Separados por uma tela, a nova sociedade virtual não alcança o outro, por isso, não consegue se colocar em seu lugar. Estamos vivendo o maior individualismo da história humana.
A falta da empatia, do toque físico, do acolhimento, do contato ocular e na ausência da presença física faz com que a pessoa não veja o outro, não o perceba, não note a presença do outro e, consequentemente, não se colquea no lugar dele.
A necessidade da felicidade como objetivo e não como consequência faz com que criemos um mundo irreal em que, para o outro, você é feliz, mas não para si mesmo. Esse mundo perfeito exposto na mídia social criou uma disputa onde um pensa que o outro está melhor que ele, que não precisa de si, então, é você que tem que correr para alcançá-lo.
A concorrência não é só resultado dessa sociedade virtual, mas, também, com o aumento da população e da globalização, a competição tornou-se mais acirrada. Isso acontece também devido ao acesso pluralizado em que basta ter um pouco de vontade para adquirir conhecimento. A concorrência resulta em duelo e isso cria um individualismo que,com o tempo, passa a ficar impregnado no indivíduo.
O individualismo está ligado também à falta da verdade, ou seja, não quero que o outro saiba minha verdade já que o que projeto na mídia social não é real, de verdade.
O incentivo ao amor próprio exagerado na era dos coachs motivacionais, que educam as pessoas a amarem tanto a si mesmo, faz com que elas não saibam diferenciar o que seria saudável dentro de um equilíbrio. Ama-se tanto a si mesmo ou promove-se tanto esse amor próprio que esquecemos o outro e tornamos o egoísmo um hábito.
Se colocar no lugar do outro afeta alguns dos comportamentos mais comuns dessa geração: dá preguiça se colocar no lugar do outro e falta tempo pra isso.
A capacidade de nos colocarmos na posição do outro advém da incapacidade que, por vezes, temos de anular a prioridade que damos a nós mesmos.
Quanto mais o indivíduo se afasta, mais prioridade dá a outros aspetos da vida, como o trabalho, por exemplo. De outra forma, quanto mais pessoas “sabem” sobre sua vida nas redes sociais, menos questão você faz de efetivamente estar com as pessoas, pois elas podem comprovar o contrário do que é exposto virtualmente.
Na era do virtual temos dificuldade em admitir que somos apenas humanos. Isso nos desliga do outro, nos fazendo viver cada um a sua realidade inventanda e estagnada apenas nas fotos das redes sociais. Temos vidas fictícias fragmentadas em momentos e apenas nos alegra o impacto que isso causa no outro. Um clique.
E qual seria a solução?
HUMILDADE – A palavra está em caps lock pois ela é crucial para que possamos ter uma vida melhor. Eu chamo de humildade natural cognitiva, que é uma humildade que vem de nossa natureza mesmo que ela tenha sido trabalhada ao longo da vida. Natural pois a artificial é percebida pelo cognitivo alheio e causa rejeição e é motivo de piada.
A humildade prevalece à compaixão, que é a necessidade de ouvir o outro. Quem não é humilde não respeita, não sente compaixão, não se identifica com o outro pois sempre se acha melhor que o outro.
A humildade é um modo de inteligência ativado onde o reconhecimento e, o prestar a atenção no outro, sugere ganho de conhecimento.
Tenho convicção de que os intelectuais aprimoram sua humildade até mesmo pela certeza de que isso reflete em coisas boas. Assim como assumem os erros e escutam o outro para que possam adquirir mais conhecimento.
Pensa nesta frase filosófica:
O silêncio causa dúvidas e enaltece o mistério, logo, ganhas respeito.
O silêncio é o ato de observar, que é o ato de aprender e também de se colocar no lugar do outro para que possa, não só aprender, mas para que possa não falhar. O silêncio causa reflexão sobre o assunto do outro e o assunto do outro ensina. Saber ouvir é o melhor meio para o conhecimento cognitivo e nos salva do individualismo.
EGOÍSMO – Não podemos ceder ao egoísmo proporcionado pela sociedade atual. Devemos nos manter num ponto de equilíbrio e viver a nossa vida dando e recebendo atenção em partes iguais. O egoísmo não deve ser algo que vemos como natural; não podemos deixar que se torne um hábito. Ser egoísta é ser só.
Fazemos o que o mundo manda, mas só pensamos em nós mesmos. Não temos ideia própria apesar de só pensarmos em nós mesmos.
Atingimos a plenitude da felicidade quando não persamos nela como uma obrigação e, sim, uma consequência.
Experimente, ao ouvir do seu amigo ou parceiro “estou cansado” não responder “eu também”.
Interesse-se pelo motivo do seu cansaço pois você pode ser útil ao outro e a utilidade causa satisfação e essa o deixa feliz.
Ser útil e somar faz a vida fazer sentido.
Mesmo que a pessoa não tenha nunca nada a dizer. Tenha paciência, ouça e depois fale e comprove suas teorias.
Perceba que, quando o sistema da empresa cai ou a rede social está fora do ar, todos parecem emergir em uma grande inércia, tornando-se atados e sem saber o que fazer. Utilize esse momento para interagir e se preocupar com o outro, que, com certeza, sua mente vai se abrir para solucionar alguns dos seus problemas no trabalho ou na vida.
*texto de Fabiano de Abreu – Doutor e Mestre em Psicologia da Saúde pela Université Libre des Sciences de l’Homme de Paris; Doutor e Mestre em Ciências da Saúde na área de Psicologia e Neurociência pela Emil Brunner World University;Mestre em psicanálise pelo Instituto e Faculdade Gaio,Unesco; Pós-Graduação em Neuropsicologia pela Cognos de Portugal;Três Pós-Graduações em neurociência,cognitiva, infantil, aprendizagem pela Faveni; Especialização em propriedade elétrica dos Neurônios em Harvard;Especialista em Nutrição Clínica pela TrainingHouse de Portugal.Neurocientista, Neuropsicólogo,Psicólogo,Psicanalista, Jornalista e Filósofo integrante da SPN – Sociedade Portuguesa de Neurociências – 814, da SBNEC – Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento – 6028488 e da FENS – Federation of European Neuroscience Societies-PT30079.
E-mail: deabreu.fabiano@gmail.com
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