Educar os filhos não é uma tarefa fácil; eles não vêm com um manual de instruções debaixo do braço. É praticamente impossível nunca cometer erros na educação dos filhos, mas podemos fazer o nosso melhor para evitá-los ao máximo.
Muitos pais se sentem perdidos e não sabem o que fazer para reeducar um filho cujo controle eles já perderam. Nas últimas décadas observamos uma mudança muito grande no âmbito familiar, assim como nas relações entre pais e filhos. Esta mudança teve acertos muito relevantes, como um reconhecimento maior dos direito dos menores.
Porém, também gerou uma polêmica, em alguns casos muito intensa, sobre a forma como os pais devem enfrentar o controle e a supervisão de seus filhos. Em termos gerais, passamos de um modelo autoritário para outro mais igualitário, caracterizado por ideias mais ambíguas e abertas sobre como educar um filho.
Como dizíamos, não são poucos os pais que se queixam da falta de limites e de não saber como controlar seus filhos. É que agir como pais não é nada fácil em uma sociedade que pede liberdade para quem está sedento por ela e ainda não está preparado para fazer um bom uso da mesma.
Educar os filhos não é uma tarefa fácil
Educar um filho vai muito além de satisfazer as necessidades básicas de alimentação e sustento. A criação também inclui aspectos tão relevantes quanto educar em um clima de afeto, apoio e respeito.
Este clima deve facilitar o desenvolvimento de relações de apego seguras, o estabelecimento de normas e disciplina, ensinar hábitos e estilos de vida saudáveis, etc. Tudo isso sem esquecer de manter um equilíbrio entre liberdade e controle, adaptado à idade dos pequenos à medida que vão crescendo. O objetivo final é que aprendam a se autorregular por si sós quando seu cérebro estiver completamente desenvolvimento.
Nem todos os pais sabem, por instinto, como agir e resolver as novas problemáticas surgidas em relação à educação dos filhos. De fato, não são poucas as ideias erradas sobre a criação das crianças.
Algumas destas ideias erradas são do tipo “é melhor fingir que sou amigo do meu filho”, “as crianças só aprendem com a força”, “disciplina é o mesmo que castigo”, “a culpa de como os filhos são é sempre dos pais”, etc. Estas ideias equivocadas são a origem de muitos problemas educativos atuais.
Erros na educação dos filhos: a inconsistência, a permissividade e a rigidez
Três dos principais erros na educação dos filhos fazem referência à inconsistência das normas, à permissividade e à rigidez. Vamos vê-los com detalhes:
A inconsistência
A inconsistência se caracteriza pela falta de estabilidade e coerência nas estratégias de controle, supervisão e disciplina usadas. Os pais inconsistentes modificam de forma imprescindível e contínua as normas em função de fatores internos ou externos (por exemplo, a presença do outro progenitor).
Nestes casos, as pautas educativas são determinadas em maior medida pelo humor do pai do que pelo comportamento do menor. O problema é que não existe um plano traçado para corrigir a conduta inadequada. Esta inconsistência pode se manifestar das seguintes maneiras:
Usam de forma arbitrária normas, regras e disciplina em diferentes momentos. Os pais fazem mudanças nas expectativas e nas consequências aplicadas pela infração das regras.
Reações desproporcionais diante dos comportamentos positivos ou negativos da criança (por exemplo, castigando condutas apropriadas e premiando comportamentos inadequados).
Os pais cedem diante de pedidos dos filhos, o que pode servir como um prêmio ou recompensa por um comportamento inadequado.
Pai e mãe atuam de forma contraditória com respeito às normas disciplinares básicas e na aplicação das consequências por infringir as regras.
Pai brigando com sua filha
A permissividade excessiva
A permissividade excessiva e o “deixar fazer” também podem ser problemáticos. As crianças precisam que o ambiente seja estruturado. Precisam ter normas, regras de conduta, controle e supervisão de seus pais.
A permissividade excessiva pode gerar sentimentos de confusão e ansiedade nas crianças. Pode chegar a se transformar em um fator de risco para o desenvolvimento de dificuldades no estabelecimento de limites a longo prazo.
Esta permissividade pode ocorrer também por desconhecimento e baixo envolvimento dos pais. Os pais ignoram as atividades que o filho realiza, quem são seus amigos ou qual é o seu rendimento na escola. Ainda, podem desconhecer quais são seus desejos, seus gostos ou os hobbies que os filhos têm.
A rigidez
A rigidez ou falta de flexibilidade leva ao uso de um conjunto muito limitado de estratégias educativas. Estas estratégias são aplicadas indiscriminadamente a todos os tipos de comportamento inapropriados da criança.
Os pais excessivamente rígidos e inflexíveis são incapazes de levar em conta os fatores do ambiente nos quais o comportamento de seus filhos ocorre. São incapazes de usar o raciocínio para ajustar a intensidade da disciplina à gravidade do comportamento inadequado.
Além disso, a superproteção também pode constituir uma forma de rigidez. Para os pais, ela pode ser uma maneira de controlar a própria ansiedade que surge quando se sentem desorientados. Para os filhos, pode ser um obstáculo para desenvolver estratégias de enfrentamento adequadas. Também pode fazer com que desenvolvam insegurança e falta de confiança em si mesmos.
É recomendável proporcionar aos filhos a possibilidade de fazer coisas por si mesmos. Não devemos regulá-los e controlá-los em todas as situações, apenas naquelas que não podem assumir por causa da sua idade. Dentro da margem do seu nível de desenvolvimento, o melhor é deixar que acertem ou cometam erros e assumam as consequências.
Ser pais, do ponto de vista biológico, pode ser uma tarefa muito simples. Porém, a partir de um ponto de vista psicológico, pode constituir um verdadeiro desafio. Assim, se evitarmos a inconsistência, a permissividade e a rigidez, estaremos um pouco mais perto de conseguir educar as crianças da melhor maneira.