A gente tava caminhando na praça e eu dizia umas coisas confusas, gritava pra mim mesma que era melhor me acalmar e ir preparando o meu peito pra conviver com você. Nem era nada demais, nem medo demais porque o passado me assombrava, era só que você parecia uma pessoa boa demais pra conhecer os meus defeitos e ter que engolir cada um deles a seco, cada um deles com um gosto amargo que denunciava o meu jeito meio imaturo de te oferecer um abraço pra você não sentir frio, pra você não sentir nada que não fosse alguma coisa qualquer brotando no teu peito como eu sentia aqui dentro.
Você pedia pra eu ir com calma pra não atropelar as coisas e não atropelar a gente, mas quem é que mete o pé no freio quando tem certeza? Eu tinha certeza, meu bem, uma certeza quase absoluta de que isso aqui fosse durar pra sempre desde o momento em que eu te fotografei. Chovia lá fora e o mundo estava completamente em silêncio aqui dentro, como se tentasse assimilar e entender a guinada que o universo deu quando os meus olhos esbarraram com os teus. Eu tinha uma certeza quase absoluta que de que isso aqui ia durar pra sempre, nem que fosse dentro do meu peito ou do teu, nem que fosse como uma lembrança bonita dessas que a gente escreve por aí ou pinta em uma tela pra pendurar na parede. Nem que fosse num choro soluçado na hora de dormir, tentando fazer o peito entender que a gente também foi feliz antes de tudo.
Você me pedia pra tentar enxergar o lado bom das coisas, tentar encontrar qualquer detalhe bonito que fizesse a coisa toda ganhar algum sentido, e eu juro que eu tentei deixar de lado essa minha inclinação involuntária de tentar ser triste. E senti raiva do dia em que você acordou às seis da manhã com um sorriso no rosto, porque eu só consigo me sentir assim quando a noite cai e eu não tenho obrigação nenhuma pela frente, quando eu não tenho nada pra pensar a não ser as coisas todas que eu sinto por você e o quanto eu me tornei um alguém melhor desde que te encontrei numa manhã de finados e passei a acreditar que aquele ali era o fim de cada uma das angústias que eu sentia palpitando aqui dentro.
Você manda mensagem e eu respondo, não escondo o imediatismo e nem a criança que pulsa aqui dentro quando é você. Dois dias depois te chamo pra sair e desligo o celular pra precisar não ler a resposta, pra não encontrar uma recusa amigável que decrete que dessa vez eu vou ter que ver o filme sozinha, vou ter que tomar a garrafa de vinho inteira sem você e eu chorei no fim das contas, sabia? Chorei, porque o personagem foi baleado no fim da história e eu nunca soube lidar com finais que não fossem felizes, nunca soube lidar com nenhum final em que não tenha a tua cabeça no meu peito na hora de dormir. Até pensei em te ligar pra contar da trama e do rosto molhado pelas lágrimas, até pensei em te contar que se tivesse você, pelo menos eu teria um alguém pra me fazer acreditar no lado bom das coisas. Mas você deveria estar ocupado demais, sempre está, e deve ser por isso que eu não me esqueço daquela tarde em que você deixou tudo de lado pra me fazer serenata do outro lado da linha, pra cantar no meu ouvido que o amor salva a gente da tempestade quando a gente perde o teto e se deixa chover por dentro.
A gente tava caminhando na praça e eu dizia umas coisas confusas, nem era medo nem nada, eu só tava tentando preparar o meu peito pra angústia de um grande amor perdido. E eu aprendi tanto contigo, meu bem, aprendi a ver o lado bom das coisas quando o mundo e as obrigações todas lá fora te arrancaram de mim. Aprendi que a gente não precisa de teto quando encontra abrigo no peito do outro. Que a gente não precisa tentar ser triste pra se sentir um pouco mais humano. Que a gente pode aprender a ver o lado bom das coisas mesmo que o mundo não seja tão bom assim com a gente. Mesmo que eu não possa olhar nos teus olhos e precise te escrever pra agradecer por ter feito parte da minha vida.