Vivemos uma época de profundas transformações ambientais. É necessário rever hábitos e, de alguma forma, agir. Especialistas lembram atitudes simples que dão resultado

Só seremos mais sustentáveis quando deixarmos o peso do termo de lado e fizermos de nossa preocupação uma ação orgânica, rotineira. É isso que defende a escocesa Sara Parkin, diretora da ONG inglesa Forum for the Future e autora do recém-lançado O Divergente Positivo (Peirópolis, com apoio do Planeta Sustentável. Conheça o blog do livro).

A ativista esteve em São Paulo em março para conhecer projetos regionais na área. A questão do meio ambiente, segundo ela, já está entre as maiores preocupações do brasileiro. De acordo com relatório elaborado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas em 2013, 90% dos brasileiros reconhecem que o problema é grave e 85% admitem que a culpa é da atividade humana.

Nos últimos anos, secas, alagamentos, plantações arrasadas e outras mudanças têm deixado claro que é preciso fazer algo antes que seja tarde demais. “Adotar atitudes sustentáveis tem muito a ver com a nossa capacidade de resiliência: nos transformamos e nos adaptamos depois de choques que exigem mudanças”, explica a geógrafa Denise Kronemberger, coautora do livro Desenvolvimento Local Sustentável – Uma Abordagem Prática (Senac), e coordenadora da produção de indicadores de desenvolvimento sustentável no IBGE, critérios que medem a evolução dos assuntos relacionados ao meio ambiente no Brasil, como diminuição de área verde ou acesso ao saneamento básico. Sabe-se que o tom chato e distante que os temas verdes ganharam dificulta transformações na área. Porém, há muito que você pode fazer.

1. QUESTIONE AS SUAS ATITUDES
O que significa sucesso para você? Para a maioria da população, a resposta é morar em uma casa grande, poder viajar sempre e ter um salário gordo. “Vivemos a lógica da competição: queremos ser melhores do que nossos vizinhos e familiares”, explica Sara. Não há nada de errado em buscar uma vida confortável, como ela ressalta, mas não devemos nos basear nesses critérios para definir se levamos uma trajetória satisfatória e feliz. Mais importante é ter experiências gratificantes no dia a dia, saúde, bons amigos e momentos de diversão.

Denise lembra do conceito de Felicidade Interna Bruta, uma analogia ao Produto Interno Bruto (PIB), que mede o progresso do país não só pelo dinheiro gerado mas também pela relação da nação com o meio ambiente e pela qualidade de vida da população. “São essas as coisas que devemos buscar”, defende a geógrafa. Com esses conceitos na cabeça, é necessário questionar diariamente as suas ações e motivações. O que você busca no trabalho? Como fortalece suas amizades? O que faz para contribuir com um desenvolvimento sustentável? Use essas respostas como guia na hora de tomar decisões.

2. NÃO ESQUEÇA DO BÁSICO
Com uma situação tão alarmante, às vezes achamos que é inútil nos comprometer com as pequenas atitudes, como diminuir o tempo do banho ou levar sacolas reutilizáveis ao supermercado. “A verdade é que, neste momento, tudo conta”, explica Sara. Vale, então, aquele esforço para usar ao máximo o transporte público e economizar na conta de luz tirando da tomada tudo que não estiver usando durante o dia, como televisores, micro-ondas, fogão e computadores.

A reciclagem do lixo também ajuda, assim como evitar o desperdício de comida. “Em média, jogamos fora 40% dos alimentos que compramos para casa”, afirma a autora.

Em tempos de embalagens tamanho família, ela sugere uma abordagem nova e que pode dar certo. Recomenda que, na hora de comprar produtos que só sejam vendidos em grandes quantidades, você os divida com amigos ou vizinhos. É a chamada compra colaborativa. Se o saco contém dez maçãs, você paga por cinco e alguém paga a outra metade – assim nada vai para o lixo. Parece difícil, mas pode ser muito prático, principalmente para quem mora sozinho.

3. CONTROLE O CONSUMO
Que vivemos em uma sociedade que estimula o consumo, já sabemos. O que alguns não imaginam, porém, é o enorme impacto disso no ambiente. Um processo de produção gera poluição, pode levar a mudanças climáticas e ao aquecimento dos oceanos, além de afetar a fauna e a flora. “A lógica da compra pouco consciente vai se tornar insustentável em um futuro próximo. Cabe a cada um de nós mudar essa mentalidade”, diz Denise.

Não é preciso eliminar o consumo, mas transformá-lo. Por exemplo, em vez de comprar roupas para ter prazer, combine com amigos uma ida ao parque. O mesmo acontece com outras iniciativas culturais, como feiras, mostras de arte ou um piquenique. A própria economia vai se adaptar a esse processo, pois o parque precisará de mais funcionários, de serviços novos, o que fará o dinheiro circular. Também devemos tornar mais orgânica a ideia de reutilizar e restaurar. Se um móvel quebrou, antes de jogá-lo fora e comprar outro, pense se não há uma forma de recuperá-lo, evitando assim mais lixo e produção. Há até sites que possibilitam trocas de objetos e roupas pouco usados com outras pessoas em vez de jogá-los no lixo.

4. ORGANIZE MOVIMENTOS LOCAIS
“Há uma tendência forte em todo o mundo de valorização de iniciativas locais”, conta Denise. “Organizamos dentro de comunidades menores, como bairros, projetos eficientes para aquela região, colocados em prática com a ajuda dos moradores.” Nesses reduzidos grupos surgem ideias inovadoras que, depois, podem ser aproveitadas em maior escala pela cidade. “Há grandes empresas – e também órgãos governamentais – querendo investir em boas ideias que aparecem nesses ambientes”, explica Sara. “Vi poucos painéis solares no Brasil, e sei que o motivo disso é o alto preço do sistema, mas, se um bairro quisesse fazer um projeto, poderia conseguir apoio de uma empresa para baratear o produto, por exemplo”.

Vimos no ano passado o aumento significativo de iniciativas do gênero, como as hortas comunitárias. Os pequenos grupos e até mesmo pequenas empresas são a grande promessa do futuro, segundo os especialistas. Eles serão as fontes de ideias criativas que vão nos levar a uma economia verde mais facilmente. Com o tempo, até mesmo as grandes empresas devem adotar essas estratégias.

5. ENSINE E DÊ O EXEMPLO
“O desenvolvimento sustentável tem um funcionamento semelhante ao da natureza: em rede. interdependência entre todos os fatores e membros que fazem parte do ciclo”, explica Denise. Portanto, quanto mais gente trabalhando nesse sentido, melhor para nós e para o planeta. Para tal, pais precisam prestar atenção nos filhos. O que as crianças estão aprendendo na escola? Quanto mais cedo a noção de sustentabilidade for inserida, mais natural ela se tornará, assumindo um papel forte com o passar das gerações.

Sabemos que, nas faculdades, o tema é praticamente inexistente. “Alunos de administração, por exemplo, deveriam aprender a inserir o desenvolvimento sustentável na gestão, assim, ela seria instintiva para eles quando passassem a exercer cargos de chefia”, diz Sara. É importante também que a criança participe de atividades do gênero em casa.

Ela deve ajudar a lavar embalagens para reciclagem ou controlar sozinha o tempo no banho. Os pais também podem pedir que ela escolha brinquedos e roupas para doação e não estimular o consumo exagerado. Tudo isso gera comportamentos mais saudáveis para a sociedade e o meio ambiente.

6. PRESSIONE EMPRESAS
Já que o consumo rege a nossa sociedade, ele também vira poder de barganha. Você pode escolher se relacionar apenas com empresas que demonstrem preocupação ambiental. Por exemplo, o supermercado que você frequenta dá aos funcionários salários e benefícios adequados? Compra os produtos, como carne e vegetais, de origens certificadas que não prejudicam o meio ambiente? Tem um plano de pouco impacto no meio ambiente como uso de iluminação natural para evitar o consumo excessivo de energia elétrica? Há diversas maneiras de descobrir isso. A mais óbvia é perguntar ao gerente ou conversar com os funcionários.

Mas, além disso, você pode verificar se a empresa tem selos oficiais de sustentabilidade ou pesquisar relatórios recentes com os dados que tratem do assunto. “Também é possível fazer pressão para conseguir atitudes mais impactantes”, explica Sara. Ela cita um exemplo pessoal: quando vai ao mercado, retira ainda no caixa todos os produtos de suas embalagens recicláveis. “O supermercado paga para retirar o lixo; portanto, quanto mais, pior. Com essa atitude, ele vai passar a se preocupar em ter nas prateleiras produtos que causem menos desperdício”.

7. COBRE ATITUDES GOVERNANENTAIS
Às vezes, dependemos de aprovação oficial para conquistar o que queremos, como a limpeza de um rio ou a melhoria do transporte público. Seja qual for a exigência, é importante estar a par dos esforços do governo nas diversas áreas de desenvolvimento. Um contato mais próximo com os governantes – feito por meio de figuras influentes ou ONGs – gera bons resultados. “Pergunte por que o governo não apoia certo projeto ou leve até o conhecimento dele uma iniciativa promissora e peça ajuda”, explica Sara.

Muitas vezes, o distanciamento criado entre os governantes e o povo é o responsável por impedir que bons trabalhos sejam realizados. O mesmo pensamento serve para a hora de votar. Pesquise no projeto do seu candidato quais os planos dele por um futuro mais sustentável, pois essa deve ser uma preocupação constante da máquina pública atualmente. Pode ser desde a criação de um parque até a implementação de um processo mais eficiente de recolhimento e reciclagem de lixo. E, caso ele seja eleito, cobre a realização das promessas.

8. FAÇA SEU MELHOR
É verdade: às vezes, dá preguiça ser sustentável, pois parece um esforço a mais em uma rotina já corrida. É por isso que Sara defende a ideia de fazer o suficiente, sem grandes cobranças. Se você tiver uma apresentação importante no trabalho, por exemplo, e quiser pegar um táxi em vez de recorrer ao transporte público que usa todo dia, precisa se permitir. O policiamento pessoal muito rígido vira uma coisa chata e nos leva a desistir mais facilmente. Portanto, respeite a sua vontade em algumas escapadas, cuidando apenas para que não se tornem tão comuns a ponto de virar o comportamento normal.

Pense também que, às vezes, mesmo que estejamos sem vontade de contribuir, há coisas significativas que não exigem muito trabalho. “A internet é uma ferramenta poderosa para ajudar no desenvolvimento sustentável hoje”, afirma Sara. Principalmente os jovens, que estão conectados o dia todo, podem usar as redes para divulgar bons projetos, iniciativas e empresas que fazem trabalhos legais. Assim, outras pessoas se sentirão estimuladas a buscar esses serviços.

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