Nem sempre quem cala, consente. Às vezes é cansaço mesmo ou desistência. Às vezes, é por pura descrença numa solução boa para ambas as partes ou uma enorme preguiça de tentar dialogar com quem só sabe falar, mas não consegue ouvir. Em alguns casos , pode ser sinal de desprezo mesmo. A atitude ou comentário do outro pode soar tão absurdo que não vale a pena conversar a respeito. O silêncio pode carregar também o germe do medo. Medo de se expressar e discordar e perder aquilo que na verdade nunca tivemos.
Em relações afetivas e profissionais pautadas pela dominação é comum encontrar pessoas se silenciando. O silêncio, na maioria dos casos, demonstra que a parte dominada não acredita numa real parceria, numa real troca de experiências e saberes. Chefes autoritários que desconsideram o bem estar dos subalternos e criam um esquema de trabalho bom apenas para eles conquistam uma equipe insatisfeita que na primeira oportunidade abandonará o barco.
Um parceiro afetivo que quer ter sempre a última palavra, minará dia a dia a sua relação. O mesmo vale para amigos e familiares. Pais que conseguem dialogar com um filho adolescente, por exemplo, ao invés de dar ordens simplesmente sem explicar o porquê delas, sempre serão os primeiros a saber dos problemas do filho. Pessoas egoicas que só se importam com elas mesmas, começam a cair em descrédito.
Silenciar está mais para desistência do que para concordância. Silenciar pode até mesmo indicar a superficialidade de uma relação. Muitos pensam que ignorar um problema, não conversar a respeito de um ruído evita o conflito. Nos tornamos vítimas daquilo que não dizemos. Mais do que isso: nos tornamos vítimas daquilo que coagimos o outro a não dizer. Instituições, empresas , chefes, amantes, pais, professores que levantam muros para o diálogo pois não suportam encarar o divergente, exercem, talvez, o mais cruel tipo de tirania: a negação do outro como ser desejante.