Ele enviava a ela uma mensagem logo cedo. Era em caixa alta e dizia que a amava. Ela acordava sorridente por saber que a recíproca era verdadeira e assim passava aqueles dias ansiando pelos encontros. A saudade batia…

Ele se mantinha presente, era conectado. Ele a amava lá, nas mensagens de texto. Foi então que para ela, as palavras começaram a perder o sentido quando ficaram maiores que as atitudes. Toda palavra é solta quando não preenchida pelas ações. Dizer que a amava já não fazia sentido quando a ação não correspondia ao que se dizia.

Ela precisava de mais. E o que seria?

Ela precisava de presença, de lealdade, de cuidado e carinho. Ela queria um parceiro, alguém que segurasse sua mão, que estivesse junto em todos os momentos. Ela queria ser cuidada apesar de saber se cuidar.

Ela queria mesmo se sentir amada, não em caixa alta mas em atitudes. Ela queria fidelidade, ela queria que fosse de verdade.

Só que ele estava online pra ela e para toda a sua caixa de contatos. Ainda assim, ele continuava dizendo que a amava. Foi então que ela passou a ter dúvidas.

Ela já não sabia mais o que era amar. Não sabia o que esperar.

Um dia ela percebeu que na verdade ele não estava lá. Ele a mantinha perto para suas necessidades, mas não tinha intenção de ficar. Ele mantinha um mundo paralelo ao dela e foi nesse desencontro de interesses que achou que ele era tudo quando descobriu que era um nada.

Ela desacreditou do amor.

Passou os dias sem querer ouvir palavras que tivessem a letra “amor”; Ela achou que isso tudo era uma falácia , não sabia mais nada sobre o amor, a não ser aquele que passou a ter por si.

Ela até pensou que poderia ter querido demais, e duvidou se merecia mesmo tudo aquilo.

Um dia, distraída, tropeçou na rua e caiu de cara no chão. “Que vida injusta”! Caiu na real. Percebeu que só existia mesmo ela na vida. Precisava se cuidar.

Envergonhada se recobrou dos pensamentos que a faziam voar, limpou a barra de sua saia, ajeitou os cabelos e com coragem fez o movimento para se levantar, quando uma mão foi estendida para que ela pudesse se apoiar. Agindo sem pensar buscou a mão e ergueu o olhar… Percebeu que ali tinham os olhos castanhos mais ternos que ela podia encontrar- “Você está bem”? Ele mostrou mesmo se importar.

Seguiam para a mesma direção e então caminharam por aquelas quadras, agora eternas, rindo e descobrindo afinidades. Ele era também uma companhia terna, e ela, uma mulher ferida.

Ele pediu seu contato, mas ela não queria mais saber de mensagens. Ficou aberta às chances, ao acaso, aos encontros. “O universo que dê conta”. E deu…

Ele então passou a frequentar a lanchonete que ela trabalhava e dizia que lá tinha o melhor sonho que ele já provara na vida… outras vezes, deixava um bilhete escrito à mão embaixo da xícara, coisa rara .

E assim, ela passou a se sentir desejada…

Outros dias ele a acompanhava até o ponto de ônibus, outros fazia questão de levá-la em casa. “É um homem de atitude ou um psicopata…sabe bem o que quer”, ela pensou.

Ainda desiludida, não se entregou à mão que se estendia. Mas ali havia algo a ser entendido: Diante dela estava a vida mostrando que existem novos encantos, novas chances, novos olhares para o amor.

Talvez ela poderia ser feliz de novo. Só dependia dela. E então se decidiu. Sem mensagens de textos, sem provações em escritas. Queria prática, queria a vida!

Mais uma vez estendeu a mão para aquela mão que se estendia, e dessa vez seguiu pelas ruas enlaçada. Percebeu que havia um encontro, ambos queriam mais olho no olho, corpo com corpo, coração ajustado, encontro marcado.

Ela dessa vez sentiu. O amor agora não estava nas letras garrafais, estava nos gestos simples, atentos, cheios de intenção, carinho e presença. Havia cumplicidade. Ela percebeu que o amor morava mesmo nas atitudes e não nas mensagens deixadas por mera comodidade.

E então, ele pediu a sua mão.

Ela sorriu. Entendeu. “Vida sua linda, você sabe bem o que faz. Obrigada por me fazer acreditar”.








É jornalista, atriz e tem a comunicação como aliada. Escritora por natureza, tem mania de preencher folhas brancas com textos contagiados por suas inspirações.