Descobrir que podemos viver sem comparações, mas respeitando e valorizando a diversidade de corpos, rostos, cabelos, tons de pele e estruturas ósseas nos ajuda a entender que no final das contas, ninguém é muita areia para o caminhão de ninguém.
A gente se acostumou a receber e a aceitar pouco, e quando recebemos muito, que susto! Supomos que houve um engano, erraram o endereço, estão pregando uma peça na gente. A gente se acostumou a querer pouco, e ensinamos aos outros que merecíamos pouco também.
O atleta Bo se apaixona pela menina Will, e ela, insegura com seu peso e seu físico, faz de tudo para afastá-lo, ou pelo menos para que ele enxergue que se enganou e escolheu a pessoa errada. Na cabeça dela, quanto antes ele souber que ela é “horrível”, melhor.
O filme “Dumplin”, baseado no livro homônimo de Julie Murphy, traz à tona o tema da autoestima, autoconfiança e insegurança.
Apesar da história central não girar em torno do romance vivido por Willowdean Dickson (Danielle McDonald) e Bo Larson (Luke Benward), me fez refletir sobre o quanto nos acovardamos diante de alguns presentes inesperados da vida. O quanto desdenhamos a felicidade quando não nos julgamos merecedores. O quanto podemos recusar o afeto de alguém simplesmente por não nos considerarmos bons o bastante para esse alguém.
Rupi Kaur tem uma frase que gosto muito que diz assim: “Como você ama a si mesma é como você ensina todo mundo a te amar”. Essa frase me faz pensar que a gente se acostumou a receber e a aceitar pouco, e quando recebemos muito, que susto!
Supomos que houve um engano, erraram o endereço, estão pregando uma peça na gente. A gente não se conforma em ser o objeto de desejo de alguém. A gente se assusta ao ser eleito interessante. A gente se esquece que se acostumou a querer pouco, e ensinamos aos outros que merecíamos pouco também.
Você pode ter a autoestima lá em cima, mas quando afasta alguém ou sabota a própria felicidade por não dar conta de lidar com tanta areia para o seu caminhão, está atestando que prefere a paz permanente da derrota que a alegria volátil do êxito.
A gente precisa parar com essa mania de afugentar as bênçãos como se não desse conta de lidar com elas. Como se a infelicidade fosse mais certa, confiável e confortável. Como se ser eleito pela sorte fosse uma pegadinha de mal gosto ou um sonho passageiro do qual logo iremos acordar.
Insegurança é isso: Preferir se refugiar numa vida segura, restrita e infeliz a ousar afrouxar nossas defesas e expor nossa vulnerabilidade correndo o risco de ser um pouco mais feliz.
Quando adquirimos autoconfiança não perdemos o medo, mas suportamos melhor as derrotas. Quando nos tornamos autoconfiantes não se esgotam as preocupações, mas aprendemos a tolerar as imperfeições, sem desistir de nós mesmos diante das primeiras aflições.
Descobrir que podemos viver sem comparações, mas respeitando e valorizando a diversidade de corpos, rostos, cabelos, tons de pele e estruturas ósseas nos ajuda a entender que no final das contas, ninguém é muita areia para o caminhão de ninguém.
Que possamos amadurecer com sabedoria, aceitando que somos geniais o bastante para merecermos amores incríveis, inteiros e loucos para atravessarem a vida conosco. E que não nos falte a capacidade de viver e amar com intensidade, arriscando ser um pouco mais feliz em nossa vulnerabilidade.