Sim, a vida é dura. Em tempos de supervalorização da literatura de autoajuda, em que se acredita que pensamento positivo resolve tudo e temos que agradecer simplesmente por estarmos vivos, é complicado admitir para si mesmo e para os outros que a vida é dura.
Este texto se destina a quem tem senso de realidade e não teme olhar para as próprias feridas. Este texto se destina a quem não teme reconhecer que a vida poderia ser trocentas vezes melhor e que mesmo quando estamos bem e felizes, a vida é dura , incerta , cheia de perigos e possibilidades assustadoras. Sim, existem as possibilidades agradáveis também.
Viver é estar mega feliz de manhã porque tivemos uma noite incrível e logo à tarde nos deparar com uma notícia péssima. Viver é estar se debulhando em lágrimas para logo em seguida ser invadido por um pensamento redentor que nos salva da tristeza e desespero.
Viver é alternar estados de espírito. É passar pelo pior e pelo melhor , às vezes, numa única semana, num único dia. É ganhar e ficar com medo de perder. É perder e se sentir apaticamente tranquilo por saber que não há mais nada a perder.
Viver é lutar diariamente. Pela sobrevivência material. Pelo amor próprio. Pelo amor da pessoa amada. E quando estamos bem de dinheiro, estamos mal no amor. E quando estamos bem no amor, estamos mal de dinheiro. E quando temos dinheiro suficiente para viver e temos a alegria do amor, nos falta saúde ou nos falta qualquer coisa que nem sabíamos que era importante para a gente quando a tínhamos.
Sim, sempre uma das teclas do piano está quebrada. Sempre estamos em conflito em relação a algum tema ou à alguma pessoa ou a nós mesmos. Ou é o presente que não está bom. Ou é o futuro que nos amedronta. Ou é o passado que vem tomar com a gente um café adoçado com fel.
Sofremos pelo o que aconteceu e por aquilo que também poderia ter acontecido e não aconteceu e nós queríamos que acontecesse. Sofremos até mesmo por aquilo que não aconteceu e não queríamos realmente que acontecesse.
Os otimistas acharão o meu texto profundamente pessimista. Mas o meu objetivo não é fazer ninguém se deitar em posição fetal. Pelo contrário. É mostrar que a vida é isso mesmo e que se você está se sentindo confuso, triste ou sem saber o que pensar ou como agir diante de uma situação complicada , não há nada de errado com você. É isso mesmo. Esta é a vida: caótica , linda e implacável.