Pollyana que me desculpe, mas, não dá estar bem-humorada o tempo todo. Esses dias, me vi cobrando de mim mesma uma atitude mais positiva. Eu estava sofrendo com isso, me julgando, me criticando: “Aff, Doroty, você não está sendo correta. Você precisa ser uma pessoa melhor, mais tolerante, ETC., ETC.”. Acontece que eu percebi que não dá pra ser uma pessoa melhor 24 horas por dia, o que dá pra fazer é ser a gente mesmo, com defeitos e qualidades. É se permitir a não tolerar certas posturas, a não estar o tempo todo com um sorriso no rosto; é admitir que a gente também fica de saco cheio. Deixe o jogo do contente para a Pollyana. Se estamos felizes, ótimo. Se não estamos felizes, ótimo também. Somos pessoas. E pessoas choram, gritam, se enfurecem, se aborrecem, se irritam. Enfim, isso tudo que “não se deve fazer” porque não é “cristão”, mas, evitar é tolice, porque essas atitudes fazem parte da gente. Não dá pra encarar a vida como se tudo fosse um mar de rosas, porque não é.
Se a pessoa te conhece e não percebe que você não é do tipo que curte ficar toda hora trocando mensagens, então, essa pessoa não merece sua atenção, por dois motivos, primeiro, ela te conhece, mas, não te percebe; segundo, suas respostas foram monossilábicas, ou seja, você deu sinais de que não fala muito no WhatsApp, porém, mesmo assim, ela continua te mandando mensagens, imagens, fotos de pessoas que você não conhece, enfim, isso significa que ela não está nem aí para como você é. Portanto, sinta-se à vontade para não responder mais.
Outro dia fui criticada porque fiz cara feia para uma pessoa que pisou no meu pé. Veja, se alguém faz isso e não pede desculpas, eu posso esboçar uma cara feia, sim, é o mínimo que eu posso fazer para demonstrar minha indignação. Mesmo porque, quem sorri quando leva um pisão no pé? Pollyana, talvez? E tem outra situação aqui: a pessoa pisa no seu pé, mas, pede desculpas com aquela cara de desacordo, como se a culpa fosse sua e fosse sua obrigação pedir desculpas (isso mesmo, isso acontece), nesse caso, mais uma vez, não se sinta envergonhado em fazer uma cara bem feia. Torcer o nariz para esse tipo de atitude não é nada, comparado à falta de consideração da maioria das pessoas, que saem por aí atropelando umas às outras como se vivêssemos numa selva.
Nesse caso, a explicação é simples, se a pessoa não te cumprimenta é porque ela não quer fazer isso, então, se ela não quer fazer isso com você, não faça com ela. Pra que insistir?
Se você se sente melhor sozinha, fique sozinha. Você não é obrigada a andar grudada nas pessoas, a fazer o que elas querem; a ir onde elas vão, só para seguir as convenções. Se você gosta de ficar em casa sozinha, fique em casa, a melhor companhia que podemos ter somos nós mesmos. Se a sociedade vai achar que você é solitária, deprimida, encalhada, é um problema da sociedade, não seu, é ela que tem que resolver isso, que tem que rever os seus conceitos. Vai por mim, você não vai deixar de ser uma pessoa melhor só porque optou em não seguir a boiada.
As pessoas são diferentes, têm temperamentos distintos, cada um é cada um, por isso, é que procuramos nos relacionar com indivíduos que tenham mais ou menos os mesmos ideais que a gente, mais ou menos as mesmas características, mesmo assim, há pessoas que estão em uma fase diferente da nossa, nesse caso, não temos que forçar uma amizade, é natural que nos afastemos pelo simples motivo de que não há assunto, não há afinidade. Não precisamos sofrer por causa disso. Isso não significa que passamos a odiar essa pessoa, que vamos tratá-la mal. Não. Simplesmente não há necessidade de cumprirmos certos protocolos com relação a ela, só porque um dia trabalhamos juntos, ou porque frequentamos a mesma academia, ou porque somos vizinhos, enfim, as relações são saudáveis quando um entende o outro e respeita o seu momento, por isso, volto a dizer, não precisamos seguir convenções sociais, temos, sim, é que sermos livres para escolher, no mínimo, com quem queremos andar. Isso inclui adicionar pessoas ao Facebook.
Resumindo, não existem Pollyanas. Eu não estou querendo dizer que perdi a esperança na raça humana, não é isso, apenas percebi que não preciso me cobrar tanto, pois, não são certas atitudes que farão com que eu seja melhor ou pior, existem outros fatores que trazem o nosso lado humano à tona. Lógico que há valores que não podemos – nem devemos – descartar, como por exemplo, o respeito, a compaixão; o desejo pela paz, o amor, isso mesmo, o amor, ele não está excluído do quesito relação, aliás, ele é uma peça importantíssima. O fato é que esse desespero em ser o tempo todo politicamente correto acaba com qualquer um. Outro dia vi um post no meu Facebook que dizia que pessoas bem resolvidas sentem gratidão, perdoam, se responsabilizam pelos seus próprios erros, querem que os outros vençam… enfim, uma série de itens santificados que não cabem em uma pessoa só, o indivíduo pode ter uma ou duas das qualidades ali descritas, mas, todas, acho meio difícil, a não ser que ele seja Dalai Lama. Ninguém é assim, perfeito. Por isso, cheguei à conclusão que o melhor dos mundos é a gente procurar viver de maneira leve; compreender as nossas reações sem neuras de que não estamos sendo legais. Isso faz mal. Temos que buscar um frescor para a vida; ficar tranquilos e motivados para continuar. O ideal é que arranquemos das nossas costas o peso de uma exigência descabida para que possamos fluir pela vida, livres, leves e soltos.
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