“A paz não é determinada pelo que está acontecendo em torno de você, mas sim o que está acontecendo dentro de você”. Li isso outro dia e no mesmo instante me lembrei da frase do livro “O Mundo de Sofia”: “O fato de o mar estar calmo na superfície não significa que algo não esteja acontecendo nas profundezas”.
Às vezes o mundo desmorona ao nosso redor mas conseguimos manter a serenidade e sensatez diante das adversidades. Outras vezes, porém, está tudo em ordem, a vida encontrando seu eixo, seu equilíbrio… e nada nos basta.
Assim me vem à lembrança o casamento desfeito de uma conhecida. Após dez anos de uma relação aparentemente perfeita e uma filha pequena, ela desistiu dos planos e preferiu seguir sozinha para buscar a cura de suas inquietações interiores. Disse que o casamento era perfeito, lhe trazia paz e serenidade, mas ela não conseguia sentir essa harmonia dentro de si. O mar estava calmo na superfície, mas nas profundezas algo se agitava. Talvez sozinha ela encontre o que tanto procura. Talvez nunca encontre e perceba tarde demais que perdeu uma grande oportunidade de ser feliz.
O fato é que somos seres inquietos por natureza. Em maior ou menor grau, nosso interior se agita em busca de respostas, em busca de sentido. Em maior ou menor grau, queremos sanar esse vazio que de vez em quando dá as caras em nosso peito.
E é nessas horas, quando não sabemos lidar com essa falta, com esse vazio, que nosso interior se agita. A vida pode estar passando por uma fase boa, de tranquilidade, encontro e paz, e nada nos cala. O interior fala, grita, pede mais respostas. Nesse instante nos tornamos mar agitado nas profundezas e questionamos nossas escolhas até o momento.
Não se trata de tomar um chazinho de camomila pra tudo ficar bem. É preciso abraçar o silêncio. Aceitar que algumas coisas não têm resposta, nem correspondência ou reciprocidade de forma alguma. Mas ainda assim, entender que a vida pode ser muito mais que feijão com arroz. A vida pode ser incrementada com um fundo de panela cheiroso e saboroso, basta a gente estar aberto a tentar e realizar.
Não desistir de si mesmo, não desistir das pessoas que lhe querem bem, não desistir dos barcos que construiu até aqui. Acreditar que não está sozinho, mesmo que sinta muita solidão. Encontrar sentido na oração, na meditação, numa corrida no parque, num texto escrito num caderno antigo. Encontrar respostas cantando, cozinhando, viajando, estudando.
Não desistir da vida que se tem como se ela fosse o único motivo de seu desajuste. Não desistir das pessoas que lhe amam como se elas fossem a única causa da sua falta de sentido.
Muitas vezes muda-se o cenário, muda-se a paisagem, mudam-se os atores… e permanece a inquietação. É preciso descobrir que a falta de paz não está fora, e sim dentro de você. E que enquanto não fizer as pazes com suas profundezas, não deixará de estar desorientado.
Temos um universo externo e também um universo interno. Estar em paz com nosso universo interno é o que determina nossa qualidade de vida.
Essa semana assisti a um filme no Netflix chamado: “Thanks for Sharing”. O enredo conta a história de dependentes que estão tentando se recuperar. Porém, em momentos de extrema frustração, eles se veem tentados a retomar o vício.
Sentimos frustrações pequenas ou grandiosas o tempo todo. É aquela encomenda que esperávamos e não chegou pelo correio, é a resposta no WhatsApp que não veio, é o fim de um casamento que parecia perfeito. Tudo se agiganta dentro da gente e podemos perder a paz. A culpa não está no outro. A culpa não é do correio, do WhatsApp, do fim do casamento. Isso são apenas gatilhos. O que importa é o que você faz quando fazem isso com você. Como você lida com o que não deu certo.
Finalmente, é preciso entender que a chuva não cai somente quando a terra está seca precisando de umidade. A chuva cai no primeiro dia de praia, no momento daquele encontro esperado, na manhã do casamento ao ar livre. E a gente tem que superar. Não fazer tempestades dentro da gente, e sim fazer poesia com as gotas que caem arrastando o vento e colorindo o ar…