Sempre me causa estranheza ver as pessoas declararem seu imenso amor por outra pessoa, mas no final das contas quererem mudar tudo nela, reclamar de cada atitude e brigar por tudo o que a pessoa faz que é contrário ao que ela própria faria. Amor antes de tudo é aceitação do outro, é aceitação de suas manias, suas formas de pensar e sua essência. É aceitar que essa pessoa veio de outro lar, de outra criação e que com a mais absoluta certeza não será uma cópia sua e não fará coisas somente para te agradar, e ainda bem, pois podemos aprender muito com isso.

Relacionamentos devem fazer a gente crescer e é incrível quando isso acontece, é ótimo quando percebemos que o outro considera algo que dizemos, percebe que sua opinião é importante e consiga rever posturas diante de determinadas situações e posturas antigas, mas impor nossas ideias ao outro por achar que elas são sempre melhores, não gera nada bom para um relacionamento.

Estar com alguém porque quer, porque escolheu, torna mais fácil com que aceitemos seus defeitos, ou pelo menos o que parece um defeito ao nosso olhar, torna mais fácil o “apesar de”, porque reconhecemos que essa pessoa é um ser humano que além de passível de erros e complicações, é passível de mudanças e reflexões. Acolher o outro com as suas qualidades e defeitos, é uma forma de permitir que ele faça parte da nossa vida, é uma forma de boas vindas e também um jeito de deixar que nós sejamos bagunçados por esse outro. Pessoas que se permitem serem bagunçadas e modificadas por outro, tendem a ter relacionamentos amorosos mais satisfatórios.

Temos que pensar se muitas das vezes que batemos o pé para impor nossas vontades, não estamos apenas sendo mimados e controladores. Querer que o outro faça tudo à sua maneira é uma das formas de controle que podem acabar passando desapercebidas no dia a dia dos relacionamentos, por  chegarem de forma sutil, ainda mais quando quem é controlado, acaba mostrando imensa boa vontade e complacência com o controlador, aceitando toda forma de manipulação que o outro institui, o que as vezes faz com que quem tenta manipular e controlar nem sequer perceba que está fazendo isso, mas experimente uma certa felicidade quando consegue “ganhar” todas as discussões.

O ganhar fica entre aspas, porque um relacionamento que é preciso ter essa sensação de vitória nas discussões, não me parece muito saudável, e quando ganhamos uma discussão, podemos estar perdendo tantas outras coisas.

Às vezes, não é culpa do controlador, pelo menos não conscientemente, pois foi assim que ele aprendeu e só assim sabe fazer, repetindo comportamentos aprendidos durante a vida. Para muitos, relacionamentos são verdadeiros campos de guerra, no qual o único objetivo é derrotar o outro com os melhores argumentos.

E antes que alguém questione o que estou chamando aqui de aceitação e diga que não somos obrigados a aceitar abusos de qualquer tipo, digo que concordo totalmente, mas o texto que escrevo, é sobre relacionamentos de amor; o amor pelo outro e também o amor próprio, e é óbvio que escrevo aqui das pequenas tarefas do dia a dia em um relacionamento que muitas vezes poderia ser saudável, mas não é por pura birra. Questões de abuso, de desrespeito, não entram nesse texto e são temas muito mais complexos.

Quem não sabe aceitar as falhas, talvez também não consiga aproveitar as grandes virtudes. O que me faz lembrar de uma frase atribuída a Marilyn Monroe: “Se você não sabe lidar com o meu pior, com certeza não merece o meu melhor”.

 








Adriana Cardoso Biem - autora Psicóloga Clínica, especialista em Gestalt-Terapia CRP 06/80681 Formada pela Universidade São Marcos, especialista pelo Instituto Sedes Sapientiae Atende em Alphaville (Barueri/SP) e Granja Viana (Cotia/SP) Contatos: [email protected] www.facebook.com/adrianabiempsicologa @adrianabiempsi (Instagram) www.adrianabiempsicologa.com.br