“Um amigo prova o seu amor quando faz uso medicinal do silêncio.
Quando percebe o outro em estado de lágrima, se derrama para dentro e aperta os olhos para transmitir segurança.
O outro sabe que na amizade a dor é ponte para dois abismos.
Se um sofre calado, o outro chora alto, com direito a soluço e apresentação cênica.
A verdade é que a dor tem mania de espetáculo.
Até mesmo o que chora para dentro vai pedir licença para desentupir os olhos no banheiro.
Volta tentando disfarçar a cara vermelha e o inchaço dos olhos.
O outro que era matriz da dor, logo percebe o insucesso da tragédia.
Oferece o abraço como abrigo.
Os dois silenciam… é como se as duas dores dessem as mãos numa ciranda fúnebre.
Nessa hora, só o silêncio faz sentido.
A “não-palavra” não é sinônimo de indiferença, mas de cumplicidade.
O silêncio é a linguagem compartilhada do sofrimento.
O silêncio faz compressa no batimento da dor.
O silêncio é o prognóstico da cura.”