Sim, eu sou dessa gente que pega amor fácil. Pego mesmo. Aviso logo. Não é de propósito, não é por mal. Bobeou, estou gostando. Bem certo é que daqui a pouquinho eu posso gostar de você. Então, se tiver alguma ressalva, contraindicação, alergia e essas coisas, é melhor tomar distância.
Disfarce. Não olhe agora, mas tem um sentimento sapeca chegando ali. Vem cheio de coisas, carinhos, ternuras, cuidados. Pronto, eu peguei amor. Pego amor em gente, bicho, objeto, filme, série, lembrança, gesto. Qualquer coisa.
Agora mesmo, estou cheio de amores por um semáforo perto da minha casa que sempre acende o vermelho quando eu me aproximo. Sempre! Penso aqui comigo que ele tem um fraco por minha companhia. E eu aprendi a gostar dele. Se amanhã, quando eu passar, ele estiver verde, vou lhe dar um tchau e dizer: “até amanhã, meu amigo. Até amanhã…”.
Você pode achar que isso é carência, apego, essas coisas. Pode dizer! Eu não fico chateado, não. Vou até gostar da sua perspicácia, do seu empenho em entender e nomear o sentimento alheio. Mas eu prefiro achar que isso é só jeito de ser. E você sabe: jeito de ser, cada um tem o seu.
É que eu não vejo sentido em me aproximar de alguém por quem eu não posso sentir amor, sabe? Qual é a graça? Se entre nós não existe a possibilidade de haver apreço, eu deixo de lado e sigo em frente. Tudo bem, concordo que vez ou outra todo mundo é obrigado, por força das circunstâncias, a suportar quem não quer. Colegas de trabalho, cunhados, chefes, sogros. Tem sempre alguém que, apesar do seu esforço, não vai com a sua cara e você não pode simplesmente descartar. Sempre tem. Mas que seja a exceção. Onde couber amor, melhor! Porque com amor é mais gostoso.
Tantos gênios por aí tão cheios de teses! Já ouvi que quem pega amor fácil é gente grudenta, dependente. Para quem é afeito a confundir amor com grude e dependência, pode ser. Eu, não. Outra tese dá conta de que aqueles que se apegam com facilidade também desapegam sem mais. Pode ser. Mas e daí? Quem disse que o amor tem de durar para sempre? Qual é a duração ideal de uma relação amorosa? Ninguém sabe!
Além do mais, tem amor de todo jeito. Amor, amorzinho, amorzão. Amor de pai e mãe, amor de filho, amor de irmão, amor de amigo, amor de amante, amor de tudo quanto é jeito. Que história é essa de decretar que o amor só pode ser assim ou assado e se for diferente não é de verdade?
Pegar amor fácil não é coisa de gente volúvel e insegura, não. É coisa de gente. E gente precisa de amor. Eu preciso. Careço querer bem a mim mesmo, ao outro e ao que mais merecer um sentimento de apreço. Se não merece, eu não quero. Descarto. Afinal, pegar amor não é ter posse. Amar alguém não é trancafiá-lo para longe dos olhos alheios. É só um jeito de deixar a vida mais bonita.
Antes o mundo repleto de seres amorosos, ansiando por distribuir afeto a quem puder, do que entupido de almas aborrecidas, malquerendo e odiando quem passar perto. Se você discorda, respeito a sua opinião. Se concorda, vem já me dar um abraço. Mas cuidado: eu pego amor fácil.