Amor mesmo, amor pra valer, é muito difícil. Porque dá trabalho. Porque necessita de tempo. Porque requer entrega, comprometimento, formação de vínculos. Exige renúncia e significa escolher a mesma pessoa todos os dias. Se ninguém te contou, eu conto: amor é afeto, mas também decisão.
Que atire a primeira pedra quem nunca sonhou com um amor desses de cinema, correndo de mãos dadas na chuva, tomando vinho em frente à lareira, compartilhando planos, gostos, viagens, filhos… com química, afeto, saliva, música de fundo e foto tipo Tumblr no Instagram.
Atire a primeira pedra quem nunca imaginou que o amor pudesse ser cem por cento encontro, romance, fogos de artifício e a solução de todas as nossas angústias, carências, dificuldades e incompletudes.
Atire a primeira pedra quem nunca teve pressa de amar e ser amado, de junto ao seu par ser um casalzão desses que a gente olha e sorri, de adquirir a segurança de nunca ser decepcionado ou incompreendido, de nunca conviver com a imperfeição.
Nos anos 80 Herbert Vianna já alertava:
“A vida não é filme você não entendeu”, mas ainda assim a gente seguiu, insistindo na crença de que para amar, bastaria ter afeto. Ninguém nos contou que amor sem comprometimento não dura.
Amor é afeto, mas também disposição para dar certo.
A verdade é que amor mesmo, amor pra valer, é muito difícil. Porque dá trabalho. Porque necessita de tempo. Porque requer entrega, comprometimento, formação de vínculos. Exige renúncia e significa escolher a mesma pessoa todos os dias. Amor mesmo, amor pra valer, é para os fortes e corajosos.
Se ninguém te contou, eu conto: amar dá trabalho. Construir uma relação com vínculos duradouros implica não somente em acolher o brilho no olhar e o sorriso ao acordar, mas em se comprometer igualmente com as dificuldades e noites sem dormir da relação.
Se ninguém te contou, eu conto: amar não é para preguiçosos. Pois amar é uma tarefa trabalhosa e algumas vezes cansativa. Pode exigir algumas renúncias e adiamento de vontades e planos. Amar não é para individualistas, egoístas e comodistas. Amar desassossega.
Amar não é simplesmente ter o outro à nossa disposição, mas também priorizar o outro em nossa vida.
Não é somente ter alguém interessado em nós, em nossas qualidades e conquistas, mas também nos interessarmos verdadeiramente pela vida do outro, saindo do nosso mundinho, aceitando as diferenças, acolhendo a discordância como parte de nosso universo também.
Amar é uma escolha, e às vezes temos que colocar essa escolha acima de todos as outras.
Vivemos uma época em que o maior patrimônio é o tempo. Porém, muitas vezes desperdiçamos esse bem precioso e declaramos que não temos tempo suficiente para investir construindo vínculos.
Vivemos o paradoxo de desejar um amor desses de cinema e não querer empregar nossa energia na construção dessa relação.
Almejamos ter alguém com quem compartilhar nossas alegrias e angústias, mas não estamos dispostos a priorizar esse amor.
Aspiramos por alguém que goste de nós verdadeiramente, mas nunca dedicamos um tempo para conhecer realmente o outro.
Numa sociedade rápida como a nossa, nem sempre estamos dispostos a doar nosso tempo construindo laços com alguém.
A andar lado a lado não somente quando todas as peças se encaixam, mas também quando faltam respostas e significado.
A permanecer não somente quando há beleza, mas também quando é preciso suportar a aridez e a severidade.
Amor é afeto, mas também decisão.
Investimento. Construção. Empenho. Disposição. Interesse genuíno no outro. Prioridade. Vínculo. Vontade. Escolha.
Você escolhe o outro e o relacionamento todos os dias, e empenha-se diariamente para fazer dar certo. E ao final, descobre que conseguiu ter um amor desses de cinema, mas não foi de graça.
E isso é igualmente bonito, pois a vida também acontece nos bastidores, quando as luzes se acendem e a plateia se despede.
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