Hoje vamos refletir um pouco sobre a relação entre Terapeuta e Cliente. Por vezes, torna-se difícil estabelecer os limites da relação, principalmente no âmbito das terapias holísticas e alternativas, muito em voga nos tempos atuais, e que despertam o melhor que há em nós.
A realidade é que é muito complicado desenvolver a neutralidade no que diz respeito à socialização entre ambas as partes. Se por um lado o Cliente procura um apoio para os seus problemas e questões mais profundas, por outro lado o Terapeuta tem o desejo inegável de ajudar a curar o próximo. Contudo, há que definir uma fronteira nessa relação, ou então o trabalho de ambos pode ir por água abaixo. Nem o Cliente pode viver em função da opinião e das ações do Terapeuta ou esperar que este último esteja sempre disponível, nem o Terapeuta pode achar que vai curar e resolver as questões do outro. De outra maneira, cria-se uma relação de codependência, em que os envolvidos ultrapassam o bom-senso e o profissionalismo.
É certo que este é um meio em que se considera muito o lado humano e espiritual, mas não é por isso que não devem existir regras. É importante o Terapeuta ser afável, educado e prestável, mas não pode cair na armadilha de querer ser o amigo disponível para todos os clientes que o procuram sem ser no âmbito terapêutico. Enquanto Terapeuta, acho que é importante, após uma consulta, querer saber novidades do Cliente. É aceitável mandar uma mensagem ou fazer um telefonema, símbolo de preocupação e carinho pela pessoa. No entanto, é sempre um risco, pois pode ser-se mal interpretado. Será que é intrusão? Será que o cliente vai ou não gostar? Será que o Cliente vai pensar que é imposturice?
O excesso de preocupação e da confiança dada pelo Terapeuta pode gerar algumas situações que são prejudiciais a essa relação que deveria ser profissional:
1. O Cliente passa a procurar o Terapeuta por interesse, mandando-lhe mensagens ou fazendo telefonemas, ou seja, quando precisa de ajuda para resolver um problema;
2. O Cliente pode ficar a saber de mais da vida pessoal do Terapeuta e falar sobre isso a outras pessoas, prejudicando assim o seu trabalho;
3. O Terapeuta pode ficar constrangido na hora de cobrar a consulta, pois passou o limite da relação profissional;
4. O Cliente pode levar a mal o facto de o Terapeuta cobrar a sessão e pensar que este só quer dinheiro;
5. O Cliente pode ter ciúmes de outros clientes a quem o Terapeuta dá mais atenção;
6. O Terapeuta pode não conseguir desenvolver a neutralidade e objetividade que seriam expectáveis numa consulta;
7. O Terapeuta pode ficar frustrado por não conseguir resolver o problema do Cliente, pois está demasiado apegado;
Então, considerando as questões acima mencionadas, é importante considerar que:
1. O Terapeuta não pode estar sempre disponível fora do seu horário de trabalho;
2. O Terapeuta não deve tomar cafés com todos os clientes que precisam de conselhos ou de desabafar. Para isso, o Cliente deve marcar consulta e valorizar o trabalho do Terapeuta;
3. O Cliente não pode viver em função da opinião do Terapeuta e das suas orientações. Deve deixar a vida fluir e ser responsável pelas suas ações;
4. O Terapeuta tem que ser cordial e educado com todos os clientes e por vezes isso implica lidar com pessoas com quem não simpatize, como em todas as profissões que estão em contacto com o público. Um médico faz bem o seu trabalho e não se identifica necessariamente com os seus pacientes;
5. O Terapeuta não deve ficar desmoralizado quando as pessoas lhe ligam fora de horas para falar das suas vidas e nem sequer lhe perguntam se está tudo bem;
O papel do Terapeuta também é dar um ombro amigo quando é preciso e deve, sim, ajudar e orientar as pessoas no melhor caminho. No entanto, não pode levar os problemas dos clientes consigo para casa. Ele deve saber, como bom profissional, que não pode agradar a todos e que deve estabelecer limites relativamente aos vínculos com os seus clientes. Haverá com certeza situações em que surgirão amizades sinceras entre as duas partes, e isso é perfeitamente saudável. É importante estar-se disponível para ouvir fora do contexto das consultas, mas a outra parte tem que saber também valorizar e respeitar o trabalho do Terapeuta.