Viver em sociedade impõe aos indivíduos padrões morais e sociais que devem ser seguidos e aceitos por todos.
A loucura foi classificada como todo comportamento fora dos padrões de cada época, dificultando de se avaliar corretamente o contexto da “loucura”.
Assim, de tempo em tempo, suas formas, produção, evolução, e tratamento foram se modificando, da antiguidade clássica à modernidade.
Ela era vista com preconceito! Apartavam os “doentes mentais” da convivência social, proibindo a eles até de entrar em Igrejas, bem como se fazia com os leprosos e doentes venéreos.
Aliás, os significados da loucura mudaram no decorrer da história.
O filósofo Friedrich Hegel (1770 – 1831) afirmou: “A loucura é um simples desarranjo, uma simples contradição no interior da razão, que continua presente”.
Mas foi com base no pensamento do teórico social Michel Foucault (1926 –1984) – que conseguimos entender – o termo “loucura”, que era usado para “manicomizar” alguém, como um paradigma que define a identidade de uma pessoa ou de um grupo.
Hoje, a loucura é considerada a perda do senso da realidade e a perda do juízo, onde os pacientes estão vivendo num mundo de alucinação e fantasia.
Todavia é uma situação que pode ser amenizada e sem a necessidade de “manicomização”, pois há fármacos e terapias para os transtornos psiquiátricos, que mesmo assim, as enfermidades mentais são estigmatizadas.
No entanto, nem todo adoecer mental deve ser avaliado como loucura, porque falar sobre loucura não é a mesma coisa que abordar os modos de estruturação psíquica, uma vez que a psicanálise não desqualifica os pacientes neuróticos.
Então, as neuroses, a depressão, a síndrome do pânico, etc., não são classificadas como “loucura”.
>A contemporaneidade tem empurrado inúmeros indivíduos na busca desenfreada pelo sentido da própria existência.
Eles não conseguem estabelecer relações estáveis e autênticas, o que os levam a tomar posturas que não estão preparados para assumir, trazendo mais dúvidas e conflitos interiores, que produzem uma nova “insanidade.”
Esses estímulos seguem o desejo doentio por dinheiro, sucesso e sexo fácil, que se refugiam na hiperconectividade, nas drogas, no álcool e nas superstições, não impedindo os sujeitos de mergulhar em mais aflição e cansaço, são tratáveis com novos medicamentos, eliminando os sintomas, mas não suas causas.
Isso nasce da crença de que existe uma fórmula mágica para curar angústias e decepções.
O que é derivado de uma sociedade hipercompetitiva, que nos ensina a se tornar amigo de todos, a se casar com a pessoa ideal, a ter a obrigação de ser feliz, com a única intenção de levar vantagem em tudo. Contudo, se nada disso der certo, vem à desilusão, que pode levar à insanidade.
Por conseguinte, a loucura caracterizada por Hegel e Foucault, da mesma forma que as premissas da psicanálise nos apontam que a sociedade atual está provocando alterações psicogênicas e socioeconômicas, que têm arrastado muitas pessoas ao adoecimento psicossocial, produzindo um novo tipo de “loucura.”
Enfim, Friedrich Nietzsche (1844 –1900) tem uma definição que também abarca o momento que vivemos hoje:
“Nos indivíduos, a loucura é algo raro – mas nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas, é regra”.
Esse genial pensador teve uma vida de ambiguidades, que refletiu na sua morte, causada por paralisia geral do insano, um diagnóstico do século 19, que hoje é questionável do ponto de vista científico.
Foto: Al Drago/Bloomberg
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