Sabe quando você faz 100 coisas no dia e 99 delas saem como o planejado, mas tem uma que você se culpa por não ter conseguido da forma que desejava? Sabe aquela frase que você falou, mas foi mal interpretada, ou que não foi dita da melhor forma, deixando o outro triste? Sabe aquela falta de atenção ou percepção sua que acabou gerando um erro?
Quem nunca, não é verdade?
Muitas vezes nós nos cobramos tanto e queremos tanto ser bonzinhos que acolhemos um sentimento de culpa dentro de nós. O ego machucado, sem refletir muito sobre a questão, levanta logo o veredito: culpado.
Tem também o outro lado, quando achamos que tudo é problema do outro e não nos importamos com nada, só conosco. É um super ego, que na verdade é só uma variação do primeiro.
É primordial entender que fizemos o possível com o conhecimento que tínhamos no momento; que talvez não conseguimos fazer algo da melhor forma, mas durante o dia fizemos varias ações que deveríamos nos orgulhar.
Pensar no passado é tentar reviver agora toda aquela história que talvez não tenha dado certo de acordo com a nossa interpretação; é tocar novamente aquela musica que você já não gosta, é passar de novo aquele filme de terror que não tem nada mais a ver com você; é preciso aceitar o que passou e que fizemos o nosso melhor no momento. A vida é curta demais para arrependimentos e culpas desnecessárias.
Outro fator é o querer ser o bonzinho.
Talvez isso tenha começado na infância, com a imagem de um bom menino ou boa menina que deveria ter educação, tratar bem os outros, se comportar, ser um exemplo e não magoar ou ferir ninguém.
Podemos ter formado na nossa cabeça uma imagem ideal de nós mesmos. Hoje, continuamos sustentando essa imagem, de não poder ficar mal e nem fazer “mal” ao outro.
Mas será que é mesmo isso?
Será que temos controle de como o outro interpreta a nossa comunicação?
Será que sabemos nos comunicar assertivamente?
Se eu falo algo e você se magoa, tendo eu uma boa intenção, de quem será a culpa? Existe culpa? Posso retornar para fazer diferente? Posso passar uma borracha?
Independente de vitimas e culpados, o sincero “sinto muito, me desculpe, não foi essa a minha intenção” é sempre bem-vindo. Não importa quem errou ou não errou. Dar o primeiro passo e dizer que nunca quisemos fazer o mal ainda é a melhor solução para esses desentendimentos.
É comunicar que, o que quer que tenha sido falado ou interpretado, foi na verdade um mal entendido. É passar uma borracha no passado e escrever em outra linha, nova e bonita.
Saiba que nós não temos tanto controle sobre a interpretação do outro, podemos falar em uma linguagem que para nós é clara, mas isso pode ser mal interpretado por histórias passadas, crenças, traumas, condicionamentos e por ai vai: uma série de fatos passados pode influenciar o nosso comportamento e o da outra pessoa.
Para romper esse ciclo vicioso é necessário abrir mão de papéis como o de ser o bonzinho e perfeito, deixar o passado em seu lugar e entender que não existe um culpado, mas sim que cada um tem o seu papel no que aconteceu, cada um tem a sua responsabilidade (pelo que fala e pelo que o outro interpreta).
Fazer perguntas nos ajuda muito: Será que ele quis dizer realmente isso? Será que ela está sobre algum estresse? Será TPM? Será que eu estou achando isso baseado em um relacionamento passado? Será que eu estou fazendo alguma comparação? Em que eu to comparando para pensar isso sobre ele?
Quando alguém fala algo sobre nós que não é verdade, deveríamos ter um filtro que deixasse ir o que foi dito sem que armazenássemos e alimentássemos isso. Mas, a partir do momento que damos ouvido ao que o outro disse, e com isso damos importância e verdade sobre a sua fala, nós nos deixamos influenciar e criar nossas bolhas de emoção.
“Tudo o que sabemos sobre nós mesmos é a opinião dos outros. Eles dizem “você é bom”, e achamos que somos bons. Eles dizem “você é bonito” e nós achamos que somos bonitos. Eles dizem “você é mau” ou feio, que é culpado e pecador e você começa a se sentir culpado e pecador….tudo o que as pessoas dizem a nosso respeito nós continuamos colecionando. Isso se torna a nossa própria identidade, mas é completamente falso, porque ninguém pode conhecer você — ninguém pode saber quem você é a não ser você mesmo. Tudo o que as pessoas conhecem são aspectos e esses aspectos são muito superficiais. Tudo o que elas conhecem são humores momentâneos; as pessoas não podem entrar no seu âmago. Nem mesmo a pessoa amada pode penetrar no verdadeiro âmago do seu ser. Ali você é completamente só…e somente ali será possível saber quem você é.Qualquer que seja o eu que você tenha criado a partir da opinião dos outros, você deverá deixar para trás” (Osho)
Entenda que nos casos comentados acima nós não possuímos o botão para deixar alguém alegre ou triste, que isso tudo depende mais da vontade e do humor da outra pessoa. Muitas vezes você vai deixar o outro alegre, mas pode ter algumas vezes que o deixará triste, mesmo sem ter essa intenção. Como não temos esse controle, deixe que as coisas se acalmem e que tudo volte ao seu devido lugar. Faça a sua parte ao explicar a sua intenção e ao dizer que sente muito qualquer coisa que tenha causado. Não assuma a culpa por algo, pense no outro lado — tudo o que você acerta e faz de bom, toda a alegria que você proporciona para os outros… E também se permita errar e talvez não ser o bonzinho ou a boazinha que você imaginou poder ser.
Que você não colecione culpas e viva de coração aberto para o que chegar.
Shanti , paz. Virgilio