Quando eu estou no fundo do poço, aproveito para descansar. Repensar em como vim parar aqui. Ressignificar a importância de coisas tão fundamentais para mim e a substituição de – até então – coisas insubstituíveis.

Tiro minha mochila de culpa das costas, abro-a, guardo de volta as minhas culpas e distribuo as outras, para quem, de fato, elas pertencem.

Houve um tempo em que eu carregava sozinha, e cada pessoa que se aproximava e me oferecia uma culpa, eu pegava. Era uma acumuladora de culpas ilegítimas.

Quando estou aqui embaixo, posso ver nitidamente quanta profundidade há em mim. Calculo minha rota de subida e busco olhar para tudo com um olhar novo, afinal, eu já estive aqui antes, com um “eu” anterior. Mas meu EU de agora, é a primeira vez que desce aqui, então as escapatórias antigas já não me servem mais. A autoanálise é, então, inevitável.

Já não tenho tanto medo. Aproveito o escuro para ver a luzinha distante lá em cima. Os vagalumes que dançam e a lâmpada da fé que se mantém acesa iluminando a minha alma.

Alguém pode nos atirar no fundo do poço, mas, sair dele, é uma tarefa que só compete a nós mesmos.

Não adianta me debater, vou me machucar. Não adianta gritar, ninguém vai me tirar daqui,a não ser eu; só escuto minha voz, de volta, ecoando.

O silêncio já me foi ensurdecedor um dia. Hoje, é melodia. A solidão já foi meu carrasco cruel. Hoje, nós nos damos bem. O desespero já fez com que eu enchesse meu poço de lágrimas e me afogasse. Hoje, quando ele vem chegando, eu o enfrento e lhe digo: “Você não pode me causar mais mal. Eu não deixo.”

Precisamos aprender a nos blindar, essa pode ser a sua primeira vez no fundo do poço, mas provavelmente não será a única. Descer faz parte da vida. O que não podemos jamais é nos acomodar.

Você pensa que é um fracassado, que o fundo do poço é o fim de tudo. Mas vou lhe contar uma coisa: Só desce aqui quem é muito forte, os fracos nem têm tanta profundidade em si, passarão a vida no raso, no confortável, na superfície.

Ninguém mais vem aqui embaixo. E nós até esquecemos como é a vida lá fora, com Sol a pino e céu azul. Embora eu saiba que algumas poucas pessoas estão me esperando, amorosa e pacientemente do lado de fora, quando eu voltar à superfície. Essas pessoas são as únicas que valem a pena lutar e levar para a vida toda.

Não se surpreenda se quem você espera não estiver lá em cima pronto para lhe dar a mão. Quando estamos no fundo do poço, muita gente se vai… só fica quem muito nos ama.

O fundo do poço está cheio de verdades. Aquelas verdades que nós mandamos para lá, querendo que elas sumissem. Mas elas ficam ali… criam limo, têm espinhos, machucam; algumas se preservam intactas; outras apodrecem. Mas, quando chegamos aqui embaixo, é impossível não esbarrarmos nelas. Se não organizarmos, elas nos engolem, como areia movediça.

Não foque no fundo do poço. Não desista, não se acomode aqui. Foque na subida.

A vida brilha lá em cima, quem o ama está de abraços abertos te esperando e novas histórias, aguardando para serem vividas.

Você não está sozinho. Deus está lhe jogando a corda. A corda da FÉ. Do amor. Agarre-se a ela. Confie. Venha respirar ar puro aqui em cima.








"Mãe, mulher, geminiana, maluca e uma eterna sonhadora!"