Ter alguém a quem amar, por quem partir e para quem voltar nos mantém no caminho.

Quando a festa acaba, a luz apaga, o silêncio baixa e um vazio preenche o lugar onde estamos, eu penso na gente. A solidão me bate, a tristeza me apanha, uma angústia me corta e eu penso na gente.

À noite, quando o medo me rasga a carne feito a carcaça de um botijão de gás que explodiu, eu penso na gente.

Agarro nossas lembranças, visito nossos planos, corro e me escondo da chuva nas casinhas simples de nosso mundo perfeito. Eu penso na gente e uma coragem imensa me acende por dentro, me aquece e me cuida até o dia nascer de novo e eu voltar para perto de nós.

Não fosse a gente, eu já tinha desistido faz tempo. Já havia largado a mão, soltado a corda, jogado a toalha. Eu juro que já tinha metido os pés e sumido no mundo não fosse a gente.

Sigo para longe, voo alto, sonho grande e volto sempre para perto da gente, ao lugar onde moram nossas saudades em casinhas geminadas, nossa ruazinha estreita de paralelepípedos repleta de árvores, tantas árvores que quase não se pode ver o céu.

Caminho ao seu lado por calçadas irregulares, ruelas imperfeitas, descidas escorregadias e subidas esburacadas, sob o sol e sob a lua, enquanto o vento sopra ternura sobre a vida.

Penso na gente e sei que minha casa é onde estivermos juntos.

Eu penso na gente e acho que sentir amor torna a vida mais simples e generosa. Ter alguém a quem amar, por quem partir e para quem voltar nos mantém no caminho. Eu penso na gente e acho que um dia faremos coisas grandes, um pelo outro e pelos outros. Penso na gente e sei que viver é um trabalho bonito. Eu penso na gente e vou à lida por nós mesmos, pelos nossos e pelo resto do mundo.

Penso na gente e sinto um amor grandioso e feliz. Eu penso na gente. Eu penso na gente.








http://www.revistaletra.com.br/ Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.