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A Arte Como Expressão De Sentimentos E Catarse Emocional

“A arte exerce um importante papel de catarse na clinica terapêutica, pois vai de encontro com processos psicológicos profundos, dos nossos arquétipos em que simbolicamente confirmamos determinadas características e condições que diz respeito ao inconsciente coletivo da humanidade, tendo, portanto importância contributiva na formação da nossa personalidade individual. O ser humano se desenvolveu com a arte e sua saúde não poderia estar dissociada dela”.

Desde os primórdios da humanidade, a arte esteve presente nas cavernas, quando o homem ainda não tinha domínio completo da linguagem e da escrita, apresentando, portanto, uma importância crucial nos processos de desenvolvimento psíquico, filogenético, social e cultural da humanidade. Através da semiótica da arte rupestre o homem pré-histórico foi capaz de transmitir informações entre si, no intuito de garantir sua sobrevivência, além de ser recurso propiciador de vinculo social.

Esta arte estava interligada à economia, sendo também centro de comunicação que perpassava as relações sociais quando o homem ainda não havia desenvolvido nenhum código linguístico. Além da utilidade informativa e comunicativa, o homem desejava também deixar sua marca à posteridade, por exemplo, quando se pintavam as mãos e as anexava às paredes, deixando-se a marca indelével de uma possível tentativa de autoafirmação,ou seja, sua assinatura, e quem sabe uma possibilidade de eternidade.

Sendo assim, a linguagem pictórica fez e ainda continua fazendo parte do desenvolvimento evolutivo do homem enquanto espécie e de seu desenvolvimento psíquico enquanto individuo. Estes estágios evolutivos da humanidade são observados nos estágios de desenvolvimento psico-motor de nossas crianças, pois estas rabiscam e pintam antes da obtenção da escrita, inclusive nas paredes de suas casas, perpassando e revivenciando o seu desenvolvimento individual enquanto criança, mas também enquanto espécie durante o período evolutivo do homem.

Na condição de patrimônio da humanidade, e fazendo parte da formação psíquica evolutiva da espécie humana, a arte vai de encontro também com processos psicológicos mais profundos, dos nossos arquétipos em que simbolicamente confirmamos determinadas características e condições que diz respeito ao inconsciente coletivo, tendo também importância contributiva na formação da nossa personalidade individual.

A linguagem artística apresenta uma semiologia própria, pois comunica mais além que a linguagem falada ou escrita, pois se trata da comunicação das emoções, do inconsciente, da ordem do indizível.

Por este motivo, é utilizada com excelentes resultados nos processos terapêuticos, sendo instrumento de catarse, na expressão de sentimentos, pensamentos, idéias, fantasias, traumas e comportamentos emocionais mal elaborados, que impulsionam o indivíduo ao movimento de autoconhecimento, de cura e controle de alguma doença ou distúrbio.

Na clínica infantil, a arte é uma importante ferramenta pois viabiliza o vínculo terapêutico, já que a criança ainda não é detentora de um discurso linguístico bem estruturado para falar de sua queixa, dificultando, portanto, um vínculo terapêutico.

Igualmente importante são os casos traumáticos, onde em uma possível presença de dissociação psicológica, perde-se partes de um todo vivido, em que um discurso dissociado apresenta somente partes da cena do evento, pois determinados elementos, mais dolorosos, escapam à luz da consciência, configurando-se um importante mecanismo de defesa psíquico. Neste caso, a arte e principalmente a pintura, por não passar pelo crivo da racionalidade e por ter livre passagem sem nenhuma criticidade do intelecto, fazem emergir de maneira espontânea conteúdos psicológicos inconscientes que estavam latentes ou que não encontravam uma forma de comunicação de maneira tão precisa, visto que a linguagem escrita ou falada muitas vezes não dão conta do que se tenta exprimir, sendo a produção artística um excelente aparato na clinica.

Neste caso, a arte se mostra um importante recurso não só como meio de autoconhecimento, mas também de catarse, melhorando a qualidade de vida do paciente, promovendo sua inclusão social, aumentando sua autoestima e promovendo uma vida mais gratificante e feliz.

Por ser “alquímica”, transmuta sentimentos e emoções, materializa medos, receios, fantasias, indo de encontro a nossa própria essência, ao nosso eu, às nossas raízes genealógicas, históricas, sendo um importante recurso de auto transformação, pois como foi dito anteriormente, conteúdos que não eram da ordem da consciência passam a emergir de modo que possam proceder uma desconstrução e ressignificação de elementos que, embora não estavam à luz da consciência, não eram menos vivos e atuantes, muito pelo contrário.

Estes conteúdos que não estavam clarificados, trabalham de forma mais viva e forte, exatamente por não estar no âmbito da consciência e consequentemente dificultando o controle e elaboração deles. A partir da elucidação e conscientização destes, se pode trabalhar elementos da história de vida do paciente, tais como dificuldades relacionais, interpessoais, intrapessoais e familiares, bem como a ansiedade e o estresse do dia-a-dia, resgatando através da arte o potencial criativo e ressignificando vivências do paciente.

Psiconeurologicamente, através da produção artística, é dada ao paciente a oportunidade do desenvolvimento da sensibilidade e da capacidade intuitiva, visto que o exercício do hemisfério direito, a parte do cérebro responsável pela criatividade e intuição pode ser treinada e desenvolvida através de competências que, historicamente foram relegadas a escanteio pela cultura da racionalidade, do pragmatismo, da intelectualidade e do raciocínio lógico como preponderantes em uma sociedade ocidental capitalista, que visa a produtividade e o lucro.

Nos tratamentos psiquiátricos, a arte é uma ferramenta fundamental, pois os portadores de distúrbios mentais, taxados pela sociedade como incapacitados e improdutivos, e por consequência marginalizados, podem, através da produção artística trabalhar os processos de cura, atribuindo sentido e significado à sua existência, por sentirem-se úteis e produtores, ao mesmo tempo em que desenvolve uma atividade psicolúdica na manifestação íntegra de seu ser e no resgate da sua criança interior.

O resultado deste processo não só proporciona o alivio de sintomas, mas o trabalho ativo de conteúdos psíquicos subjacentes represados, encontrando oportunidade de ressignificação através de novas (re)leituras da realidade e da mudança de perspectiva neste tipo de abordagem psicoterapêutica.

Vale a pena salientar que a arte como ferramenta aplicada a clínica, é um processo atentamente guiado, onde a tríade terapeuta, paciente e arte estão intrinsecamente vinculados em um contexto com um fim específico de catarse, expressão do sofrimento e elaboração de sentimentos, na desconstrução de padrões de pensamentos e comportamentos que porventura contribuíram ao paciente o estado de adoecimento. Existe quebra de paradigmas de suas vivências de modo a construir novos padrões mais saudáveis, criando novas perspectivas e construindo uma nova realidade que possa proporcionar o encontro do eu do paciente enquanto essência e desta forma, buscando a harmonia e a saúde.

Importante ressaltar que a arte na clínica nunca deve ser considerada um passatempo ou simples relaxamento, pois como foi exposto acima ela remete a fins terapêuticos e resultados específicos.

Não existe contra-indicação para a utilização da arteterapia, podendo ser utilizada em qualquer abordagem da clínica individual, em psicoterapias grupais e em qualquer faixa etária, tais como o público infantil, adolescente, adulto e idoso. Abrange qualquer condição socioeconômica e grau de instrução, atendendo as mais diversas queixas, sejam de ordem física, psicológica ou psicossomática, dentre elas as doenças auto-imunes, a depressão, o Alzheimer, problemas neuropsicofísicos em geral.

Dentre as artes que participam dos processos de cura, podemos citar a arteterapia (desenhos, mandalas, pintura, escultura e trabalhos com argila), a musicoterapia (canto, instrumentos musicais), psicodrama (teatro) e a biodança. O tipo de procedimento a ser utilizado vai depender da história de vida do paciente, de sua queixa clínica, bem como de seus interesses, propensões e limitações. Cada caso é um caso único, onde se necessita realizar todo um procedimento personalizado para aquele paciente.

Pode-se utilizar uma mescla de recursos que a psicoterapia da arte oferece, sempre respeitando as limitações e escolha do paciente. Vale a pena salientar que, embora a Arteterapia ofereça recursos importantíssimos na clínica, ela é uma ferramenta que não substitui um tratamento psicológico aprofundado.

Abraços transmutadores.

Soraya Rodrigues

https://www.facebook.com/FechamentodeCicloeRenascimento/?fref=ts Soraya Rodrigues de Aragão é psicóloga, psicotraumatologista, escritora e palestrante. Realizou seus estudos acadêmicos na Unifor e Universidade de Roma. Equivalência do curso de Psicologia na Itália resultando em Mestrado. Especializou-se em Psicotraumatologia pela A.R.P. de Milão. Especializanda em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde - Universidad San Jorge (Madri) e Sociedad Española de Medicina Psicosomática y Psicoterapia. Sócia da Sociedade Italiana de Neuropsicofarmacologia e membro da Sociedade Italiana de Neuropsicologia. Autora do livro Fechamento de Ciclo e Renascimento: este é o momento de renovar a sua vida. Edições Vieira da Silva, Lisboa, 2016; e do Livro Digital: "Transtorno do Pânico: Sintomatologia, Diagnóstico, Tratamento, Prevenção e Psicoeducação. É autora do projeto «Consultoria Estratégica em Avaliação Emocional»

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