Sim, ninguém muda por ninguém. Algumas companhias podem trazer à tona sentimentos e desejos que estavam escondidos ou adormecidos dentro de nós. Uma pessoa , por exemplo, que adora estudar pode ficar mais motivada a ler e a aprender se fizer amigos estudiosos e bons leitores.

Se uma pessoa tem dificuldade para fazer dieta, pode ser estimulada a adotar uma alimentação mais saudável caso conviva com amigos que se alimentam de uma forma mais light. Conviver com fumantes pode aguçar a vontade de fumar. Ou pode fazer o inverso: aumentar a repulsa pelo fumo.

Padrões familiares, amigos e parceiros afetivos podem sim nos influenciar. Algumas pessoas podem sim nos incentivar e outras nos desestimular. As pessoas nos despertam sentimentos diferentes. Mas, por outro lado, ninguém se torna algo que não é por conta de um amigo, um namorado/namorada ou parente.

As pessoas são o que são. Elas podem ser incentivadas a adotar ou a abandonar determinados hábitos e atitudes por conta das pessoas que estão ao redor. Mas se ela não tiver muita força interior, se ela não estiver realmente convencida da importância de certas mudanças, não há ninguém no mundo que poderá muda-la.

Passamos por muitas mudanças momentâneas em nossa vida que se desmancham como castelinhos de areia. Basta retirar o pé e tudo cai por terra. Não podemos transformar as pessoas em muletas emocionais. Não podemos deixar de beber , fumar , fazer isso ou aquilo por alguém, porque alguém está ao nosso lado nos apoiando.

Ter o apoio de alguém querido pode ajudar muito na fase inicial, mas se não houver uma verdadeira conscientização, a mudança será de fachada. E na primeira oportunidade ou no primeiro imprevisto, toda aquela “conquista” vai se desmanchar num piscar de olhos.

Toda mudança verdadeira é uma escolha solitária. Embora ansiamos profundamente pelo encontro com o outro, as grandes descobertas e escolhas normalmente são solitárias. O encontro com o outro é revelador para enxergarmos a nós mesmos. Mas diante de tais revelações, somos nós os únicos que podemos fazer algo de importante e decisivo. Apenas nós podemos travar uma batalha realmente portentosa contra aquilo que nos desagrada em nós.

 








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.