Passa, sim. Você e eu sabemos que tudo isso vai passar. O que é bom e nos faz felizes, o que é ruim e nos entristece. Tudo passa.
Todo instante bonito vem com um recado na brisa, ventando mansinho e dizendo “eu estou passando, aproveite”.
Toda hora de angústia traz em sua dor um conforto gentil, soprando nossas feridas como quem nos pede calma, que daqui a pouco elas cicatrizam e passam.
Encaremos a vida, minha gente, esse ofício de aproveitar o que nos faz bem e caminhar para longe do que nos faz mal. Cada prazer e toda delícia passam.
Todo mal e cada agonia, também.
Pensar sobre isso me faz desconfiar de que nenhuma queda de braço vale a pena, que todo bate-boca e cada peleja por razão não passam de soberba inútil, jogo infecundo que ninguém ganha e em que todos perdem.
Em qualquer peleja fútil perdemos amigos, sossego, tempo. Esse tempo precioso que também passa.
Minha alegria carece de apreço. Merece atenção.
Passa rasgando o céu feito foguete e some no sem-fim de estrelas.
Sabê-la impermanente, passageira, me faz amá-la e respeitá-la de todo jeito, em cada instante de seu tempo, até que a vida nos separe.
Assim, entender que minha tristeza também vai embora a faz mais frágil.
Já não tenho medo de ser triste porque sei que não vai ser para sempre, nem sinto culpa da minha alegria porque compreendi que ser feliz é questão de merecimento.
Tudo passa.
O que nos fere e o que nos cura, o que alegra e o que entristece.
A nós só nos resta viver a vida com vontade e com amor.
Saber que ela é assim, tão finita quanto bela, faz melhor o que já é bom e menos mau o que não presta. Vivamos, pois!