Em primeiro lugar, eu diria que a resposta é óbvia e até genética: somos seres criados para a troca, para o relacionamento, para o amor! Somos seres em busca do prazer, da convivência, da reciprocidade. Seria como dizer que, em princípio, somos apenas metade do que podemos vir a ser.
Quando nos apaixonamos por uma pessoa, essa felicidade que mal cabe dentro de nós está a serviço de uma sensação muito especial. Temos a nítida impressão de que nos tornamos mais inteiros, mais preenchidos, melhores, mais fortes. É isso!
O encontro com o outro através do amor nos possibilita sentir partes de nós mesmos que não conseguimos quando estamos sós. E por causa dessas sensações maravilhosas é que sentimos tanto medo. Se, por um lado, temos medo de ficarmos sozinhos e, por isso, investimos tanto tempo e tanta energia na busca de alguém especial, que nos complete; por outro, também temos muito medo de encontrarmos esta pessoa, experimentar com ela todas essas possibilidades e, depois, perdê-la.
Assim, sozinhos ou acompanhados, parece que o medo está sempre a nos rondar, sempre nos colocando em estado de alerta e, enfim, roubando parte de uma felicidade tão almejada, tão desejada por homens e mulheres.
Costumo dizer que o medo é um sentimento bom. O medo é, na verdade, um grande mestre, desde que adotemos a seguinte regra: nem ignorá-lo e nem deixar que ele nos invada e nos paralise. O problema não está no fato de sentirmos medo, mas de deixarmos de agir e de viver por causa deste medo. Ou, por outro ângulo, ele pode se tornar um problema se o desprezarmos e, desta forma, não conseguirmos enxergar que ele pode ser um valioso aviso de que estamos indo pelo caminho errado, estamos fazendo a pior escolha.
Portanto, precisamos aprender a decifrar e respeitar o medo, mas não deixarmos que ele nos paralise, nos roube a coragem de arriscar e viver e amar!
Creio que o grande segredo esteja além do medo. Na verdade, se estamos sós ou se estamos comprometidos não é o que mais importa. O mais importante é como estamos com a gente mesmo? O quanto a solidão está se caracterizando pela falta do outro ou pela falta de nós mesmos?
Definitivamente, um relacionamento não tem a função de arrancar de nós a sensação da solidão. Milhares de pessoas são casadas, dormem acompanhadas todas as noites de sua vida, têm família, amigos, emprego, vizinhos e, ainda assim, vivem mergulhados numa profunda e dolorosa solidão! São pessoas que se sentem trancadas em si mesmas, ouvindo o eco de suas próprias vozes e de suas próprias dores sem saber para onde ir, sem entender que para aflorar e renascer para o mundo é preciso que encontrem não um grande amor, não um parceiro melhor ou que lhes pareça mais adequado, mas que se permitam, antes, um encontro consigo mesmas!
A meu ver, as palavras-chaves para a grande transformação, para a felicidade continuada e genuína, são: autoconhecimento e consciência! Quanto mais consciente de si mesmo você estiver, mais você saberá o que quer, para quê está aqui, o que veio fazer na Terra e, enfim, quem é você!
O amor, o casamento, o romance ou qualquer outro tipo de relacionamento só podem nos trazer preenchimento, prazer e “respostas” se, antes de mais nada, soubermos onde estão as nossas portas. Precisamos aprender a entrar dentro de nós. Precisamos conhecer cada um de nossos cômodos, de nossas luzes, de nossos cantos, de nossas janelas… Precisamos decifrar nossos enigmas, encontrar nossos tesouros e, por mais difícil que seja, admitir nossos lixos e limpar e organizar a imensa bagunça que nós mesmos fizemos (ou deixamos que fizessem) dentro de nós!
Isso tudo não é trabalho para um final de semana prolongado, mas para a vida inteira, todos os dias! E por mais trabalho que dê (e dá mesmo!), volto a repetir: não existe nenhuma outra chance de você se tornar inteiro e sentir-se, de uma vez por todas, livre da solidão, a menos que você resolva parar de buscar lá fora e comece a procurar dentro de você o que há de mais importante: a sua singularidade.
Porque uma vez encontrada, você estará pronto para o amor e saberá que a solidão é somente uma questão de acender ou apagar a sua luz, de abrir ou fechar a sua porta. De entrar ou sair de dentro de você!