Eu não entendi que era uma despedida quando você chorou e disse que precisava de um tempo para entender o que sentia.

Não entendi que era uma despedida quando me ligou no meio da madrugada e, encharcado de bebida, disse que ainda precisava de mim.

Eu não entendi que era uma despedida quando me lembrei que uma semana antes você fazia planos de eternidade, e postava no Instagram fotos de nossa felicidade.

Não entendi que era uma despedida quando percebi que algumas peças não se encaixavam; que o sorriso bobo da nossa imaturidade não combinava com a seriedade do fim.

Eu não entendi que era uma despedida quando seu olhar desencontrou o meu, e pela primeira vez o seu semblante era de adeus.

Não entendi que era uma despedida quando você disse que eu precisava de alguém melhor, e eu entendia que não haveria ninguém melhor do que você.

Eu não entendi que era uma despedida quando os nós dos seus dedos se afrouxaram, e pouco a pouco você soltou minha mão para construir novos laços.

Não entendi que era uma despedida quando reli suas mensagens e revi nossas fotos. Quando imaginei que você remava comigo e não compreendi os caminhos que levaram ao fim.

Eu não entendi que era uma despedida quando adormeci e sonhei com a gente junto; quando despertei e me deparei com sua ausência.

Não entendi que era uma despedida quando nossas malas seguiram juntas, combinando as etiquetas com nossos nomes e a vontade que não se desviassem nunca.

Eu não entendi que era uma despedida quando meu coração permaneceu ligado ao seu e minha lucidez não compreendeu o fim. Quando meu caminho mostrou marcas das suas pegadas, e eu não soube mais que estrada seguir.

Não entendi que era uma despedida, mas agora entendo que preciso cuidar mais de mim; que mesmo doendo, a história de nós dois chegou ao fim; e que mesmo sendo difícil, é hora de prosseguir.

Eu não entendi que era uma despedida, mas agora quem deseja que você vá sou eu, entendendo que o tempo da negação deu lugar à aceitação. Tempo de seguir adiante com convicção e finalmente percebendo que qualquer falta de certeza já é o prenúncio de uma definitiva despedida.

Sou grata a você por ter se despedido de mim. Ainda que tenha doído, e que eu não tenha entendido, foi o impulso necessário para eu buscar meu destino. Entendendo que meu caminho não era o mesmo que o seu, e que a despedida foi o gesto necessário para a concretização de uma vida feliz.








Nasceu no sul de Minas, onde cresceu e aprendeu a se conhecer através da escrita. Formada em Odontologia, atualmente vive em Campinas com o marido e o filho. Dentista, mãe e também blogueira, divide seu tempo entre trabalhar num Centro de Saúde, andar de skate com Bernardo, tomar vinho com Luiz, bater papo com sua mãe e, entre um café e outro, escrever no blog. Em 2015 publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos os Afetos" e se prepara para novos desafios. O que vem por aí? Descubra favoritando o blog e seguindo nas outras redes sociais.