Dia desses ouvi um marido gritando com a esposa ao telefone. Ele dizia, impaciente, que estava ocupado, que ela devia parar de incomodá-lo. Infelizmente quando se vive por um longo tempo com alguém é preciso recusar as armadilhas do costume. O costume transforma o ótimo e o péssimo em comum.
Dentre outras coisas, aquele homem tinha se acostumado a tratar a mulher daquela forma desrespeitosa. E espero eu que ela não tenha caído na armadilha de também se acostumar com aquilo, aceitando para si tal tratamento. Mas não só o costume tinha entrado em jogo. Com certeza o respeito ali tinha sido enterrado, há tempos, em algum canto indigente.
O primeiro contato que tecemos com o outro sempre acontece tendo o respeito como premissa. Respeitamos o mundo do outro e desejamos ter o nosso mundo respeitado. O amor nasce dessa dinâmica. Ele é sempre respeitoso. Não existe possibilidade de amor onde não existe respeito. O respeito é a chave para o amor. Aquela chave que abre as portas mais fascinantes, aquelas guardadas no fundo da nossa alma.
Quando o respeito acaba é como se o outro quisesse abrir nossas portas a pontapés. A delicadeza da chave confiada é trocada pelos chutes que despedaçam o que a confiança construiu.
Se por ventura a relação que tecemos com o outro padecer de respeito, pode ter certeza que o amor já bateu em retirada há séculos. E não adianta o outro dizer que nos ama, que nos quer bem se o que ele pratica é exatamente o contrário do que diz. Devemos tomar cuidado com a definição que fazemos de amor e olhar para a realidade com firmeza. Incompreensão, impaciência e descaso não podem, nem de longe, ser confundidos com amor.
O respeito é a última esperança de que haja alguma chance de entendimento e alegria em um relacionamento, sem ele, certamente, o amor já deixou de existir e deu lugar ao medo e a outros sentimentos deveras tristes e incapacitantes. Sentimentos estes bem distantes daquilo que merecemos em qualquer relacionamento verdadeiro.