Até mesmo o que você não precisa saber há de chegar aos seus ouvidos…
Na verdade quero começar contando-lhes que, até mesmo o que você não precisa saber há de chegar aos seus ouvidos.
Quando se é jovem, há de se querer saber tudo; como se o mundo estivesse sob nosso domínio. Jovens são todos repórteres sensacionalistas e ser o último a saber sobre o que falaram ou fizeram é a morte social. Mas quando vem a maturidade, seria tão melhor desconhecer o que nossos sentidos não captaram.
Sábios eram os que diziam que, de fato, o que os olhos não veem o coração não sente; entretanto, não há quem sobreviva sem saber o que falam de ti pelas costas e o pior é que na maioria das vezes o que falam te surpreende pelo inesperado conteúdo.
O que fazer? Nada!
Quase ninguém é o que você pensa ser, e consequentemente não age como você imagina.
Ao se deparar com o susto e com a imensa discrepância entre o que o outro é e o que você pensou que fosse há apenas uma lição a aprender: foi você quem colocou expectativas demais, esperanças demais e que confundiu demais o que é seu com o que é daquele outro. Decepções são somente a descoberta do que é e a comparação disto com o que você achou que fosse.
Enxergamos através das nossas lentes emocionais e experienciais e por isso, quase tudo do que enxergamos é a projeção de como vemos o mundo. Cometemos um grande erro ao esquecermo-nos de que o outro, a todo instante se mostra, denuncia a si mesmo em pequenos gestos e em palavras que, o tempo, todo o condenam sobre seu caráter e sobre a forma desrespeitosa de agir.
Não. Não culpe o outro pelo que ele é e pela forma como age. Apenas aprenda a oxigenar sua mente e a desembaçar seus óculos.
Mesmo que a maturidade nos mostre que seria melhor não sabermos de certas verdades, elas estavam ali o tempo todo e que só agora você as enxergou.
Mesmo que a maturidade nos mostre que seria melhor não sabermos de certas verdades porque elas não nos servem para nada, o fato é que estas verdades estavam ali o tempo todo e que só agora você as enxergou – porque era o momento e porque você tem repertório para lidar com tudo isso. Por pior que se apresente uma verdade e por mais desnecessária que ela seja, ela não fala de você, ela fala do outro, como disse Freud em um de seus discursos.
Não há absolutamente nada a fazer quando nos decepcionamos ao descobrir o que outros pensam, como se referem e o que falam a nosso respeito a não ser aprender que sai de dentro de cada um apenas o que ele tem e que existe um grande número de pessoas perdidas em seu autoconceito utilizando-se de outras pessoas para se autoafirmar. É apenas um processo no qual fomos colocados por engano. Aquilo não somos nós, aquilo é o outro.
O agressor na imensa maioria das vezes foi agredido.
O homem que desrespeita foi e talvez ainda seja o homem desrespeitado.
A mulher incapaz de amar quase sempre foi uma menina nunca amada.
Receber afeto é coisa rara, dar então, nem lhes conto…
O que o outro fala vale nada. É só o que ele pensa, é só o que ele enxerga, é só o que ele pode oferecer. É só a manifestação de um caráter podre que está assim por ter sido mal formado. Há muita gente solta por aí que não aprendeu nada sobre respeito simplesmente porque nunca foi sequer respeitado.
A dignidade, o respeito, a consideração, a gratidão são palavras muito em alta como conceito, mas ainda pouco acessível à grande maioria.
Lição que fica? Criemos meninos e meninas que possam se referir uns aos outros com cordialidade, que possam enxergar no outro mais do que um simples objeto e que possam deixar marcas bonitas na vida dos que cruzarem seu caminho.
Se não tem nada de bom a dizer, cale-se.