A opinião médica, até pouco tempo atrás, era de que a depressão era causada por desequilíbrios bioquímicos. De fato, nas depressões chamadas de “endógenas”, ocorrem esses desequilíbrios que afetam os níveis de neurotransmissores. No entanto, essas depressões são raras. O mais comum é que as depressões sejam causadas por alguma perda importante para a pessoa.
Neste sentido, a causa não é bioquímica, mas também não é devido à situação que tenha ocorrido. Então, qual é a causa dessa tristeza que muitas vezes acompanha a depressão?
A causa real desse estado emocional depressivo é a maneira de pensar, a forma como a pessoa interpretou o que aconteceu. São os pensamentos gerados por esse estado emocional que nos deixam desanimados.
A boa notícia é que, apesar de não podermos escolher as situações que vivemos, podemos mudar a maneira de interpretá-las e aprender como encará-las para que não nos afetem tanto. Nesse ponto reside a nossa responsabilidade e está em “nossas mãos” modificar como interpretamos os acontecimentos.
O modelo ABC
Albert Ellis, o pai da terapia racional, criou o modelo ABC para os pacientes perceberem que não é a situação que provoca mal-estar emocional, mas sim os nossos pensamentos e crenças.
É preciso distinguir entre emoções saudáveis e estados emocionais negativos. As emoções negativas como a tristeza, o medo, o desconforto, são consideradas saudáveis porque nos ajudam a enfrentar o que aconteceu na nossa vida. Elas nos ajudam a agir de forma lógica e realista.
No entanto, os estados emocionais negativos como a depressão, a ansiedade, a culpa ou a raiva, nos bloqueiam e nos paralisam. Não conseguimos enfrentar a situação e entramos em um “círculo vicioso”, de onde é difícil escapar.
É normal sentir uma tristeza saudável quando perdemos um emprego ou o nosso parceiro, mas não é normal que ela seja muito intensa, frequente e duradoura, e se transforme em uma depressão. O que está errado aqui é o que você diz a si mesmo a respeito dessa perda.
O modelo ABC define o A (situação ativadora), o B (meus pensamentos), o C (como me sinto e como reajo diante da situação). O B é a verdadeira causa do C, e não o A. Normalmente acreditamos que a situação é responsável por como estamos nos sentindo, mas não é verdade. Podemos comprovar isto facilmente quando observamos que pessoas que vivem uma mesma situação reagem de formas diferentes umas das outras.
Um B tingido de preto
O ABC da depressão pode ser resumido da seguinte forma: Existe um ativador (A), que pode ser uma perda de algo muito importante para nós e (B), os nossos pensamentos a respeito dessa situação. Nos sentimos inúteis, o mundo se torna escuro e triste, não conseguimos olhar para o futuro porque guardamos um enorme desespero.
Esses pensamentos inundam a nossa mente e acreditamos que eles são verdadeiros. Se eu penso, é verdade. Na realidade não é assim, mas a nossa mente tende a generalizar tudo, a etiquetar globalmente, a dramatizar, e isso cria um sofrimento tão intenso (C), que chamamos de depressão.
“As emoções que prejudicam os nossos propósitos e os principais objetivos da vida são destrutivas e irracionais. São fundamentalmente a depressão, a ansiedade e a raiva excessiva e a culpa pronunciada”.
-Albert Ellis-
A verdade é que isto não resolve o problema. Com estes pensamentos e emoções acabamos nos isolando, paramos de fazer o que gostamos e nos esquecemos até da nossa rotina diária. Este é o C, um comportamento ilógico que vai contra o nosso objetivo de vida que é “estar bem”.
Não é possível sentir-se bem se o nosso comportamento é afastar-se de tudo o que pode nos fazer sentir melhor.
O C da depressão
No início, esse comportamento nos livra do esforço de levantar e fazer o que não queremos ou gostamos, mas a longo prazo o problema se torna crônico e nos sentimos deprimidos.
Agindo dessa forma, perdemos a oportunidade de nos conhecermos melhor, de verificar se os nossos pensamentos sobre nós mesmos, sobre o mundo e o futuro são verdadeiros. Portanto, a chave é modificar esse B negativo que lhe faz sofrer e o paralisa. Só você tem a chave para libertar a si mesmo.