Na vida real não se pode apagar com uma borracha o desfecho da maldade.
O autor Walcyr Carrasco, no final de sua novela “A Dona do Pedaço”, deu um destino dúbio à Jô: a vilã, interpretada pela atriz Agatha Moreira, que foi presa pelos crimes que cometeu.
Porém, a personagem se converteu em um culto evangélico dentro da prisão, que mostrou o seu olhar arrependido e de paz, como se todas as suas maldades fossem perdoadas. Parece que no fim, o mal venceu?
Todavia, no folhetim o autor traçou o perfil da vilã, fazendo um paralelo com as pessoas tóxicas que existe em nosso mundo, que envolvem emocional e psicologicamente as suas vítimas, permitindo-lhes a aplicar todos os tipos de golpes.
As pessoas más, que encontramos em nosso cotidiano são aparentemente “normais”, compostas por narcisistas, psicopatas, sociopatas e pedófilos, que se tornam autores de suas próprias vidas e ainda ocupam cargos de liderança, como políticos, empresários e profissionais liberais, que entre esses estão médicos, advogados, jornalistas, dentistas, psicólogos, arquitetos, etc., e não apenas os criminosos comuns, que acabam no xilindró ou na cova-rasa.
Ademais, esses homens e mulheres se apresentam como “cidadãos e cidadãs de bem,” mas podem estar fingindo ser algo que não são.
É como disse Jesus:
“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. (…) Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão!”
É difícil responder porque existe tanta maldade no mundo. Então, surgem as nossas dúvidas: Será que a maldade é uma doença ou pane do cérebro?
Será que é a falta de empatia de algumas criaturas?
Será que existe mesmo gente que se veste de pele de ovelha, para enganar os outros?
No entanto, não podemos desconsiderar os resultados de algumas pesquisas científicas, que afirmam que um conjunto de fenômenos, entre eles: os genes, os defeitos cerebrais, a educação familiar, os traumas e os maus-tratos na infância podem contribuir para transformar jovens e adultos em seres capazes de atitudes cruéis contra os seus semelhantes.
Talvez a maldade contagie mais que o amor, levando alguns indivíduos a ferir e a querer eliminar outrem.
Assim, foi com Hitler e todos os seus oficiais, soldados, cientistas e médicos que escolheram praticar todos os tipos de brutalidade e morticínio contra os judeus, do mesmo modo foram os ditadores e seus asseclas, como: Josef Stalin, Francisco Franco, Augusto Pinochet, Jorge Rafael Videl, Idi Amim Dada e Sadan Hussem.
Além disso, a maldade no Brasil se reproduz na desigualdade social, na corrupção, no tráfico de drogas, no genocídio contra os índios, nas queimadas criminosas na Amazônia, na banalização da violência contra grupos de pessoas ou famílias que estão em processo de exclusão social, sobretudo, por fatores socioeconômicos.
A filósofa Hannah Arendt nos dá uma resposta inquietante sobre a gênese da maldade.
Para ela, o mal não é uma categoria ontológica, não é natural e nem metafísica.
Ou seja: o mal é político e histórico, que é produzido por homens e se manifesta só quando encontra espaço institucional, sendo para isso a razão de uma escolha política.
Portanto, Arendt conclui que a banalização da violência corresponde ao vazio de pensamento, onde o mal se instala.
Aliás, se cada um de nós ocupar, dentro do seu ambiente social, essa lacuna através das virtudes filosóficas da prudência e da justiça ou por meio das virtudes teologais da fé e da esperança, dessa forma, o mal não vencerá.