Nas brincadeiras de rua, aprendíamos a viver! A ganhar e a perder, a quebrar o braço e pedir aos colegas para autografar o gesso depois, a fazer concessões, a reclamar e fazer as pazes.

Os chinelos eram partes pouco importantes, visto que agora damos tanto valor aos nossos sapatos!

Descalças, com os pés encardidos, voltávamos para casa, sujas e suadas. Exaustas! Gastávamos nossa energia vivendo o mundo lá fora: real e ainda primário.

As canelinhas magras e acinzentadas corriam pra lá e pra cá. Ora se debruçavam no asfalto para fazer um desenho, ora iam às alturas fugindo da bola arremessada pelas amigas.

A rotina daqueles tempos não entediava ninguém: chegavam da escola, almoçavam, e as mais preguiçosas, ainda de uniforme escolar, assistiam um pouco de TV!

Lá pelas 15h desciam a caminho da rua sem saída.

Ali naquele pedaço de chão, amarravam uma corda e simulavam um time de vôlei, riscavam no asfalto o jogo da velha com um pedaço de argila, competiam para saber quem conseguiria fazer mais embaixadinhas, disputavam queimada, jogavam Bete, andavam de bicicleta, se arriscavam nos patins, sentavam-se no paralelepípedo para bater um papo sobre a escola, os pais e os primeiros amores.

_Vamos brincar de quê?

Uma fazia a pergunta, outras respondiam, e sem delongas, chegavam a uma resposta.

_ E se a gente fosse à sorveteria disputar quem toma mais bola de sorvete?

E lá iam, empoleiradas na pequena Caloi Cecizinha da prima, se empantufarem na sorveteria.

Nas brincadeiras de rua, aprendíamos a viver!

A ganhar e a perder, a quebrar o braço e pedir aos colegas para autografar o gesso depois, a fazer concessões, a reclamar e fazer as pazes.

Os chinelos eram partes pouco importantes, visto que agora damos tanto valor aos nossos sapatos! Descalças, com os pés encardidos, voltávamos para casa, sujas e suadas.

Exaustas! Gastávamos nossa energia vivendo o mundo lá fora: real e ainda primário.

Naquela escola da vida, os desafios infantis eram ingênuas representações do futuro.

Nos perdoávamos com sorrisos, nos aceitávamos nas brincadeiras, disputávamos o quem perde, ganha, sem prejuízo moral.

O sol queimava nossa pele, sem protetor solar, e a enxurrada lavava nossos pés.

Fomos a última geração de crianças sem internet, desprovidas de smartphones, tínhamos cadernos de enquetes para saber as preferências dos amigos, sentávamos na porta de casa sem selfies para registrar.

Colecionamos papeis de carta, escrevíamos bilhetinhos à mão para os amigos rasgando a última página do caderno e transcrevíamos a nossa música preferida apertando o botão Pause do toca-fitas.

Isso fez de nós uma geração privilegiada? A última que viveu a infância sem internet?

Não há sim ou não como resposta.

O que faz a infância ser uma página feliz em nossas vidas se relaciona às conexões humanas que estabelecemos, a segurança que sentimos no ambiente que chamamos de lar, ter acesso àquilo que nos permita dignidade!

Oportunidades que estão além da tela de um celular. Mas, verdade seja dita, olho no olho ainda é bem melhor que câmera de 13 mega pixels!








Jornalista, mineira e amante de uma boa prosa! Cris Mendonça escreve há mais de dez anos crônicas, contos e artigos sobre o nosso cotidiano, ao mesmo tempo tão simples e tão rico, sobre nossas relações e memórias afetivas, sobre humor e comportamento. Dicas de livros, filmes e séries também estão na pauta positiva da Cris.