Elas estão em falta. São raras, cada vez mais valiosas.
Quem tem uma, duas, três por perto, cuida. Mas cuida bem. Merecem o maior cuidado as pessoas que escolhem o que vão dizer, não por terem o que omitir, não porque querem agradar ou por falsidade, não por falsa inibição ou ausência de franqueza. Elas são assim porque respeitam as outras.
Porque pensam antes de falar, porque prezam quem vai ouvir. Essa gente deve ser preservada, sim.
Bom senso mesmo, bom senso que não se anuncia mas se pratica anda escasso, bissexto como a honestidade que anda junto à gentileza.
É que pouca coisa no mundo é mais doce e mais terna que a franqueza, a expressão generosa de uma alma boa, a sinceridade, essa coisa preciosa que os imbecis deram de confundir com grosseria e má educação.
Imagina! Só mesmo uma mula há de afirmar que ser sincero é o mesmo que distribuir coices por aí.
Gente gentil de verdade fala olhando no olho e olha bem o que fala. Não sai espalhando palpite. Não enfia o bedelho onde não é chamada.
Valoriza as próprias opiniões a ponto de pensar antes de panfletá-las aqui e ali.
Tem respeito pelo ouvido e a paciência do outro.
Gente gentil vai rareando faz tempo.
Essa gente que pede licença antes de entrar, que prefere ouvir a falar, que diz o que pensa mas o faz com apreço e delicadeza merece ser cuidada como flor sensível, sob o risco de ser pisoteada pelos gênios competitivos que transformaram a vida numa corrida de cavalos.
E a vida não é isso, não. Não precisa ser.
De violento e incontornável basta o tempo.
A vida há de ser mais leve e mais feliz quanto mais surgirem pessoas que falem olhando no olho e olhem bem o que falam.
Gente que toma o cuidado de tratar o outro com respeito e com carinho.
Que gosta de bicho e gosta de gente.
E que não tem medo de dizer o que pensa, mas tem a decência de pensar no que diz.