Nessa semana, eu retirei o meu alongamento de cílios. Eu estava usando há dois meses, esteticamente, estava perfeito, mas começou a machucar os meus olhos.
Fiquei tentando me enganar de que estava tudo bem, mas o incômodo estava ali, eu fechava os olhos e sentia algum fio me perfurando, fui ficando irritada.
Resisti muito porque a vaidade estava massageada, os elogios eram frequentes. Pensei melhor e pensei: essa beleza não compensa esse desconforto.
O preço está alto demais. Passei a sentir falta da liberdade de lavar meu rosto sem “não me toque”, coisas simples que estavam me estressando.
Enquanto a profissional retirava aqueles cílios glamorosos, me peguei pensando nas situações que sustentei enquanto me desrespeitei.
Relacionamentos tóxicos que eu mantive enquanto, socialmente, éramos vistos como um casal perfeito. Ninguém fazia ideia do quanto doía em mim manter aquele teatro.
Me peguei pensando nas pessoas que conheço que odeiam as suas profissões, que vivem rezando para chegar a sexta-feira.
Me veio à mente amizades e familiares tóxicos que às vezes a gente tolera, mesmo tendo uma crise de gastrite ao lado deles.
Eu optei por esse autorrespeito.
Não quero mais nada que me machuque, no que depender de mim, vou dizer “não” ao que me machuca, me sufoca, me desrespeita, me oprime, me diminui.
Eu estou exercitando isso aos poucos, e cada progresso, por pequeno que pareça, é glorioso para mim.
Eu não tenho e, talvez nunca terei todas as respostas que busco, mas carrego uma certeza: se machuca, não é para eu continuar.
Se dói, eu preciso me retirar; seja o que for, sapatos, lingeries, cílios postiços ou amor.
Nesse processo de reestruturar a minha forma de me tratar, incorporei às minhas orações um pedido de desculpa a mim mesma por todas as vezes que eu me diminuí ou me machuquei para caber na forma de alguém.
*Foto de Lauren Rader em Unsplash
*Instagram da autora: @ivoneterosa.escritora