Poderíamos falar de vários tipos de criação, de educar e transmitir valores, e, mesmo sendo verdade que ninguém vem ao mundo sabendo como criar uma criança para que ela seja feliz no dia de amanhã, todo progenitor sabe que a base para tudo isso está no amor.
Entretanto, o problema reside precisamente no modo como essas pessoas entendem a palavra “amor”. Amar um filho significa protegê-lo de todo o mal e prendê-lo para sempre no interior de uma bolha?
Amar um filho é censurar tudo o que ele faz, diz ou escolhe, com a ideia de conseguir que ele siga o caminho que o pai considera aceitável para ele?
Mães tóxicas, pais autoritários… Estilos educativos que, longe de propiciar o crescimento pessoal, a autonomia e conseguir um vínculo saudável com os filhos, os destroem em muitos casos.
E o que podemos dizer das mães tóxicas, que manipulam e tecem suas estreitas teias com o fim de satisfazer suas próprias necessidades, de impedir que a criança saia de sua zona de conforto… Sem dúvidas, todos nós sabemos identificar estes estilos de criações tóxicas.
As experiências da infância são marcas impressas em nosso cérebro, são falhas da falta da compreensão, abismos de insegurança e lembranças, muitas vezes, carregadas de ódio que determinarão grande parte da vida adulta.
Falemos hoje neste espaço sobre a educação prejudicial, e de como ela pode se refletir no cérebro das crianças.
O estresse não é um estado que caracteriza apenas a nossa vida adulta. Um recém nascido que não é atendido quando chora sofre estresse, um bebê que não recebe carícias e afeto sofre estresse.
Mas o que acontece no caso de um estilo de criação influenciado por uma mãe tóxica, por um pai tóxico ou por progenitores autoritários?
– A criança é diariamente submetida a uma forte pressão. Sabe que cada de seus passos, de suas palavras ou escolhas serão analisados e, até mesmo, censurados. É submetido a um estado contínuo de insegurança que acaba por mergulhá-lo em um poço de estresse e ansiedade.
– Além disso, frequentemente a criança frequentemente se vê na complexa situação de querer se livrar dessa mãe tóxica que vigia cada coisa que ela faz, que dita o que deve ser feito. No entanto, a ideia de sair dessa zona de influência, dessa zona de conforto, também causa medo.
– Teme que qualquer desafio ao pai autoritário ou à mãe tóxica, tenha sérias consequências. Teme a punição, e teme também “decepcionar” os pais. Tudo isso gera estresse.
– As crianças submetidas ao estresse desde muito pequenas, até a chegada da adolescência, mostram níveis muito elevados de cortisol, adrenalina e noradrenalina.
– Estes hormônios e neurotransmissores fazem com que existam pequenas alterações em estruturas como o hipocampo, a amígdala e o lóbulo frontal.
– O que isso significa? Como isso se traduz a nível comportamental ou emocional? Há deficits na memório de trabalho, ou seja, na habilidade de resolução de problemas.
– O hipocampo, por exemplo, está relacionado com as emoções e a memória, enquanto o córtex frontal está relacionado com a tomada de decisões. Isso significa que crianças submetidas a um estresse muito elevado costumam ter certos problemas na hora de decidir coisas, de resolver situações problemáticas, de manter um equilíbrio interior e um autocontrole quando devem empreender uma tarefa ou resolver algum problema.
– Está claro que cada um disporá de suas próprias histórias pessoais e que não podemos generalizar estes dados. Entretanto, o estresse intenso na infância costuma estar relacionado com a insegurança e com a dificuldade a resolver ou sair de situações complicadas.
Um estilo de criação tóxica vai gerar, nas crianças, uma torrente convulsiva de emoções opostas. As mães tóxicas, por exemplo, frequentemente provocam relações de amor e ódio, ao mesmo tempo que uma complexa dependência, onde se alternam a necessidade, o medo, o ódio e o carinho.
Com um estilo educativo autoritário, o poder do medo é exercido, e isso provoca emoções muito negativas que marcam as crianças durante muito tempo. Embora seja verdade que, conforme crescemos, podemos reagir diante desta influência, isso é algo que sempre deixa sua “pegada” a nível cerebral.
Vejamos isso.
– As emoções mais negativas e mais intensas são, sem dúvidas, o medo e a raiva. Essas sensações são muito comuns em um estilo de criação tóxico, onde podem também existir momentos tranquilos. O mais curioso é que, em um cérebro infantil, as lembranças negativas costumam ter mais impacto.
– O medo e a raiva se concentram em uma estrutura primária chamada amígdala. Ela faz parte do sistema límbico e se situa na profundidade dos lóbulos temporais. Sua função é a de armazenar experiências emocionais, e estabelecer o chamado condicionamento do medo.
– A amígdala é quem nos ajuda também a estabelecer a memória de longo prazo, e consequentemente, todos aqueles fatos negativos que vivemos em nossa infância que nos produziram coisas ruins, medo ou raiva, são sensações que costumam ficar para a vida toda.
– A amígdala deixa uma marca em nós de forma que, quando chegamos à fase adulta, utilizamos muitas daquelas lembranças para reagir e evitar determinadas coisas, ou para continuarmos sendo prisioneiros dos mesmos medos. É, sem dúvidas, uma dimensão muito complexa.
Todos nós somos prisioneiros do passado, desses estilos de criação tóxica. No entanto, temos também o direito e o dever de sermos livres, de curar as feridas da infância e de continuar crescendo em plenitude.
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