Toda sociedade apresenta uma série de temas tabu, isto é, temas que fazem parte da nossa realidade, mas que por serem dolorosos demais preferimos não conversar sobre eles. Mas ignorar um assunto não o torna inexistente.

Deveríamos debater mais sobre tudo o que aflige a raça humana, tentando entender as motivações de quem já pensou seriamente ou até mesmo já tentou cometer o suicídio. Se para muitos a depressão já é um tema constrangedor, imaginem falar sobre alguém que cortou os pulsos ou fez uma mistura inusitada de medicamentos?

Porém, a depressão é o mal do nosso século e em poucos anos muito mais pessoas serão acometidas por esta doença incapacitante, que faz o sol ficar preto e branco. Depressão não é o mesmo que tristeza. Embora, muitas vezes, uma grande tristeza ou perda possa desencadear um processo depressivo.

Depressivos precisam de ajuda médica, remédios, terapia, muito carinho e compreensão. Depressivos não precisam ser julgados ou ignorados. Depressão não é doença contagiosa, embora a convivência com alguém deprimido possa nos afetar, principalmente quando amamos profundamente esta pessoa.

Muitos depressivos pensam em acabar com a própria vida. Muita gente acredita que o suicídio é um ato de extremo egoísmo pois quem deseja se matar não leva em conta a perda que parentes e amigos irão sofrer. É importante ressaltar que o suicida não tem interesse em magoar. Ele simplesmente quer se livrar de uma dor que para ele é intolerável. Julgar um depressivo com vontade de se matar como um egoísta é um julgamento cruel. A percepção do suicida fica muito alterada pela doença e ele precisa ser amparado e amado.

Em fóruns da internet, pessoas pedem dicas de misturas de medicamentos que levam à morte. Algumas pessoas gentis tentam dar bons conselhos, acalmar o coração de quem está alimentando ideias mórbidas. Por outro lado, encontramos comentários de uma crueldade ímpar, em que os autores ridicularizam quem quer morrer.

Quem pensa seriamente em suicídio já está com a autoestima baixa. Ser ridicularizado o torna ainda mais vulnerável. A nossa sociedade precisa começar a entender que problema psicológico é coisa séria sim. Não se resolve depressão lavando roupa. As pessoas não deprimem por falta do que fazer. E é um mito dizer que quem afirma querer se matar, não vai se matar. Muita gente tenta sim o suicídio depois de expor o seu desejo com todas as letras.

Suicídio não é tema engraçado, mas também não deveria ser considerado um tabu. Faz parte da vida como o amor, a paixão, o medo. Também me parece um pouco precipitado taxar um suicida como um simples covarde que não aguenta os trancos da vida. Algumas pessoas por alguma razão que não conheço vem sem as blindagens necessárias para sobreviver à indiferença e à frieza do mundo. Somos preparados para engolirmos e negarmos a própria dor. Homem não pode chorar. Não pode ser sensível. Na verdade, deveríamos ser preparados para desenvolver o amor maior, a piedade, a compreensão que transcende as nossas crenças. Não é porque não sentimos uma dor ou um impulso que ele não possa existir no outro.

Deprimidos , bulímicos , anoréxicos, fóbicos são pessoas como outras quaisquer. Eles não são a sua doença. Confundir um depressivo com a depressão é o mesmo que definir alguém pela sua gastrite ou por sua faringite crônica. Atrás da doença, existe um ser humano extremamente sensível e cheio de qualidades que merecem ser apreciadas. Mas para que para tais qualidades voltem a brilhar, precisamos ajudá-los e amá-los com todo nosso coração.








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.