Por Fabrício Carpinejar
Por que você se casou? Um amigo me fez essa pergunta cretina, daquelas constrangedoras perguntas de amigo.
Eu me casei porque a minha vida não teria sentido sem ela. Toda a minha memória já tem ela. Parece que ela se apossou inclusive daquilo que não viveu comigo, encontrou um jeito de se infiltrar na minha infância e na minha adolescência. Quando conto o meu passado, já a imagino junto de mim. Não sou mais o Fabrício dentro de mim, sou um casal dentro de mim, sou eu e Beatriz dentro de mim.
Não é só a vontade de estar perto, é a necessidade de estar perto. Eu só durmo bem com o cheirinho dela. Eu só me acordo bem quando ela sussurra: “ainda é cedo”. Eu só me vejo pleno quando ela está por perto – sempre está por perto mesmo quando não está presente fisicamente.
A distância morre com o casamento. O tempo morre com o casamento. Eu me tornei todas as idades de minha vida com ela. Posso ir dos meus 7 anos aos meus 17 anos aos meus 27 anos aos meus 37 anos em pouquíssimas frases. Tenho hoje um elevador de lembranças.
Rimos como crianças, nos amamos como adultos. As palavras chegam atrasadas diante do nosso olhar cúmplice. Ela me adivinha antes que eu diga algo. E que monstruosa alegria confessar, sem medo da dependência: “ninguém me conhece como você”. É muito maior do que o “eu te amo”.
Gravo informações que servem unicamente para aumentar a saudade. Jamais pensei em sentir saudade de alguém quando estou com a pessoa.
Por exemplo, eu sei que ela morderá a torrada de pé. Sua primeira mordida é de pé, apenas se sentará depois para o café. Eu sei que ela tomará metade do copo d’água de noite, não mais que a metade. Eu sei que ela não vai vestir a primeira roupa que escolher. Para que serve guardar isso? Para amar mais.
Amamos para que o outro nos lembre o quanto somos importantes quando esquecermos um dia de nosso valor.
Por que me casei? Pois encontrei quem me fará nunca desistir de mim.