Chegamos a um momento na vida em que não dá mais para trilhar o caminho que os outros querem que nós façamos. Por vezes, demoramos anos ou até várias vidas para perceber que vivemos sob o jugo dos outros. Vamo-nos arrastando pelas regras, pelas leis, pelas certezas da sociedade e suas formas de escravatura mais subtis. Quem disse, por exemplo, que o casamento é para toda a vida? De que serve alimentar instituições que não servem o seu propósito? De que serve manter uma relação que não é alicerçada pelo amor e sim pela aparência?

O homem vai criando a sua própria ditadura, bebendo muitas vezes a bebida amarga do seu próprio veneno, e esquece-se de que acima dele está Deus. Não o Deus castigador que o próprio homem inventou, mas sim o Deus do amor e da justiça, que faz tudo certo para aprendermos as diferentes lições que devemos integrar para evoluirmos. Então para quê tantas regras forjadas no coração dos homens?

Todos nós temos o desejo íntimo de sermos queridos, de sermos amados pelos que nos rodeiam, mas quantas vezes nos esquecemos de quem somos só para termos essa atenção, para nos bajularem a alma e a vida com atos e palavras que são uma peneira à nossa liberdade. Qual foi a última vez que te sentiste livre? Qual foi a última vez que foste fiel a ti mesmo, vivendo em harmonia com as tuas vontades? Quantas vezes deixas de viver o teu sonho ou de simplesmente viver a tua vida só para não ferires os outros, só para agradar, só para que tudo fique bem à tua volta menos tu?? Que contentamento é esse que te deixa feliz pela metade?

É certo que precisamos uns dos outros para viver. Precisamos de interação, precisamos de emoção, precisamos de nos confrontar com a diferença de ideias e de vontades, mas o que fazer quando nos subjugamos uma e outra vez, consumidos pelo medo do confronto, da desilusão ou até da própria solidão? O que fazer quando detestamos o nosso emprego ou quando questionamos o conceito de família, que em tempos fez tanto sentido? O que fazer quando já nada faz mais sentido?

Eu acredito que cada pessoa é uma chave na nossa vida. Cada pessoa que cruza o nosso caminho traz sempre uma lição, seja apenas um sorriso para alegrar o nosso dia seja uma grande lição de perdão. Nada é em vão. Somos todas peças fundamentais na aprendizagem e evolução uns dos outros, ainda que não tenhamos consciência disso. No que toca a relacionamentos afetivos, a família é sempre o nosso maior karma. Quer se trate de pai ou mãe, de filho, irmã, avó, marido ou mulher… a nossa família é um grande poço de sabedoria para ascendermos enquanto seres espirituais que somos.

Deparo-me muitas vezes com questões de relacionamentos amorosos. O que dizer a uma mulher que vê a sua família desfragmentada, simplesmente porque o amor entre ela e o seu marido acabou? Como ficarão os seus filhos? Será que nunca foi amor? Será que, para manter a segurança e conforto de todos, esta mulher deve submeter-se a regras e ideias que não são as suas para toda a vida, porque assim o prometeu há não sei quantos anos num altar de uma igreja? Quando já nada resta a fazer, quando se esgotam todas as possibilidades de costurar um casamento pelas pontas, o melhor é não fugir mais à dura decisão: cada um deve seguir o seu caminho.

Não significa que não foi amor. A verdade é que foi amor. As pessoas mudam e evoluem ao longo dos anos e seguramente que ninguém se casa a pensar que um dia vai divorciar. Naquele momento, naquela altura da vida, tudo fazia sentido. Entretanto, as mudanças foram acontecendo e muitas vezes evoluímos em sentidos diferentes, cruzando a vida de outras pessoas ao longo do caminho. Não nos devemos crucificar por isso. Não devemos carregar a culpa de uma situação que estava no nosso destino. As pessoas têm determinada missão na nossa vida para ajustarmos e equilibrarmos o karma. São provações para aprendermos determinada lição e quem sabe a lição seja apenas para aprendermos a libertar-nos e a sermos livres.

Não fuja mais daquilo que sente. Não fuja mais da pessoa que você é. Sê fiel a ti mesma, sabendo que isso não é egoísmo, mas sim amor-próprio. Quando decidimos amar-nos, as pessoas certas para nós vão surgindo na nossa vida. Se sentes que fizeste tudo o que podias para resolver uma relação ou determinada situação e, mesmo assim, tens consciência de que não te serve mais, então não fuja mais. Aceita naquilo que não pode mudar, olhando para trás com carinho e gratidão por tudo o que viveste, tudo o que aprendeste. As pessoas que julgas abandonar também têm as suas lições, por mais que te custe aceitar a nova realidade. Tudo muda, tudo evolui, tudo está em constante transformação. Até o carvalho mais robusto e resistente muda as suas folhas a cada estação. Não fuja mais e assume quem você é e o que quer para a sua vida. Deus tem um plano.








Susana Vieira Ramos é Mestre de Reiki, com formação em Vidas Passadas, Leitura da Aura e Anatomia Energética. Iniciou o seu percurso profissional como professora de Português e Filologia Clássica, mas é no desenvolvimento pessoal e espiritual que realiza a sua missão de vida.