Crer que pode fugir da dor, libertar-se da dor, esquecer-se da dor é uma manifestação atavicamente entendida na vida da grande maioria da humanidade. Porque, também, é uma atitude por demais simplista, acomodatícia que não oferece solução ao magno problema que assinala o ser humano Orando, preceituam muitas das religiões vigentes no Cristianismo, encontrar-se iam a liberação das águas tempestuosas do sofrimento. Na prece seria encontrada a liberação pura e simples da tumultuosa dor, como se a Providência Divina exercesse o papel de acumular solicitações para de imediato atendê-las indiscriminadamente, longe de analisar a questão profunda do mérito e do demérito.
Há, ainda, os vinculados às correntes materialistas ou científicas, cujo caráter se acha entorpecido pela descrença na vida imortal, e assim, julgam-se capacitados a anular o passado culposo e suficientemente fortes para libertar os infratores, dispensando-lhes de responder pelos delitos contra a Perfeita Lei.
Por esses o prazer é buscado avidamente, sem que, no entanto, logrem atender a sede do gozo, fugindo, então, para os escorregadios labirintos das drogas enlouquecedoras, procurando, através delas, a exaltação da felicidade a que se julgam merecedores usufruir.
Contudo, a dor continua imperturbável, ela que é a servidora da alma, sacudindo e despertando as mentes, no afã de realizar aquilo que é divino – a manutenção do equilíbrio da Lei.
Emerge ela aqui e ali, com mil aparências, mas sempre mostrada numa identidade que muitos poucos ousam escutá-la e procuram entendê-la.
Para encará-la surgiu em épocas remotas o estoicismo, tendo como ponto básico de apoio o desprezo pelos bens terrenos, o qual, aliado ao culto das virtudes promoveria o equilíbrio do homem, valorizando-o e potencializando-o para vencer a dor, pois desta forma, poderia enfrentá-la com nobreza e fé. Sócrates foi um exemplo de estoicismo, quando encarcerado após vil julgamento, preconizava, mesmo da prisão, o cultivo da moral e da virtude como únicos meios para se transpor o acúleo da dor.
O pobrezinho de Assis, Francisco, experimentou zombaria, humilhações mil, porém manteve a força pulsante do amor em seus atos e palavras exercitando as virtudes cristãs, nunca deixando de bendizer a dor.
As Vozes encarceraram Joana D’Arc, e ela, estimulada pelos Veneráveis amigos espirituais, que nunca deixaram de conduzi-la pacientemente, suportou a dor do cárcere, o opróbrio e após infamante julgamento, foi mais uma a morrer queimada, mas chamando por JESUS, crendo nEle, com isso superando a dor.
Afirma soberana Joanna de Ângelis que a dor é moeda de resgate, exercício para fixação do bem e alta concessão divina. Vivesse o homem ausente da dor ignoraria a paz, não levaria em consideração a necessidade da alegria e maldiria a saúde, perdendo, desta maneira, a inestimável oportunidade de exercitar lições para que o bem fizesse morada definitiva em sua tela mental.
Estejamos onde estivermos, na cadeira de rodas; nos tormentos morais; nas limitações dos objetivos; nas sombrias convivências familiares, sociais e trabalhistas; diante da dor no corpo, na mente e na alma, onde queime a brasa da dor, esforcemo-nos por agradecer a DEUS o ensejo de reaprender e reparar.
Não deixemos nunca de considerar que, enquanto a dor nos queima, milhares, milhões de irmãos em humanidade lançam-se desabridamente pelos estreitos caminhos da irresponsabilidade, conduzidos pela loucura do gozo insaciável. Acalmemo-nos, mesmo que a dor esteja nos vergastando.
O Amigo Incondicional de todas as horas, JESUS, elegeu a dor como a companheira de seus dias terrenais e aproveitou, através dela a nos deixar um precioso ensino, sem nunca recorrer ao verbalismo nem à retórica, mostrando que se pode ser feliz em todos os instantes, sem nunca deixar de exaltar o amor e a bondade como roteiro
de iluminação.
Amesquinhado, com o céu particular carregado de nuvens sombrias, carregando preocupações, diante de angústias ultrizes levantemos a cabeça e tornemos nossas mãos em asas de amor e paz e com elas, através do trabalho no bem, louvemos ao Senhor da Vida, para que, assim, um dia alcemos voo às Regiões da libertação plena após resgatarmos as nossas dívidas na contabilidade divina.
Recebamos, pois, a dor com alegria, com amor e nunca descoraçoemos nem entremos em desvario.
Apoio Joanna de Ângelis – livro “Dimensões da Verdade”, psicografia de Divaldo Pereira
Franco.
(Artigo publicado originalmente no Jornal Espírita de Pernambuco – maio de 1999)