Por: Daniel Bovolento
Não consegui o emprego dos meus sonhos e muito menos o apartamento decorado que eu esperava ter. Mal consigo me organizar para viajar e conheci menos países do que gostaria de ter conhecido. Minha vida é uma bagunça, meu quarto é uma bagunça e eu passo mais de 12 horas por dia trabalhando, enquanto me sinto na obrigação de tentar ter uma vida saudável, passear com o cachorro, fazer exercícios físicos contra o sedentarismo, discutir política e me mostrar integrado aos últimos acontecimentos do mundo e do meu país. Mal sobra tempo para fazer nada.
Meus relacionamentos têm inícios mais rasos que piscininhas naturais formadas por ondas altas na areia de alguns litorais. Raramente passam do meio, estagnam nessa coisa louca das grandes cidades e se perdem nas prioridades que tento elencar enquanto passa o tempo. Desisti de voltar ao teatro porque dizem que eu já deveria saber sapatear, cantar, atuar e dançar antes da minha primeira peça, caso contrário, não entro nem na concorrência. Cada vez me sinto mais velho para tentar algo novo, já que eu deveria ter, supostamente, conseguido tudo aos vinte e poucos anos.
Não sei se essa pressão foi algo criado pela minha geração ou se já existia antes a ideia de que temos que ser jovens bem sucedidos, decididos e cheios de certeza quanto a vida aos vinte e poucos. Observo nascerem crises e mais crises de ansiedade e identidade em mim e nos meus amigos, com uma cobrança surreal pelo ideal de sucesso que criamos. Não nos basta seguir degraus escada acima de acordo com o tempo, desejamos super-vitórias que condizem com os superpoderes que disseram que a gente tinha.
Mas, por mais afobados que sejamos, vejo crescer também uma leva de gente que tem feito coisas melhores cada vez mais cedo. O problema é que temos uma mania grande de comparar nossos feitos com os de pessoas da nossa idade, e daí vemos um astro do rock que ganha milhares aos 20 anos, uma super blogueira que estampa capas de revista aos 21, um empresário que emprega milhares aos 22. Olhamos para nossas vidas comuns, nossas fotos comuns, nosso “lifestyle” comum e nos denominamos ordinários. Não é falta de autoestima, é que cometemos o grande erro de não pensar nos caminhos que nossos modelos tiveram. É que analisamos o resultado direto mostrado pra gente, sem nem pensar em como nossas vidas foram diferentes em termos de escolhas e privilégios.
Além disso, criamos concepções irreais de como deveria ser nosso futuro imediato. Queremos estabilidade, tempo para viajar, reconhecimento na carreira, qualidade de vida, relacionamentos profundos, um cachorro que nos ame, vizinhos que não façam barulho depois das 22h e motoristas de ônibus que parem para a gente quando estamos atrasados sem perceber quão sonhadores nós somos ao desejar isso. Nossa vida adulta começa lá pelos 20 anos, como é que a gente já quer ser recebido com tantas glórias sem nem lutar um pouco para que elas cheguem?
É necessário que a gente desacelere. Que a gente entenda que essas cobranças são frutos de uma sociedade que nos criou achando que devemos fazer tudo cedo demais e que o sucesso vem fácil pra quem tenta. Não vem, mas isso não significa que devamos deixar de tentar. Pelo contrário, devemos tentar cada vez mais. Devemos começar mais vezes, devemos percorrer os objetivos que nos frustram por não termos conseguido alcançá-los de primeira. Eu, por exemplo, estou vendo condições para voltar às aulas de teatro, mesmo sendo desbancado por algum desses prodígios que já sabem fazer piruetas. E espero que você também repense sobre as coisas que ainda não aconteceram. Talvez elas só demorem mais um pouco para acontecer, talvez você só precise cobrar menos de você mesmo e confiar mais um pouco. É o que eu tenho tentado fazer.
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