Antes, é preciso que eu explique: não, não resolvi dar ibope pra homem nem colocar eles num pedestal nos meus textos. Podem ficar tranquilas (os) (ou não, né?)
Nas minhas últimas andanças pela vida, nos últimos convites e últimas interações que tive, descobri coisas muito interessantes, pessoas bastante interessantes que falam sobre criação de filhos e mundo infantil e tudo o mais. Coisas que abriram bastante a minha cabeça e que me fizeram pensar sobre INÚMERAS coisas, o que foi ótimo. Mas uma das coisas legais que esses últimos tempos me proporcionaram foi conhecer a blogosfera paterna. Pais, que falavam sobre paternidade e que produziam conteúdo para outros pais.
E eu vi que o público deles ainda é muito mais feminino do que masculino.
Por que será, se o público alvo é logo o masculino?
Porque homens ainda não se preocupam em serem pais. Se preocupam em serem padrinhos provedores.
Eu, como mãe, estou sempre buscando conteúdo, a todo o tempo, sobre maternidade. Leio revistas, assisto vídeos no Youtube sobre maternidade, criação de filhos, pesquiso cardápios, estou sempre em busca de mais conhecimento sobre como poder dar o melhor para o Gael – não em termos financeiros, mas em termos de qualidade da criação.
E eu percebo que os pais, quase sempre, acham que sustentar (ou pagar pensão), fazer um carinho no final do dia e tomar conta quando a mãe não está é criar.
Outro problema grave, que tem suas origens na sociedade machista patriarcal, é o de que o pai é o que corrige, que ensina, que é rigído, enquanto a mãe, doce, é a responsável pelo mimo, pelo carinho. Quando, convenientemente, isso se torna trabalhoso demais, é muito fácil: o pai diz amém e finge transferir a responsabilidade à mãe, com a famosa fase “sua mãe quem decide”.
Se exime da responsabilidade em decisões sérias, transferindo elas para a mãe, mas na hora de ralhar por uma birra, é o primeiro a dar um grito. Não se informa de nenhuma maneira sobre as crianças, a sua alimentação e o seu bem-estar, porque acha que trabalhar e prover o sustento já é fazer demais. Troca as fraldas e dá mamadeira e acha que merece troféu porque quando ele cresce, você joga futebol ou vê desenho junto com ele. Queria te dizer que infelizmente, você não cria filho nenhum: você só toma conta. E tomar conta de uma criança não te faz um pai: te faz um padrinho. Pai é outra coisa.
Quando fui mergulhar nesse universo, do que os pais falam na internet, percebi que eles iam muito além do “trocando fraldas”. Positivamente. Produz-se conteúdo sobre criação ativa. Alimentação nutritiva. Criação com apego. Participação no processo do gestar da mulher. Respeito à figura da mãe de seus filhos ou filhas. Disciplina positiva.
E juro que a primeira coisa que pensei foi: “gente, eles são mães!”
Mas não, eles não são. Eles só são pais que são pais de verdade.
Pais de verdade não apenas tomam conta de seus filhos. Eles educam.
Pais de verdade se colocam como agentes no que diz respeito às necessidades dos seus filhos. Eles metem o pé na porta e vão buscar – como eu, como as maioria das mães – ler sobre o que é amamentação, o que é alimentação nutritiva, o que é disciplina positiva, porque a fruta é mais legal que o suco.
Pais de verdade se importam.
Para pais de verdade, o tempo é precioso. A qualidade do tempo com o filho interessa. A qualidade do que é dito para ele também. Pais de verdade não vêem o filho como perda de tempo, mas como ganho de tempo.
Para pais de verdade, um fim de semana de 15 em 15 dias é muito pouco. Porque se uma mãe trabalha e se vira para cuidar do filho, ele se questiona “por que eu também não posso?”. Pais tomam iniciativa. Pais de verdade vão além do presente caro e da pensão alimentícia.
Pais de verdade sabem o número do pediatra. Sabem as alergias. Respondem à agenda do colégio. Fazem o dever de casa. Se importam com a alimentação do filho. Se importam com a reprodução do exemplo.
O pai, aquele que se dispõe a ser pai, põe o pé na porta e encara o filho com a cara limpa, não vira só cuidador. Ele se importa com o que o filho vê na TV, qual desenho ele está vendo, se aquele desenho influi na vida dele.
Quer criar e educar um ser humano de verdade, e se propõe a essa missão.
Quer aproveitar cada minuto com o filho, e aprender a lidar com os estresses que isso traz.
Pais de verdade são bons pais só por serem pais.
E por que tudo isso tá sendo falado aqui, num blog sobre maternidade?
Porque a maternidade só funciona, quando a mulher tem consciência de que a responsabilidade dela não é só dela, e cobra isso da paternidade, do homem, do genitor, pai, quem seja.
Porque não é só NOSSA tarefa pensar na escola, na saúde, na criação, no desenvolvimento, na educação.
Porque a gente ainda tá muito acostumada a achar que um cara é um pai legal porque ele paga pensão e visita de 15 e 15 dias. E ainda tem a pachorra de acreditar que isso é um pai presente.
NÃO, NÃO É UM PAI PRESENTE, MANA! É UM PAI QUE CUMPRE OBRIGAÇÃO.
E sabe por quê?
PORQUE PAI PRESENTE NÃO EXISTE!
Ou é pai, ou não é.
Pai presente não existe porque não existe “mãe presente”.
Ninguém pergunta se a mãe participa, paga pensão direitinho…
Ou ela é uma mãe ou não é. E ainda conta com o julgamento se ela é boa, má, péssima. Ou se não é nada, só está cumprindo a obrigação dela.
A gente que se contenta com pouco!
E isso é libertador. Pra gente. Pra nossa sanidade mental.
É libertador, principalmente, porque propicia aos nossos filhos uma criação mais rica.
Toda mãe é capaz de criar seu filho maravilhosamente bem sozinha, e isso não é questionável de forma alguma. Fomos educadas na porrada a fazer isso, a gente tira de letra.
Mas aquele ditado de que é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança não estava de todo errado. Uma criação com pai e mãe presentes, ativos e dedicados, garante uma educação muito mais rica para a vida dos nossos filhos.
Mais cheia de amor, com mais oportunidade de desenvolvimento.
É necessário que a gente cobre sim, que esse conceito mude.
E isso não é “ser pedagógica com macho”. É ser pedagógica com a sociedade. A militância serve para isso.
A cultura patriarcal, o machismo, o sexismo, a misoginia, o rosa e o azul… Tudo isso só existe porque o sistema foi muito pedagógico. Pra lá de pedagógico.
Então a gente também tem que ser, ou perde a luta.
E a luta começa, quando a gente entende que para criar seres humanos, é necessária uma dedicação intensa. Dedicação em que pagar pensão, visitar, sustentar, dar presente não é nem o passo 1. É o passo 0.
E a criação de crianças é constituída de vários passos, e que esses passos são unissex. Não precisa ser mulher nem ter vagina para percorrê-los, não.
Precisamos não só nos formarmos como mães de verdade, mas também exigir pais de verdade. Que vão além da obrigação.
Pai de verdade vai na reunião de pais. Vai no pediatra. Compra os remédios. Leva na escola. Busca da escola. Brinca junto. Leva na festinha infantil. Procura um modo de corrigir o filho (e não gritar ou bater porque se sentiu com o orgulho de homem ferido). Pesquisa sobre a criação tanto quanto você. Cuida. Ama. Beija. Abraça. Chora. Sente. VIVE a paternidade. INTENSAMENTE.
Um dia já escrevi aqui que para um pai ser presente, ele precisaria ser uma mãe.
Mas hoje, vejo que para um pai ser presente, ele só precisa querer. Querer ser pai de verdade.