Assim como muitos eu passei uns bons anos da minha vida acreditando em coisas, palavras e em pessoas que nunca existiram. Demorei muito a perceber que meus olhos enxergavam às minhas projeções e não ao que era de fato.
Muitos filósofos questionam a qualidade de percepção que temos do mundo e do outro e então, o que dizer sobre as relações que imaginamos ter e que muitas vezes nos frustram porque aquilo ou aquele não era nada do que víamos, ou melhor, nada existiu.
Esta é a vida e ela segue sempre de forma a progredir. Sou otimista e ainda acredito que as relações possam se lapidar e se tornarem melhores ao longo da evolução humana apesar de tantos percalços. Na minha humilde opinião o ser humano nasceu para dar certo.
Os olhos bonitos enxergam beleza, o coração cheio de amor é capaz de sentir e de emanar afeto mesmo aos que se mostram pouco empáticos. Como já sabemos desde os tempos da mitologia grega, o amor é portador da cegueira porque talvez enxergue apenas a projeção do seu sentimento. Quem ama o feio, bonito lhe parece.
Muitas vezes nos preocupamos com essa mania de amar e de ver beleza em tudo, chegando ao ponto de achar que temos que aprimorar a razão e o senso de realidade. Muitos de nós somos levados a julgamento por acreditar demais nas pessoas, por não ver maldade, por sonhar e construir castelos no ar e por fugir de vez em quando para o mundo maravilhoso de cada um de nós.
Muitas vezes confundida com imaturidade, com excesso de inocência ou mesmo com pouca capacidade de observação, esta característica que nos faz ver beleza independente de ela existir é uma característica inata e bastante comum aos artistas. Artista é, antes de tudo, quem vê beleza no mundo e que então busca uma forma de expressá-la.
Os artistas amam, e amam demais. E é exatamente deste amor que nascem as músicas, os poemas, os quadros, as esculturas e toda a arte que embeleza este mundo. Foi do amor e da capacidade de ver e de sentir o amor que Vinicius escreveu seus sonetos, que Roberto e Erasmo compuseram suas canções, que Machado de Assis escreveu seus livros.
Não blasfeme nem se condene por ter visto amor onde não existia. Não se culpe por ter visto beleza onde só havia horror. Aquilo tudo há de ter sido o reflexo de seus sentimentos, há de ter sido a fé e a esperança que você talvez carregue pela vida e por todo ser da nossa espécie.
Continue insistindo. Um dia seus olhos hão de acertar e conseguir ver mais do que apenas suas emoções. Continue olhando para o lado bom da vida, mesmo diante dos mais difíceis e feios quadros, meso diante dos mais negros dias, mesmo diante das maiores decepções porque um dia a tudo irá mudar.
Aceite a verdade, mas não se renda ao caminho cruel que o outro escolheu. Respeite as diferenças que nos influenciam, mas não permita que a doença do outro te infecte. Abandone quem matou seus sonhos, mas não deixe de continuar sonhando.
Não deixe que ninguém neste mundo lhe mostre como agir, nem tampouco siga conselhos que falem de orgulho, de mágoa e de vingança.
Agradeça por conseguir ver o mundo sob as lentes do amor. Agradeça por ter conseguido a façanha de ter visto beleza em imagens e pessoas infelizes e secas como galhos mortos.
A vida é essencialmente uma escolha: escolha continuar vendo beleza e amor porque é exatamente isso que os outros irão enxergar em você.
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