Marcelo chegou em meu consultório visivelmente irritado. Como eu o atendia havia alguns meses, eu pude notar aquele desconforto e perguntei: “Então, como estamos…?”. Ele respondeu instantaneamente: “Estou cansado de vocês!” [ênfase no plural]. Como boa terapeuta que sou (ou não), me mantive em silêncio e esperei que ele verbalizasse seu raciocínio. Então, ele continuou: “Mulher não cala a boca. Minha mulher só sabe falar sobre assuntos inúteis e, principalmente, reclamar. Aí ela [em referência a sua noiva], fica me fazendo perguntas o tempo todo. Que nem você me fez agora. Quer saber como eu estou? Cansado! De tanto ouvir e ter que responder a mesma coisa: no que estou pensando, o que estou fazendo, se estou bem ou feliz. Isso é um saco!”.
Ah… Quem nunca se incomodou com o silêncio do parceiro que atire a primeira pedra. O silêncio que anuncia. Mas resta saber: anuncia o quê? O fim de um relacionamento? Alguma frustração mal resolvida? Culpa por uma traição? Começa, então, uma verdadeira batalha interna de tentativas de decifrar o homem ao seu lado. Nós, mulheres, nos achamos especialistas na arte de interpretar os outros. Mas as confusões e desconfianças que isso traz pode dificultar o processo de compreensão do “aparente” silêncio. Aparente porque, ao final do texto, espero poder ter ajudado a esclarecer o significado do tão temido silêncio masculino.
Não pretendo taxar todas as hipóteses que levam os homens a silenciar e terei como base um relacionamento estável, que não está perto do fim. (Agradeço se puderem citar outros nos comentários abaixo J). Colocarei aqui razões as mais comuns que eu pude perceber em minha experiência.
Alguns dos motivos do silêncio são:
1. Evitar conflitos. Numa discussão, coisas impensadas podem ser ditas. E, sem querer ou querendo (um viva ao Chaves), palavras podem tomar rumos infinitos. Boa parte dos homens que atendi preferiam se calar numa discussão acalorada ao invés de verbalizar a frustração. Talvez seja por não saber falar sobre a própria frustração, por não querer te magoar (e piorar a situação) ou por considerar aquela discussão sem qualquer propósito racional.
2. Fim da argumentação. Esse tópico é consequência do anterior. Talvez seu parceiro tenha explicado tudo sobre o porquê de ter adicionado Fulana na rede social. Explicou o contato deles, onde eles se conheceram e o que tinham em comum. Você ficou insegura e ele explicou de novo. Mas aí você ainda não estava satisfeita. Ele se calou não é porque ele estava concordando com seus argumentos, mas simplesmente porque ele cansou de dizer a mesma coisa. As justificativas daquele momento e as que ele deu meio minuto atrás ainda eram as mesmas. Como ele viu que aquilo não chegaria em lugar nenhum, surgiu o silêncio.
3. Colocar o pensamento em ordem. Há momentos de reflexão que são necessários para todo ser que respira e é capaz de concatenar ideias. O que eu quero dizer é: todos nós precisamos de um tempo para elaborar algum problema, realinhar objetivos ou apenas “abrir a gaveta do nada”. E os homens fazem isso até melhor que nós, às vezes… Nós temos que ver o outro como um espelho de nós mesmos. Pode ser que o silêncio dele te perturbe não pelo silêncio em si, mas porque você acredita que isso pode ser sinal de que seu relacionamento não vai bem.
4. Evitar conversas inúteis ou misturadas. Às vezes, os homens estão concentrados em outras questões e não gostam de ser interferidos com assuntos não correlacionados. Leitora, quantas vezes seu parceiro, por estar voltado para outra questão, já respondeu “eu não sei” e você, não se dando por contente, o pressionou? Isso cria um ciclo vicioso, no qual você estimula seu parceiro a se fechar ainda mais, na tentativa dele evitar ainda mais conflitos. Consegue perceber?
Como enfrentar o incômodo causado pelo silêncio:
1. Exercício de empatia. Empatia nada mais é que compreender o outro, olhando com os olhos dele e segundo as medidas dele e não as suas. Significa aceitar que seu parceiro tem consciência própria e age de forma independente de você. Tente compreender que o silêncio masculino não é um defeito ou algo a ser mudado; é apenas um modo, diferente do seu, de se estar no mundo. E isso não quer dizer que seja melhor ou pior: apenas diferente.
2. Deixar a carência de lado e se ocupar. O fato do seu parceiro não querer falar enquanto joga o videogame dele não irá mudar se você o pressionar. Nem se o pressionar duas ou três vezes. Então, aproveite esse tempo livre e saia com aquela amiga que está ausente ou pratique um hobby, como a yoga ou meditação. Essas atividades, além de retirar seu foco sobre seu namorado, te ajudarão no seu próprio crescimento interior. E essa evolução ninguém te tira.
3. Lidar com a insegurança. Leitora, aprenda a lidar com a sua própria imaginação e não mais ficar à mercê dela. Seu parceiro não era o centro do seu universo e ainda não o é. Se houver necessidade dele ficar sozinho, respeite e apenas deixe claro que ele tem espaço caso queira desabafar. Por fim, se possível, não tente bancar o Mestre dos Magos e adivinhar o que se passa na cabeça dele. Com maior intimidade, aos poucos, seu parceiro poderá se abrir com mais facilidade e externar alguns dos incômodos.
Culturalmente, as mulheres são incentivadas a se comunicar e verbalizar sentimentos com mais facilidade do que os homens. Assim, falar é a maneira que as mulheres encontraram de organizar os pensamentos e de conectar com o parceiro. Então, silêncio é motivo de pânico e as leva a pensar que algo vai muito mal no relacionamento. Nesse momento, as mulheres tendem a ter sua autoconfiança abalada e, por consequência, agem pautadas mais pela carência e pelo medo. A sensação de iminente rejeição e abandono cria uma expectativa negativa que, se não evitada, pode colocar tudo a perder.
Pensando nisso, caro leitor, se é chegada a hora de “cavernar”, seja também empático com sua parceira. Explique para ela sobre sua necessidade de ficar sozinho e reafirme seu sentimento por ela. Aos poucos, ela poderá (eu disse: poderá) compreender que seu momento a sós não é risco para o relacionamento de vocês. A falta de sinalização de sua parte poderá estimular sua parceira a “minhocar” (sim, aquela mesma do verbo “criar minhocas na cabeça”). E ninguém quer isso, quer?