à ação, além de orientarem nosso pensamento, valores e sobrevivência. Mas nossas paixões podem nos fazer cair no erro, e sabemos que o fazem com demasiada frequência.
Como sugeriu Aristóteles, o problema não está na emocionalidade, mas na adequação da emoção e sua manifestação.
“Qualquer um pode zangar-se, isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo, e da maneira certa, não é fácil.”
Bem, a inteligência emocional é um conceito maduro, mas ainda em evolução. Como observou o filósofo Thomas Kuhn, “todo modelo teórico relevante deve ser progressivamente revisado e aperfeiçoado na medida em que suas premissas passam por testes mais rigorosos”.
Basicamente, inteligência emocional é algo mais intangível do que possa ser medido quantitativamente, como o QI, por exemplo. Ela afeta a forma como gerimos o comportamento, navegamos em complexidades sociais, e tomamos decisões em busca de resultados.
É muito difícil imaginar uma pessoa que esteja totalmente apta ou disposta a pensar e agir conforme todos esses 18 atributos comportamentais a seguir, mas a inteligência emocional é uma virtude que não se pode subestimar.
Em artigo escrito para as revistas Time e Inc., o autor Travis Bradberry, outro especialista em inteligência emocional e autor de livros sobre o assunto, listou 18 comportamentos essenciais das pessoas emocionalmente inteligentes:
Segundo Bradberry, todas as pessoas experimentam emoções, mas poucas conseguem identificá-las com precisão à medida em que ocorrem. Pesquisas mostram que apenas 36% das pessoas podem fazer isso, o que é problemático, porque emoções são muitas vezes mal compreendidas, o que leva a ações irracionais e escolhas contraproducentes.
Pessoas com alto nível de inteligência emocional dominam suas emoções, porque elas entendem-nas, e usam um extenso vocabulário de sentimentos para fazê-lo. Embora muitas pessoas possam descrever como sentindo-se “bem” ou “mal”, as pessoas emocionalmente inteligentes podem identificar se elas se sentem irritadas, frustradas, oprimidas, ou ansiosas, por exemplo. Quanto mais específica for a escolha das palavras, melhor a visão que se tem sobre os sentimentos, o que os causaram, e o que se deve fazer em relação a isso.
Não importa se são introvertidas, extrovertidas ou ambivertidas, as pessoas emocionalmente inteligentes são curiosas sobre todos ao seu redor. Essa curiosidade é produto da empatia, um dos determinantes mais significativos da inteligência emocional. Quanto mais alguém se preocupa com outras pessoas e com o que estão passando, afirma Bradberry, mais curiosidade haverá sobre elas.
Bradberry afirma que as pessoas emocionalmente inteligentes são flexíveis e estão em constante adaptação. Elas sabem que o medo da mudança é paralisante, e uma grave ameaça para a felicidade e o sucesso. Essas pessoas enxergam as mudanças à espreita no virar de uma esquina, e formam um plano de ação para lidar com elas.
Bradberry diz que as pessoas emocionalmente inteligentes não apenas compreendem as emoções; elas sabem o que é bom ou ruim em sua essência. Elas também sabem estimular pessoas que lhes ajudem a chegar ao sucesso. Ter um alto nível de inteligência emocional significa conhecer pontos fortes e usá-los para um pleno aproveitamento, mantendo os pontos fracos longe de serem exploráveis pelos outros.
Como indica Bradberry, grande parte da inteligência emocional se resume à consciência social: a capacidade de ler as outras pessoas, saber o que estão prestes a fazer ou o que estão sentindo. Com o tempo, essa habilidade faz das pessoas emocionalmente inteligentes excelentes juízas de caráter, pois poucos lhes serão um mistério a desvendar. Essas pessoas entendem o que está em causa e compreendem as motivações alheias, mesmo aquelas que estão sob a superfície.
Pessoas emocionalmente inteligentes são autoconfiantes e de mente aberta, o que cria uma boa resistência à ofensa. De acordo com Bradberry, mesmo que alguém faça piadas ou zombe delas, essas pessoas são capazes de desenhar mentalmente a linha entre humor e degradação.
Inteligência emocional também significa saber exercer autocontrole. As pessoas emocionalmente inteligentes adiam a gratificação e evitam a ação repulsiva, diz Bradberry. Dizer “não” é um grande desafio para muitas pessoas, mas esta é uma palavra poderosa que não se deve ter o medo de usar. Quando é hora de dizer “não”, essas pessoas não hesitam.
Bradberry observa que pessoas emocionalmente inteligentes distanciam de seus erros, mas fazem isso sem esquecê-los. Ao manter seus erros a uma distância segura, mas ainda acessível o suficiente para se referir a eles, essas pessoas são capazes de se adaptar e ajustar ao futuro. É preciso autoconhecimento refinado para caminhar nessa corda bamba entre conservação e lembrança.
Ruminar erros por muito tempo torna uma pessoa ansiosa e envergonhada, enquanto esquecer os erros completamente faz com que a pessoa os repita. A chave para o equilíbrio reside na capacidade de transformar fracassos em oportunidades de melhoria. Isso cria uma tendência de dar a volta por cima quando se erra.
Quando alguém oferece coisas sem esperar algo em troca, ou seja, ignora a regra da reciprocidade, isso passa uma impressão igualmente poderosa ao altruísmo deliberado. Pessoas emocionalmente inteligentes constroem relacionamentos fortes, propõe Bradberry, porque estão sempre pensando no bem-estar dos outros.
As emoções negativas, como o rancor, podem ser uma resposta ao estresse. Só de pensar em um evento deveras estressante, surgem descargas de hormônios suprarrenais que ativam o mecanismo de luta e fuga, o qual é essencial à sobrevivência quando somos confrontados com uma ameaça real, mas, se a ameaça é persistente e antiga, o estresse, que se torna crônico, causa males devastadores ao corpo e à mente. Na opinião de Bradberry, segurar um rancor é o mesmo que segurar estresse, e as pessoas emocionalmente inteligentes sabem que devem evitar esse sentimento a todo custo.
Lidar com pessoas difíceis é frustrante e desgastante para a grande maioria de nós. Mas, de acordo com Bradberry, os indivíduos com alto nível de inteligência emocional controlam suas interações com pessoas tóxicas, mantendo seus sentimentos em cheque. Quando eles precisam enfrentar uma pessoa tóxica, abordam a situação de forma racional.
Indivíduos emocionalmente inteligentes identificam as próprias emoções e não permitem que raiva e frustração alimentem o caos. Eles consideram pontos de vista das pessoas tóxicas, e são capazes de encontrar uma solução e um consenso.
Bradberry ressalta que pessoas emocionalmente inteligentes não têm como alvo a perfeição, pois elas sabem que isso não existe. Seres humanos, por natureza, são falhos e limitados. Quando a perfeição é o objetivo, reina uma sensação de fracasso que faz a pessoa desacreditar de uma causa e reduzir seu esforço.
O autor aponta que pessoas emocionalmente inteligentes constantemente praticam a arte da gratidão. Investir tempo para contemplar algo pelo qual se é grato não é apenas o certo a fazer, mas também melhora o humor, gera energia e proporciona bem-estar físico.
Segundo Bradberry, ter tempo livre fora da agenda é um sinal elevado de inteligência emocional, porque isso ajuda a manter o estresse sob controle e viver o momento. Tecnologia permite comunicação constante, e faz com que as pessoas gerem a expectativa de estarem conectadas o máximo de tempo que puderem. É difícil experimentar momentos de pacificidade quando se está sempre alerta para interações online, mas as pessoas emocionalmente inteligentes nadam contra a corrente e se desconectam.
Não é um segredo que beber quantidades excessivas de cafeína provoca a liberação de adrenalina, uma fonte primária do mecanismo de luta e fuga. O corpo estando em um estado de hiperexcitação, as emoções atrapalham um julgamento racional. Indivíduos emocionalmente inteligentes, diz Bradberry, sabem que a cafeína pode ser um problema se não for adequadamente administrada.
Como Bradberry alerta, é difícil exagerar a importância do sono para aumentar a inteligência emocional ou gerir os níveis de estresse. Quando dormimos, o cérebro recarrega, remexe e descarta memórias translúcidas (o que provoca, em partes, sonhos). Indivíduos com alto nível de inteligência emocional, afirma o autor, sabem que seu autocontrole, atenção e memória são todos reduzidos quando não dormem o suficiente. Assim, fazem de dormir uma prioridade.
Quanto mais se rumina pensamentos negativos, mais eles se retroalimentam. A maioria dos pensamentos negativos são apenas isso. Quando parece que nada acontece da forma que se espera, ou não estamos preparados para agir objetivamente, pode ser resultado de nossa tendência cerebral de perceber ameaças em coisas nem sempre perigosas (inflando a gravidade de um evento). Bradberry afirma que pessoas emocionalmente inteligentes separam seus pensamentos e sentimentos negativos de fatos concretos, a fim de escaparem do ciclo de negatividade e se moverem em direção a uma nova perspectiva, mais positiva.
Com razão, Bradberry lembra que, quando os sentimentos de alegria, prazer e satisfação são derivados de outras pessoas, deixamos de ser mestres da nossa própria felicidade. Pessoas emocionalmente inteligentes, ressalta ele, não permitem que opiniões sarcásticas e considerações maldosas subtraiam a intensidade de seus momentos de felicidade. Embora seja humanamente impossível se desligar de tudo aquilo sobre o que pensam de nós, as pessoas com alto nível de inteligência emocional não precisam ficar se comparando com os outros. Dessa forma, não importa o que os outros estejam pensando, a autoestima é uma força que advém, primeiramente, de dentro, não de fora.
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