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Os 3 amores…

Já percebeu como o amor é uma matéria totalmente experimental? Sim, porque seus pais não chegam numa certa idade para ter “aquela conversa” sobre o amor com você. A gente tem “aquela conversa” sobre sexo que, diga-se de passagem, é um tema muito mais técnico, com vasta bibliografia explicativa e em tese, muito mais simples de se aprender do que o amor. O amor, esse sim merecia introdução parental nas nossas vidas. Conselhos sobre como se proteger e aonde você enfia o que. Mas não. Isso não acontece. Saímos à deriva como cegos por aí, tateando momentos e sensações, tentando descobrir como funciona essa maluquice chamada amor.

Foi pensando muito neste assunto que me dei conta que a grande maioria das pessoas têm, ao longo da vida, pelo menos 3 amores. Não quer dizer que você não possa ter mais de 3. Mas são estes 3 que, pelo menos, você irá reconhecer.

O primeiro amor

Como disse logo no início, não há instruções frente ao amor e, muito menos, frente ao primeiro. Ninguém vai lá e te diz, “minha filha, um dia você vai amar alguém e isso vai te deixar louca”. Bem, essa na verdade é a lição aprendida pelo primeiro amor. Ahhh, o primeiro amor. Aquele que tem mais gosto de saliva e de novidade do que qualquer outra coisa. O primeiro amor é tão estranho e magnífico quanto os primeiros passos de um bebê. A gente não teve os joelhos ralados, então se joga sem medo de se machucar. A coisa toda é uma delícia. Entretanto, a coisa toda é – também – muito louca. Sim, porque você está lidando com sentimentos pela primeira vez, então é como se não tivéssemos “pele emocional”. Tudo ou arde ou queima.

Ciúmes dá azia. Saudade dá febre. Beijos esquentam lugares nunca antes despertos. Histórias são pra sempre. A intensidade em todo o seu esplendor. É mais ou menos como dar as chaves de uma carreta bitrem a alguém nunca habilitado. A gente anda rápido demais e se choca bem mais fácil. Machuca-se, sim. Mas se levanta mais rápido. Sexo é uma misturinha gostosa de pânico e descoberta. Carinhos viram o oxigênio que a gente respira. Neste primeiro amor, a gente acha que vida acaba junto com ele. Até, é claro, perceber que muitos (muitos) ainda virão. E sai do primeiro feliz em simplesmente levar consigo, o frescor, a intensidade e a alegria promovidas pelo primeiro amor.

O amor que muda a gente

O amor que muda a gente também não é anunciado com a sabedoria de ninguém. Muito pelo contrário, ninguém vai lá e diz “minha filha, olha, cuidado, porque vai ter um amor que vai dividir entre o ‘antes’ e o ‘depois’ da sua vida amorosa”. Esse amor que muda a gente tem um efeito grandioso, sem dúvidas. Ele engana, na verdade. Por ser um amor pouco (ou bem mais) maduro que os primeiros, é aquele em que você que já domina a arte de amar. Até então que o amor que muda a gente mostra o que veio ensinar.

Na melhor das hipóteses vai ser um relacionamento tão bom que vai traçar todo o teu parâmetro futuro. Ou seja, “esse lance foi tão maravilhoso, que a meta é daqui pra cima”. Na pior das hipóteses – e também na mais comum – vai te arrebentar inteira. Vai te apresentar o fundo do poço, e talvez a pior dor, aquela de ter o coração estraçalhado. Uma dor sem precedentes. E aqui neste caso, e diferente do primeiro amor, vai deixar marcas. Cicatrizes. Irá te ensinar o que é sofrer de verdade por alguém, ou pior (ou melhor), te ensinar a sofrer por si mesma.

O amor que muda a gente não vai embora sem deixar alguns traumas ou sem construir alguns muros. Afinal, gata escaldada tem medo de água fria. E aqui, ao invés de “pele emocional” a gente tende a criar uma casca mais grossa – sabe, aquela de ferida mesmo. Porque quem amou e já sofreu, toma querosene nos olhos, mas não quer passar por isso de novo. E ainda que o amor que mude a gente tenha tendência a ser uma experiência ruim, ele também cumpre o seu papel. Porque assim como este amor estabelece parâmetro para cima, no caso de ser maravilhoso, ele também estabelece o parâmetro para baixo, no caso contrário. Quem já viu o escuro do fundo do poço, não volta pra lá – se agarra a luz e a iluminação. Ou seja, “daqui pra baixo, eu não desço mais”. E com a iluminação, eis que surge o terceiro tipo de amor.

O amor próprio

O terceiro amor é aquele que a gente divide com o surgimento do amor próprio. E esse também chega de mansinho e sem aviso. Ninguém chega baixinho e te diz “minha filha, agora é contigo, daqui pra frente só melhora. Vai ser mais fácil”.

Mas isso acontece. Esse amor será o primeiro relacionamento que você já tem clareza do que quer ou não. Já não aceita tralha dos relacionamentos anteriores de ninguém, tem mais domínio da situação frente às dores e calores de uma vida a dois. Aqui você já aprendeu que se boleto não te mata, não vai ser desilusão amorosa que vai te dar fim. Escolher fica mais fácil. Você já gosta da própria companhia a ponto de não “preciiisaaaaar” de alguém. Mas também já se conhece o suficiente pra saber que dividir perrengues e noites frias embaixo do edredom são algumas das maravilhadas desta vida.

Aqui a gente já sabe a diferença entre ter “pele emocional” e não criar “casca grossa”. Já transita bem entre o se jogar de cara ou construir muros. Mas claro, ninguém te avisou que ia ser uma montanha russa vivida a flor da pele para chegar até aqui. Talvez por isso ninguém ensine a gente. Ou escolha falar de sexo, e não de ensinar sobre o amor. Romper o hímen ou o cabaço é simples perto de romper um relacionamento. Gozar com alguém é fácil, perto de gostar de alguém. Talvez seja isso. Sexo é fácil perto do amor.

Isso, ou ainda estamos todos aprendendo. E ensinar alguém sobre o amor seria como cegos guiando outros cegos. Ora, então por favor, não me siga.

Antonia no Divã

Uma questionadora fervorosa das regras da vida. Viajante viciada em processo de recuperação. Entusiasta da escrita. Uma garota no divã figurado e literal. Autora do blog antonianodiva.com.br.

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