Em um mundo que grita felicidade e sucesso pelos cotovelos, sobretudo nas redes sociais, é difícil falar sobre fracasso e suas inevitáveis implicações. No entanto, por isso mesmo, parece-me que discorrer um pouco sobre esse assunto tão temido é imprescindível.
O fracasso ocorre toda vez que você investe tempo e esforço em um projeto e este dá errado. Como somos seres falíveis, há de se entender que, mais cedo ou mais tarde, todos nós iremos fracassar. Não há como escapar dele. Aliás, até existe uma maneira de não fracassar – qual seja – não ter sonhos e traçar projetos para a vida. Todavia, em que medida podemos chamar de vida uma existência sem sonhos, sem projetos? Talvez, isso ajude a explicar a tamanha “felicidade” que possuímos, uma vez que ao demonizar completamente o fracasso, as pessoas, por consequência, deixaram de sonhar, a fim de não fracassarem. Além do mais, projetos dependem de esforço e tempo, coisas também não muito valorizadas na nossa sociedade líquida.
Entretanto, para os que ainda não sucumbiram à ditadura da “felicidade”, fracassar é um verbo presente na vida, o que me leva a escrever esse texto, sendo eu um fracassado por excelência. Antes de mais nada, uma pergunta precisa ser feita: os fracassos nos levam à felicidade? Não. Desculpem-me, mas estaria mentindo se dissesse que sim. Porém, a bem da verdade, eles nos levam, caso saibamos aprender, a um elemento fundamental para que se possa ser feliz: o autoconhecimento.
A meu ver – e isso não é a verdade absoluta, portanto – para que o sujeito possa ser feliz é necessário que ele se conheça verdadeiramente, a fim de que possa buscar no mundo aquilo que realmente lhe apraz e traz alegria a sua alma. O fracasso entra nesse processo por ser da sua característica a solidão. Sim, o fracasso é por natureza um ser solitário e isso ocorre, entre outras coisas, por ser extremamente difícil, para os que nos cercam, entender como nos sentimos ao não conseguir realizar algo que planejamos durante tanto tempo e trabalhamos duro para que acontecesse.
Falta empatia nessas horas (e em tantas outras) para que se entenda de que forma um fracasso abala a estrutura emocional de uma pessoa, acima de tudo, em um ambiente tão hostil a ele, como o nosso. Desse modo, nesses momentos de fracasso, de um lado há a dor de perceber-se em muitas situações sozinho; mas de outro, essa solidão pode permitir que entremos em contato com o nosso interior sem interferências externas, analisando o que realmente queríamos, o que queremos e de que maneira devemos buscar esses desejos.
Sendo assim, o fracasso, por meio da solidão, pode levar ao autoconhecimento, que nos permite conhecermo-nos melhor, pois muitas vezes é preciso ir até o subterrâneo para, então, saber o que precisamos fazer na superfície. Esse processo de autoanálise, embora doloroso, mostra-nos maravilhas escondidas (ou não percebidas) em nosso caminho, bem como, leva-nos ao encontro de uma felicidade mais profunda e verdadeira, já que é fruto de algo latente no mais profundo do nosso ser, lugar em que se guardam as verdades.
Ninguém gosta de cair, entretanto, às vezes isso é importante para que possamos nos reencontrar e amadurecer. Sei o quanto fracassar é doloroso, triste, cria medos e ansiedades, mas é desse turbilhão de emoções que somos constituídos e é preciso aprender a lidar com eles, tornando-os nossos amigos — assim como as alegrias — para que possamos aprender, ouvir o que eles têm a nos dizer e criar novas rotas, novos caminhos. Afinal, nunca há um só caminho para o que se deseja, até porque, no meio do caminho os desejos podem mudar e, então, buscar novos roteiros é inevitável.
No fim das contas, de fracasso em fracasso ninguém se torna feliz. No entanto, podemos nos tornar mais fortes, porque estamos mais próximos do que somos essencialmente e isso possibilita que saibamos em que lugar aquilo que a nossa alma precisa se encontra, mesmo que seja um novo fracasso, uma nova busca interior e uma nova aprendizagem.
Os fracassos levam a ultrapassagens e as ultrapassagens a descobertas. A felicidade, por sua vez, não está nem um ponto, nem em outro; ela está no caminho que se faz até que novas descobertas sejam projetadas, no mundo externo e no mundo interior. Precisa-se conhecer a infinidade do universo, para que se conheça a infinidade de alegrias presentes cotidianamente entre os fracassos e os sucessos.