Ontem, retornando de minhas férias, assisti a um filme ótimo no avião. Muito além de me distrair do medo que tenho da decolagem e aterrisagem, dos solavancos e turbulências, o filme “Hidden Figures” (no Brasil com o título de “Estrelas além do Tempo”) me fez refletir sobre a determinação que move algumas pessoas em busca de seus sonhos, sobre coragem, humildade, esforço e muita, muita garra.
O filme, lançado no Brasil no início de 2017, narra a história verídica de três cientistas negras que atuavam como “computadores” na NASA e foram fundamentais para a ida do primeiro americano ao espaço, em 1962.
Porém, a história que nos fascina por trás dos fatos é a descoberta de que houve mulheres _ mesmo num tempo em que o machismo predominava _ que conseguiram se destacar por sua inteligência, capacidade e determinação, mesmo com a agravante opressão do racismo.
O fato das protagonistas do filme _ e da vida_ serem cientistas mulheres, e ainda por cima negras, vencendo batalhas diárias contra a segregação e o machismo, e ainda assim vencendo cada uma dessas batalhas com muita luta e empenho, nos assombra e comove porque desconstrói nosso preconceito e nos afirma com toda clareza que, por trás dos magníficos feitos do homem rumo ao espaço, havia mulheres negras que atuavam com inteligência e competência nos bastidores da operação.
O site oficial da NASA denomina uma dessas mulheres, Katherine Johnson, como “A menina que amava contar”. Hoje ela tem 99 anos e é a única do grupo que ainda está viva. Sua história é enfatizada no filme, pois foi a responsável por calcular a trajetória do primeiro americano no espaço. Mesmo sendo superior aos seus colegas de trabalho, ela tinha salários menores e era obrigada a usar um banheiro próprio para mulheres negras, que ficava em outro prédio e a fazia perder muitos minutos correndo até lá, às vezes debaixo de chuva.
Histórias importantes como essa não deveriam passar despercebidas. Mesmo tarde, Hollywood trouxe à tona as conquistas dessas três grandes mulheres que colocam em xeque mate toda desconfiança, descrença e olhar torto para as diferenças entre os sexos e entre as raças.