Qual foi a última vez em que você sentiu a sua vida se ampliar, abrindo como um leque, num movimento cheio de possibilidades?
Viver é diferente de existir. Viver inclui o conceito de escolha. Estamos fazendo escolhas ou estamos simplesmente permitindo que as circunstâncias decidam por nós?

Sabemos que liberdade irrestrita é um conceito utópico. Somos, em muitos momentos, condicionados pela liberdade alheia, pelas limitações inerentes à raça humana, entre diversos outros fatores. Por outro lado, algumas pessoas conquistam mais liberdade do que outras.

Para alguns, liberdade é fazer o que se quer. Para outros, liberdade é desprender-se do próprio desejo.

Independente do conceito de cada um, algumas pessoas conseguem mais do que existir. Conseguem viver com uma dose razoável de autonomia de ação e pensamento. Conseguem viver. Conseguem, apesar dos problemas e dificuldades do dia a dia e das crises existenciais, amarem a vida que possuem, mesmo que esta tenho sido traçada sob um trajeto cheio de curvas sinuosas e idas e vindas.

É preciso coragem e muita honestidade para refletir e admitir que talvez estejamos apenas existindo. Que estejamos apenas agindo ou deixando de agir em função dos outros, das expectativas alheias. Que estamos nos deixando levar por um esquema de vida que desconsidera o nosso essencial, que coloca tudo no piloto automático, que rouba a espontaneidade dos pequenos gestos cotidianos.

Talvez, estejamos expressando pouco o nosso amor, a nossa raiva, a nossa vontade de fazer algo novo. Talvez, estejamos deixando sempre para depois aquilo que realmente queremos fazer. Talvez, em nome do urgente, estejamos sempre ignorando o importante.

Qual foi a última vez que você realmente se divertiu? Qual foi a última vez que que você esteve em algum lugar que realmente te fez sentir vontade de ali ficar por tempo indeterminado? Qual foi a última vez que você desejou que o tempo congelasse para nunca mais se despedir daquele momento?

Qual foi a última vez que você perdeu a noção da hora, que você foi a um evento social por realmente querer ir, que passou uma tarde inteira lendo um livro pois não conseguia despregar os olhos dele?

Qual foi a última vez que você gemeu baixinho ao mastigar um alimento ou suspirou profundamente por compartilhar uma cumplicidade deliciosa numa conversa que poderia durar milênios? Qual foi a última vez que você sentiu, que apesar dos pesares, estar no mundo é uma experiência doida no bom sentido da palavra? Ou recebeu um abraço que fez o mundo se calar? Qual foi a última vez que você amou ser quem você é?

Qual foi a última vez que você se sentiu em paz com você mesmo, por saber que você conseguiu ser você e não aquilo que esperavam de você ou que projetaram em você, colocando em seus ombros um peso que não é seu? Qual foi a última vez que você se sentiu em paz com você por ter deixado de ser o seu próprio algoz? Qual foi a última vez em que você sentiu a sua vida se ampliar, abrindo como um leque, num movimento cheio de possibilidades?

Você está realmente vivendo a sua vida?








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.