O futuro chegou de repente, e temos vivido tempos de solidão compartilhada. Tempos em que não toleramos apenas nossa própria companhia, e nos sentimos ansiosos com a falta de respostas, já que o tempo das esperas se transformou no tempo das urgências; e se não corremos nessa velocidade, temos a sensação permanente de insatisfação.
Esses dias assisti a um documentário brasileiro interessantíssimo no Netflix, chamado “Quanto tempo o tempo tem”, de Adriana L. Dutra e Walter Carvalho, repleto de convidados especiais, como o físico Marcelo Gleiser e a monja Coen. O documentário nos leva a refletir sobre a vida que levamos, sobre o uso das redes sociais e o aproveitamento do nosso tempo. E não pude deixar de me aprofundar no raciocínio de que não estamos sabendo lidar com as ausências. Não suportamos a ideia de que nosso tempo seja preenchido com o “nada”. Não toleramos as pausas, e o tão precioso “ócio criativo” está deixando de existir. Padecemos com a falta de conexão, com a falta de wifi, com o silêncio, com a ausência de sinais. Estamos desaprendendo a ser só. Estamos desaprendendo a suportar nossa própria companhia, nossa solitude.
A solidão compartilhada afasta quem está perto e aproxima quem está longe, dando a falsa impressão de que estamos vivendo uma interação saudável, quando na realidade estamos nos desligando das verdadeiras conexões para assumir vínculos baseados na urgência, na aceleração do pensamento, na ansiedade. Numa mesma casa, cada um em seu quarto, teclando sem parar, tornamo-nos seres solitários cercados de telas.
Se não curtimos 120 fotos e respondemos a 150 mensagens por dia, somos classificados como mal-educados. E nessa ansiedade de dar conta de tudo, acabamos não dando conta do essencial: usufruir nosso tempo ao lado daqueles que amamos.
E me lembrei do filme “Her”, ganhador do Oscar de melhor roteiro original em 2014, que retrata de forma brilhante a solidão na era da hiperconectividade. No filme, nos deparamos com o grande paradoxo de nosso tempo: imaginamos que estamos incluídos, hiperconectados, que todas as nossas relações cabem na tela do nosso celular, como uma extensão de nossos braços, e ao mesmo tempo nos sentimos cada vez mais infelizes e sozinhos. Isso acontece porque esse tipo de conexão tecnológica não é real.
No entanto, o individualismo retratado no filme é cada vez mais presente na nossa sociedade contemporânea. E esse individualismo, aliado à tecnologia, leva ao isolamento. As pessoas imaginam que se bastam, e acabam perdendo a capacidade de formar vínculos reais, humanos.
A solidão, quando bem aproveitada, é muito benéfica. Viver com intensidade, apreciando a vida, é algo muito precioso e cada vez mais raro. É preciso um grande esforço para que possamos apreciar a vida no tempo da contemplação, e não no tempo da conectividade. É preciso empenho para absorver a eternidade do momento presente, mesmo que o mundo continue acelerado.
“Não desligar nunca” não nos torna mais completos ou felizes. Ao contrário, subtrai de nós a capacidade de nos conectarmos verdadeiramente com nossa alma, de escuta-la, de reconhecer seus desejos e intenções. Somente quando nos desconectamos do mundo externo – meditando, orando, tomando um banho quente, ouvindo uma música tranquila- entramos em contato com nossa essência, com nossa sabedoria interior, com nossa verdade. E descobrimos enfim que “estar junto” não nos livra da solidão, e “estar sozinho” não nos condena a uma vida infeliz.