Você está fazendo todas as perguntas ERRADAS sobre o caso Amber Heard e Johnny Depp
Por que hesitamos tanto em acreditar nas mulheres que se dizem vítimas de violência doméstica?
Amber Heard fez tudo que “deveria” fazer. Sendo uma mulher jovem que estava acusando um dos atores mais famosos do mundo, Johnny Depp, de violência doméstica, ela não teve escolha.
Depois de Depp ter supostamente jogado um celular em sua cara, atingindo-a no olho, a atriz de 30 anos deu entrada em um pedido de divórcio. Ela foi ao tribunal pedir uma ordem cautelar temporária de afastamento contra Johnny Depp, concedida por um juiz.
Para subsidiar sua queixa, ela apresentou evidências fotográficas de seu rosto machucado. Sua vizinha assinou uma declaração afirmando que o relato dela era verídico e dizendo que viu Amber Heard “chorando, tremendo e com muito medo de Johnny”.
Em documentos judiciais, Heard alegou que Johnny Depp a agrediu verbal e fisicamente durante todo o tempo do relacionamento deles, que começou em 2012. Disse que em dezembro de 2015 houve um incidente grave em que ela achou que correu risco de vida.
“Aguentei fortes agressões emocionais, verbais e físicas de Johnny, incluindo agressões furiosas, hostis, humilhantes e ameaçadoras sempre que eu questionei a autoridade dele ou discordei dele”, ela escreveu. “Ele frequentemente é paranoico, e seu temperamento explosivo é excepcionalmente assustador para mim.”
Mas, apesar das evidências fotográficas que ela apresentou, de sua declaração juramentada e da testemunha que corroborou suas palavras, a reação do público vem sendo de descrença.
Amber Heard é a alegada vítima nesta situação, mas a impressão é que é ela quem está sendo julgada. Boa parte da cobertura do caso pela mídia se concentrou em levantar dúvidas que questionam sua credibilidade.
Vamos examinar uma a uma estas supostas “provas” de que ela não pode estar falando a verdade.
Se Amber Heard foi agredida, como ela afirma, por que foi fotografada no sábado sorrindo?
Quanta audácia dela em abrir um sorriso! As vítimas de violência doméstica são seres humanos complexos, que têm muitas facetas. Mesmo que estejam tristes ou humilhadas, ainda é provável que sorriam, deem risada e brinquem. Podem até ir ao cinema ou comer em público. Não cabe a nós policiar o comportamento de um indivíduo. Sorrir não é prova de nada, exceto que Amber Heard é humana.
Como podem ser verdadeiras as acusações contra Depp, quando a filha dele insiste que ele é “a pessoa mais doce e carinhosa” que ela conhece?
No fim de semana a filha de 17 anos de Depp, Lily-Rose, saiu em defesa de seu pai em uma série de posts no Instagram. Algumas pessoas estão interpretando isso como prova de que Depp não teria sido violento com Amber Heard.
Mas a verdade em relação aos agressores é a seguinte: eles podem ser amorosos e gentis com algumas pessoas em sua vida e violentos com outras. Não é inconcebível que Johnny Depp seja um pai maravilhoso para seus filhos e que ao mesmo tempo tenha sido violento com Amber Heard. As duas coisas podem ser verdadeiras ao mesmo tempo.
É um mito perigoso achar que todas as pessoas que cometem violência doméstica são monstros – e não pais, amigos e colegas de trabalho que convivem conosco.
Mas uma das ex-mulheres de Johnny Depp disse que ele nunca foi violento. Isso não seria prova suficiente?
Vanessa Paradis, que foi a companheira de Depp de 1998 a 2012, também saiu em defesa dele, em carta à qual o TMZ teve acesso.
“Em todos os anos que conheço Johnny, ele nunca me agrediu fisicamente. Isto não se parece em nada com o homem com quem vivi por 14 anos maravilhosos”, ela escreveu.
Repito: comportamentos violentos e abusivos podem existir em um relacionamento e não em outro. O simples fato de uma mulher dizer que Johnny Depp nunca foi violento com ela não desmente as acusações feitas por Amber Heard. Quer dizer apenas que essa dinâmica abusiva não existiu no relacionamento deles.
Se Johnny Depp realmente jogou um celular em Amber Heard, por que ela não prestou queixa à polícia?
Quando a polícia de Los Angeles compareceu, atendendo a uma denúncia, em 21 de maio, Heard se negou a prestar queixa inicial, levando algumas pessoas a especular sobre o porquê. Mas, como explicaram os advogados dela, é muito comum que vítimas de violência doméstica queiram proteger seus agressores e não envolver a polícia.
Em alguns casos, elas podem ter medo de retaliações. Podem não querer que o agressor perca seu emprego ou sua boa reputação. Podem sentir vergonha e não querer ser vistas como vítimas.
“Amber não prestou queixa à polícia porque quis proteger sua própria privacidade e a carreira de Johnny”, disseram seus advogados. “Os advogados de Johnny forçaram Amber a prestar queixa à polícia para deixar os fatos verdadeiros registrados, já que ela não pode continuar a se deixar aberta às alegações falsas, maldosas e nocivas disseminadas pela mídia. Amber sofreu anos de maus-tratos físicos e psicológicos da parte de Johnny.”
Se a situação fosse tão ruim quanto diz Amber Heard, ela não teria deixado o ator antes?
Essa é uma pergunta que as vítimas de violência doméstica ouvem sempre. “Por que você não caiu fora simplesmente?” Mas não é incomum que mulheres em relacionamentos abusivos fiquem com seus companheiros, por razões que são inteiramente suas.
Talvez a mulher ame seu companheiro. Talvez pense que as coisas vão melhorar. Talvez pense que pode ajudar a resolver o problema dele. Talvez não queira abrir mão de seus sonhos para o futuro. Talvez tenha medo do que vai acontecer se ela abandonar o companheiro.
Não temos como saber exatamente o que aconteceu no relacionamento entre Amber Heard e Johnny Depp. Mas o fato de ela não tê-lo deixado antes não prova nada quanto a ela falar a verdade.
Já o fato de ainda estarmos fazendo essas perguntas revela muito sobre o quão pouco as pessoas entendem a violência doméstica.
De acordo com os Centros de Controle de Doenças, uma em cada quatro mulheres nos EUA já foi ou será vítima de violência física grave por parte de um parceiro íntimo em algum momento da vida. Cerca de três mulheres por dia são assassinadas por dia por seus parceiros íntimos. E mesmo assim hesitamos tanto em acreditar em uma mulher quando ela vem a público falar que sofreu violência doméstica.
Por quê?