Você anda meio estressado? Acorda esgotado, cansado? Se você nasceu após a invenção da luz elétrica, há grandes chances de ter um atraso de duas horas em seu relógio biológico. Um estudo da Universidade do Colorado nos EUA, descobriu que o aumento da exposição à luz solar faz ajustar o nosso Ritmo Circadiano.
O Ritmo circadiano ou ciclo circadiano designa o período de aproximadamente 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico de quase todos os seres vivos e é influenciado principalmente pela variação de luz, temperatura, marés e ventos entre o dia e a noite. Todos os seres vivos que habitam o planeta estão conectados a natureza. O ritmo circadiano regula todos os ritmos materiais bem como muitos dos ritmos psicológicos do corpo humano, e exerce influência sobre, por exemplo, a digestão ou o estado de vigília e sono, a renovação das células e o controle da temperatura do organismo.
O estudo analisou durante duas semanas, oito participantes (seis homens, duas mulheres) que tinham uma idade média de 30,3 anos. Na primeira semana, os participantes foram incentivados a realizar suas rotinas diárias de trabalho, escola, atividades sociais e horários de sono auto-selecionados. Já na segunda semana, os participantes acamparam ao ar livre, apenas com a luz natural e fogueiras. Lanternas ou dispositivos eletrônicos pessoais foram proibidos.
O ritmo circadiano dos participantes foi registrado e comparado em ambas as semanas do experimento. O estudo foi realizado nas Montanhas Rochosas do Colorado.
Após uma semana de camping selvagem, o relógio biológico dos participantes se alinhou com o tempo solar. Em outras palavras, a noite biológica passou começar no pôr do sol, e terminar quando acordamos logo após o nascer do sol. Todos passaram a dormir e acordar em sincronia com a natureza. Esses ritmos são estudados pela cronobiologia e a glândula pineal exerce papel fundamental em todo o processo, pois é ela quem regula o hormônio do sono: A Melatonina.
Veja o que diz uma matéria sobre cronobiologia publicada na Revista Super Interessante:
“Os ritmos são herdados e os fatores ambientais, a que chamamos de sincronizadores, servem apenas para ajustar os ponteiros dos relógios biológicos”, esclarece o neurofisiologista José Cipolla-Neto, um dos fundadores do grupo multidisciplinar que estuda o assunto há oito anos na Universidade de São Paulo. A cronobiologia afirma que a maioria dos ciclos biológicos humanos se dá num período de 25,2 horas – daí a expressão ritmo circadiano, cerca de um dia.
Existem, é claro, diferenças de pessoa para pessoa: a “zero hora” de uma não é necessariamente a de outra. Os matutinos acordam e dormem cedo, enquanto os vespertinos preferem ir para cama por volta das 3 da madrugada, para só acordar perto do meio-dia. Isso é muito significativo, pois os ciclos de todas as funções são arrastados pelo ciclo do sono. Em qualquer caso, os estímulos externos servem apenas para sincronizar os ritmos internos com o ambiente, pois o organismo não se comporta à noite como de dia, importando pouco o fato de se estar dormindo ou acordado. “Nos seres humanos há um sincronizador muito particular: as relações sociais”, ressalta Cipolla.
A luz, porém, é de longe o sincronizador mais poderoso para a maioria dos seres vivos. Impressionadas pela luminosidade, as células da retina disparam através dos nervos óticos uma mensagem elétrica que alcança o hipotálamo, na base do cérebro. Além de comandar as glândulas do organismo, o hipotálamo possui um pequeno núcleo onde se localiza o relógio biológico, considerado essencial à manutenção dos ritmos. A luminosidade do dia impede de trabalhar a glândula pineal, localizada na área dorsal do cérebro e comandada pelo hipotálamo. Desbloqueada à noite – pois a luz artificial é muito fraca para produzir o mesmo efeito -, ela começa a liberar um hormônio, a melatonina, que, além de induzir o sono, age como uma espécie de mestre-sala para todos os ritmos biológicos.
“É como se o organismo compreendesse que existe um antes e um depois da melatonina”, tenta definir Cipolla. A melatonina, ainda por cima, estimula certas células imunológicas que combatem tumores – estes, descobriu-se recentemente, se desenvolvem mais depressa durante o dia. Algumas horas após o início da produção de melatonina, outra glândula – a hipófise – começa a segregar o chamado hormônio do crescimento, cujo pico no organismo se dá por volta das 3 da madrugada. Estes são responsáveis, por exemplo, pela renovação das células, um processo que se repete noite após noite, ritmicamente. Outro hormônio, o cortisol, é produzido pelas glândulas supra-renais pouco antes de a pessoa despertar.
Parece então que o estilo de vida moderno, a vida em grandes centros urbanos, fez desregular nossa “conexão com a natureza” e talvez seja esse um dos fatores das diversas doenças que afetam milhões de pessoas todos os anos. O ciclo de noites mal dormidas geradas pela desregulação do Ritmo Circadiano leva ao stress e o stress por sua vez acaba por abrir as portas do nosso firewall natural, o sistema imunológico.
Portanto, se bater o stress aí, não pense 2 vezes. Coloque a mochila nas costas e vá acampar no meio do mato por uma semana… e não leve o celular!