Lembro de um dia da minha infância em que estava de extremo mal humor. Não me recordo exatamente o motivo. Mas estava caminhando na rua voltando para casa e ouço alguém que estava do outro lado da rua chamar pelo meu nome.
Percebi que ele estava com outros amigos mas sequer olhei para o lado para ver quem eram. Fiz que não escutei. Ele deve ter pensado que não ouvi e chamou de novo. Dessa vez mais alto.
No meu mau humor, de novo fiz que não escutei. Imaginei, dessa vez ele percebeu que hoje “não estou para bons amigos” como diz a expressão. Mas ele insistente, não se deu por vencido e gritou bem alto “Ae, Juan! Escoteiro”.
Aí que fiquei sabendo que era algum colega do meu tempo de escoteiro. Mas realmente não vi quem era. Estava fechado para o mundo naquele momento e de novo não dei atenção propositalmente.
Como quem diz “Tô nem aí. Ele que perceba que não estou a fim de conversa”. Dessa vez ele desistiu. Certamente deve ter me achado a pessoa mais antipática da face da Terra. Toquei reto só esperando a hora de chegar em casa.
Hoje fico pensando. Quem será que era aquela pessoa mesmo?
O que teria acontecido se eu tivesse respondido. Poderia ter atravessado a rua, conversado um pouco, me divertido com eles. Provavelmente logo acabaria meu mau humor e meu dia teria sido muito melhor. Uma oportunidade perdida.
Martin Seligman, renomado psicólogo, ex-presidente da Associação Americana de Psicologia, conta uma história em que certa vez estava num vôo de avião olhando pela janela e fechado nos seus pensamentos.
Quando então o passageiro sentado ao seu lado, de nome Leslie, chama ele para uma conversa. Martin sem vontade alguma de conversar com alguém, simplesmente deu um aperto de mão daqueles sem força e vontade alguma como quem diz “Não estou interessado nesse papo”.
Leslie insistiu, começou a contar um pouco sobre a sua vida e conseguiu que Martin acabasse se abrindo e falando um pouco sobre si também.
Martin então contou sobre suas teorias na área da psicologia. Leslie então fez comentários e sugestões muito enriquecedoras para Martin.
As questões levantadas por Leslie nessa conversa brotaram em Martin a semente de um novo projeto na área da psicologia que acabou lhe rendendo enormes frutos na sua carreira futura.
Martin diz ao final da história que nunca mais viu Leslie e que devia uma carta à ele e complementa dizendo que o seu livro é essa carta. [1]
O que essas duas experiências têm em comum? O fato de que às vezes nos fechamos no nosso mundinho ignorando pessoas e, por consequência, oportunidades que podem resultar em algo positivo.
Tão positivo quanto algo revolucionário como foi para a carreira de Martin ou simplesmente um dia melhor que se poderia ter tido.
Você consegue lembrar das últimas vezes que alguém tentou se aproximar de você e qual foi a sua receptividade? Se você é uma pessoa geralmente receptiva e aberta aos outros pode perceber os benefícios disso.
Agora, se não for, faça um exercício e pense o que essa pessoa poderia ter trazido de interessante para sua vida. Nem que seja simplesmente uma conversa agradável e descontraída para fazer do seu dia um dia mais feliz.
Grande abraço! Juan